VIII - Macarrão e pôr do sol

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Eu ainda estava morrendo de vergonha pelo dia anterior, mas Emma me prometeu que todo mundo já havia esquecido. Ela também disse que eu não era nenhum monstrinho, só precisava melhorar um pouco.

Não gostei de ouvir isso, mas talvez Emma tivesse razão. Talvez.

O clima estava agradável em Everwood, então deixei meu casaco guardado no armário do quarto. Não conseguia dizer meu armário. Ali, eu sentia que nada era meu. As vezes chegava a sentir que nem eu mesma me pertencia.

Saí do quarto e prendi um palavrão na garganta ao esbarrar em cheio com alguém relativamente pequeno. Olhando para baixo, reconheci Simon, que me observava com os grandes olhos azuis, parecendo envergonhado.

— Desculpe, Vênus. — ele disse, arrumando os óculos. — Eu não vi você, não vi mesmo.

Sorri fraco e dei de ombros, sem me importar de verdade. Adam havia mencionado algo sobre o problema de visão Simon, algo que os médicos passavam trabalho para entender, que deveria ser levado para fora de Everwood, para uma cidade maior. O único empecilho era o dinheiro para isso, cujo eles não tinham.

— Você pode cozinhar alguma coisa? — Simon pediu. — Eu não acho Adam...

Abri a boca para responder que não sabia nem fritar um ovo, mas acabei me contendo. Não sei se Simon fazia de propósito, mas os olhos dele davam a sensação de que ele sabia tudo sobre a sua vida. Ou que você deve ajudar ele, porque ele é um bonequinho.

Decidi que inventaria alguma coisa, nem que eu precisasse criar uma nova modalidade para a culinária, envolvendo comida muito queimada e umas rodelas de abacaxi. Por que não?

— Tudo bem. — eu disse, conseguindo um sorriso sincero dele. — Vou cozinhar para você.

Obviamente, aquilo foi uma péssima ideia.

Eu estava parada em frente a mesa, analisando criticamente as várias panelas espalhadas, nenhuma delas contendo alguma coisa. Havia um pacote de macarrão na mesa e uns bifes de hambúrguer. Também peguei facas, garfos e até colheres.

Porém, apenas depois de deixar tudo em cima da mesa, foi que eu percebi que não fazia ideia de como começar.

— Você precisa de ajuda? — Simon perguntou, franzindo a testa.

Rindo, eu balancei a mão no ar, tentando convencê-lo que não precisava se preocupar. Porque, para ser sincera, ele precisava, sim, se preocupar.

Segurei uma colher de forma desajeitada, mas isso pareceu uma vitória enorme para Simon, que ergueu os braços para o teto, como se tivesse um acordo silencioso com Deus.

— Você definitivamente não sabe o que está fazendo. — disse Adam.

Simon e eu olhamos para a porta. Adam estava encostado no batente da porta, com os braços cruzados e um sorrisinho que não deixava transparecer muitas emoções. Ele só parecia estar achando engraçado o fato de eu não saber nem segurar uma colher direito.

— Se segurar a colher assim vai acabar queimando a sua mão, Vênus. — Adam entrou na cozinha, dando uma risada fraca. — E talvez a cozinha também, mas é só um pequeno detalhe.

— Engraçado. — eu retruquei, devolvendo a colher ao lugar de antes. — Você é um verdadeiro comediante, Adam, devia investir no talento.

Adam deu de ombros e me afastou da mesa com o quadril, ele mesmo começando a tomar conta da situação na cozinha.

Nunca na minha vida eu havia visto um homem totalmente dedicado a cozinhar. Quando eu entrava na cozinha, quem estava comandando os fogões eram as empregadas de meus pais, enquanto os homens estavam lá fora, dirigindo ou cuidando de só Deus sabe o que.

Quero voltar para casa Where stories live. Discover now