XXXIV - Lar verdadeiro

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Fiquei surpresa ao perceber que ainda me sentia perfeitamente confortável na caminhonete do orfanato, que era praticamente de Adam. E falando nele, Adam dirigia a caminhonete pacientemente em direção ao tribunal, tamborilando o volante com os dedos.

Eu estava encarando meu celular, com a testa franzida. Depois de dias e dias sem passar mais de cinco minutos com um celular na mão, digitar a senha no meu parecia uma tarefa árdua. Não sei se estava pronta para ler mensagens, ouvir os recados na caixa postal, checar o Twitter.

Só estava com o celular porque o pobre coitado havia chegado em uma caixinha vermelha lá em casa. Sam não queria que eu abrisse porque cismou que era uma bomba, mas se deu por convencido quando achei o bilhete de Kate avisando que era meu celular. O nome dela não estava lá, mas eu conhecia a letra.

— Você está encarando o celular como se ele fosse te atacar. — Adam disse. — Lembra a senha?

Afirmei com a cabeça. Número por número, digitei a senha e ofeguei baixinho ao me deparar com uma foto minha com Eva e Cindy. Uma foto realmente antiga, da época em que jogávamos futebol com a treinadora Aura.

— Mas é estranho... — Comentei. — Parece pequeno demais, ou grande demais. Esqueci como se mexe.

Adam sorriu e negou com a cabeça.

— Não, capitã cheia da grana, isso é mania de rico, rico não esquece mania de rico. — Disse ele.

Estreitei os olhos para Adam, mas não consegui evitar uma gargalhada esquisita que mais me lembrou um cientista maluco em decadência. Quase maléfica, mas rouca.

Adam e eu estamos nos dando bem, acho. Conversamos como pessoas civilizadas, coisa que ainda não decidi se somos totalmente. Evitamos falar sobre relacionamento amoroso, um acordo mutuo de silêncio em que ninguém disse em voz alta que realmente era melhor não falar nada.

Arregalei os olhos e o celular quase voou pela janela quando um toque ridículo explodiu e "mãe" acendeu na tela como um farol. Céus, eu havia mesmo esquecido como se mexe nesse negócio.

Deslizei o dedo na tela e aproximei o aparelho do ouvido, franzindo a testa.

— Mamãe? — Chamei.

— Tenho uma novidade para você! — Verônica exclamou, fazendo-me arregalar os olhos novamente. — É uma coisa muito, muito boa mesmo.

— Nosso presidente fugiu para a lua? — Resmunguei.

— Não, melhor. Melhor ainda. — Disse mamãe. — Aquele garoto que você falou, aquele de Everwood... Ele foi encontrado e confessou que matou aquele senhor, confirmou toda a sua história exatamente do jeito que você falou.

Olhei para o Adam, meus olhos arregalados e acesos como se eu tivesse enchido a cara de energético. Ele me olhou, com a testa franzida, mas logo voltou a prestar atenção na estrada.

— Tudo?! — Disparei, eufórica. — Então eu estou livre? Eles sabem que eu sou inocente?

— Sabem, querida. Talvez você só precise conversar com o delegado, mas totalmente inocente. — Veronica explicou cuidadosamente. — Agora você e o indivíduo de caráter meio duvidoso precisam estar aqui em menos de quinze minutos.

Sorri fraco e balancei a cabeça. Meus pais não eram os maiores fãs de Adam e eu não podia julga-los, mas eles concordavam que eu podia, sim, perdoa-lo e tentar conversar. Não havia nada errado desde que ele assumisse seu erro, o que ele havia feito, e estivesse tentando conserta-lo, o que ele também estava fazendo.

— Tudo bem, mãe. Estamos chegando. — Afirmei.

Nós chegamos em oito minutos. Sei porque contei cada minuto no celular, já que não conseguia parar de encara-lo e essa nova mania estranha ia ter que servir para alguma coisa.

Quero voltar para casa Where stories live. Discover now