XIX - O errado pode ser bom

153 30 6
                                    

Aquela noite não foi agradável. Sozinha feito uma alma penada, fui à praça principal da cidade, a com a fonte de anjinhos de querubim. Lavei o rosto e o esfreguei umas três vezes seguidas, para garantir que ficaria bem acordada.

Vaguei praticamente a noite toda. Descobri ruas, lojas, lanchonetes, inclusive bonecos de posto que sacodiam os braços para todos os lados. Decorei a diferença entre as casas, entre os carros e entre os animais.

Mas esqueci absolutamente tudo isso quando, as dez da manhã, eu estava parada em frente ao mercado que Sarah Hall trabalhava. O sol, ao invés de me iluminar, parecia mais afim de queimar meus neurônios e destruí-los de vez.

Caminhei pelo mercado inteirinho, ignorando os olhares estranhos –maioria do dono do mercado–, para chegar até os fundos. Encontrei a peste ruiva sentada sobre um dos caixotes maiores, mastigando tranquilamente um sanduíche de frango acompanhado por uma latinha de refrigerante.

Ela não pareceu muito feliz ao se deparar comigo. O sorriso que focava para o sanduíche desapareceu, dando lugar a uma expressão que mostrou o quanto ela estava desconcentrada.

— Vênus. — Sarah finalmente quebrou o silêncio, ficando de pé. — Owen e Olívia estiveram aqui procurando por você, eles ficaram...

— Você é a pessoa mais cínica, falsa e dissimulada que eu conheço. — a interrompi.

Sarah arqueou as sobrancelhas, talvez mesmo surpresa ou apenas fazendo um teatro para me deixar ainda mais irritada.

— Do que está falando? — ela perguntou.

Eu quis bater nela de novo. Aquele drink azul, o cheiro doce e suave de baunilha, o gosto tão saboroso que me fazia querer mais e mais... Alguma coisa naquela maravilha estava errada.

— Você me drogou! — exclamei, as palavras que soavam incertas em minha cabeça saindo como uma verdade assustadora. — Eu agi como uma louca e a culpa é sua!

Sarah Hall teve a audácia de rir. E rir mesmo, na minha cara, em alto e bom som. Como se eu fosse realmente uma louca.

— E eu lá tenho culpa de você encher a cara, Vênus? — perguntou Sarah. — Não posso fazer nada se, depois de um copo, você perde o controle.

Revirei os olhos. Se o dono do mercado já não gostava muito de mim, agredir Sarah seria a gota d'água para uma confusão maior ainda. Talvez eu realmente fosse presa.

— Eu não enchi a cara. — respondi. — Eu quase não bebi, Sarah, porque combinei de esperar o Adam para...

— O Adam. — Sarah deu um sorriso debochado. — Você deve ter passado muita vergonha com ele, não é? Que pena que um porre acabou com as suas chances, Vênus.

— Você é cruel! — protestei. — Se o pestinha do seu irmão fugir de novo, eu vou empurrar ele no lago!

Sarah arregalou os olhos, mas não deixei que sobrasse nem um único segundo para que ela respondesse.  maiei no meio da rua nem nada assim, mas decidi que um exame prático de sangue pudesse me ajudar a descobrir o que exatamente aconteceu na noite anterior.

Eu odiava a facilidade que tinha para ficar confusa. Na noite da festa em que Brad mentiu para mim, a confusão havia me possuído. E ontem, depois de um drink oferecido por Sarah, eu havia feito besteira.

Não sabia exatamente o que tinha feito, mas com certeza magoei Adam. Lembro de ele me virar as costas e ir embora pela rua escura, levando consigo a chance de aquela noite acabar bem.

O médico do hospital disse que, pelo exame prático, conseguiu identificar algumas substâncias estranhas. Ele também disse que exames mais específicos seriam necessários se eu quisesse saber mais, mas aquilo já me bastava.

Quero voltar para casa Onde as histórias ganham vida. Descobre agora