XIV - Como perder o emprego (de novo)

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Senti que estava em outro planeta quando acordei. Assim que abri os olhos, tudo que vi parecia meio roxo e azulado. O ventilador de teto do quarto em que eu ficava entrou em foco aos poucos, assim como o resto do quarto, que foi deixando de ser azul e roxo lentamente.

Sentei-me devagar na cama para as ideias que eu tentava organizar não pulassem de um lado para o outro na minha cabeça, virando tudo uma coisa só. A noite anterior estava perdida em um buraco negro no interior de meu cérebro.

Olhei para o lado, para as fotos ao lado da cama. No cantinho da foto com Adam, aquela que tiramos no pôr do sol, estava escrito "Eu sei que você adora não poder me esquecer. –A". 

Então eu lembrei. A música de Austin para Olívia, o quanto ela ficou agitada e sacodiu o garoto até que ele a beijasse. Depois, Adam e eu cantamos, quase esquecendo a plateia. E então, para fechar a noite com chave de ouro, Emma estava ganhando bebê. E eu desmaiei.

Ao chegar na sala, vi que Emma estava sozinha, sentada no sofá. Não exatamente sozinha, já que ela segurava uma coisinha miúda enrolada em um cobertor lilás. Era difícil enxergar um rosto naquela quantidade de pano, mas isso não impedia Emma de sorrir para a bebê.

— Emma? — chamei, baixinho e ela olhou por cima do ombro, abrindo um sorriso maior ainda.

— Ei. — ela cumprimentou, fazendo um gesto com a cabeça para que eu me sentasse ao seu lado. — Vem cá, você precisa ver a Alyssa.

Ergui as sobrancelhas. Dando a volta no sofá, sentei-me ao lado de Emma.

— O nome dela é Alyssa, então? — perguntei. — Você que escolheu?

— Jordan queria o nome da bisavó dele. — Emma fechou a cara. — O nome da mulher parecia mais uma marca de creme dental. Travamos uma longa batalha e misturamos os nomes de nossas bisavós.

— Alyssa é um nome legal. — eu disse, com absoluta sinceridade. — Você é realmente criativa, se Alyssa puxar isso de você ela está feita na vida.

Emma riu e afirmou com a cabeça. Mordeu os lábios, se forçando a ficar quieta para não acordar Alyssa, que dormia feito um anjinho. Era de se descabelar imaginar que uma coisinha assim bonitinha podia, a qualquer momento, começar a chorar, berrar e acordar o orfanato inteiro.

— Eu espero que você não ensine para ela a desmaiar assim que ver sangue. — Emma disse, rindo. — Tiveram que socorrer você e eu. Acho que somos parceiras até nisso.

Foi a vez de Emma de me fazer rir.

Emma fora a minha primeira amizade em Everwood. Ela moveu a delegacia inteira para me ajudar, deixou que eu falasse e falasse e, então, me ajudou a sair da cadeia. Com certeza ela merecia ser a primeira pessoa a saber do meu trabalho no escritório.

Infelizmente, meu tempo era curto. Pelo que marcava no relógio, se eu não saísse exatamente agora, chegaria relativamente atrasada para o meu segundo dia de trabalho. E obviamente, tudo que eu menos queria era ser demitida.

Levantei do sofá, com uma desculpa esfarrapada qualquer. Emma estava distraída demais com o rostinho da própria filha para me dar atenção, o que facilitou minha saída.

— Claro. — Emma murmurou, sorrindo para Alyssa. — Tudo bem, boa sorte.

Franzi a testa e balancei a cabeça. Beijei o rosto de Emma e, sem saber o que fazer, acenei para Alyssa, mesmo que a criança dormisse e não fosse ver nem a sombra de meu rosto. Pelo menos era o que eu podia fazer.

 Pelo menos era o que eu podia fazer

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