V - Criança em fuga

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Adam estacionou a caminhonete na frente da casa de Val. Era uma casa grande, o que me surpreendeu, já que eu deduzi que moravam apenas ela e o filho. Naquela casa cabiam mais uns seis Andrews, se fosse o caso.

Eu estava apreensiva e, principalmente, com medo. Nunca havia cuidado de uma criança antes e nem estava me preparando para isso. Conhecia pessoas que trabalhavam como babás depois da escola, mas nunca foi meu caso. Queria que essas pessoas estivessem aqui agora.

— Você está assustada. — observou Adam.

Óbvio que eu estava. Não fazia nem questão de tentar disfarçar, porque sabia que não seria possível. Eu estava ali, dez minutos antes, para cuidar de um menino. E se eu fizesse algo errado? Se botasse fogo na casa?

— Estou. — confirmei —, mas eu preciso desse dinheiro. Eu quero voltar para casa e esse é o único jeito.

Adam sorriu, mostrando as covinhas.

— Você está determinada também. — ele disse. — Continue assim, Vênus. Logo, logo você vai estar em casa.

Não consegui evitar um sorriso, mesmo que não quisesse mostrar a Adam que ele podia me fazer sorrir ou rir com as piadinhas sem graça.

— Agora... — Adam passou a língua pelos lábios, distraído nos próprios pensamentos. — Você já cuidou de uma criança alguma vez?

Fiz uma careta e neguei com a cabeça. Eu precisava ser sincera. Talvez Adam acelerasse e não deixasse uma louca inexperiente cuidar de uma criança, mas ele não fez isso. Do contrário, ele começou a rir. E muito, por sinal.

Ergui uma sobrancelha, assistindo pacientemente –ou melhor, impacientemente– a crise de risos de Adam. Ele parecia estar muito ocupado com a própria risada.

— Pare de rir! — eu disse, mas isso não o deteve. — Adam, pare de rir!

— Você é ótima! —Adam exclamou, rindo. — Certo, você definitivamente veio para alegrar os meus dias. Você é uma comédia, Vênus.

Encarei Adam, com as sobrancelhas franzidas. Incomodada, eu desci da caminhonete e bati a porta, finalmente fazendo com que ele parasse de rir. Adam me observou, com as sobrancelhas erguidas.

Segui meu caminho em direção a casa, sem nem olhar para trás. Eu não sabia se Adam estava olhando ou não, mas eu ainda não havia escutado o barulho do carro. Ele ainda estava ali.

Parei ao perceber o carro maravilhoso estacionado perto da casa de Val. Era um WW EOS azul escuro, certamente de luxo, daqueles sem teto. O carro era realmente fabuloso, mas a sensação que tive ao vê-lo não foi nada maravilhosa. Ele me lembrava algo...

Brad.

Foi um flash que veio rápido o suficiente para fazer minha cabeça doer. Lembrei de algo da noite da festa, algo que podia ser importante.

Brad Cooper, meu namorado, estava entrando em um WW EOS como aquele. Porém o carro em que Brad havia entrado era vermelho e não azul. Logo após me dizer que precisava resolver o problema do carro, ele entrou em um carro desconhecido por mim com outros garotos, rindo e gritando.

E aquilo foi a primeira coisa que eu lembrei sobre a festa. Naquela noite, Brad havia mentido para mim.

— Vênus? — Adam chamou. — Vênus, você está bem?

Soltei o ar devagar e olhei para Adam, abrindo um sorriso meio cansado. Eu não estava com disposição nem para sorrir após quase perder a cabeça com aquela porcaria de lembrança.

Eu não podia lembrar de mais nada, certo? Era como se o universo me dissesse: Você não precisa saber como foi parar em outra cidade, Vênus, só precisa saber que Brad te fez de trouxa.

Quero voltar para casa Where stories live. Discover now