XII - Chantagem

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É oficial. Eu preciso dar fim em Adam Livemore.

Tenho que tirar ele da cidade, do estado e, se possível, do país. Deixa-lo bem longe para que não me convença outra vez a dançar até quatro e meia da madrugada, quando voltamos ensopados para o orfanato.

O motivo de tudo isso?

Acordei meia hora atrasada para meu primeiro dia no trabalho.

Eu praticamente voei para o escritório do Sr. Thomas, homem que até então eu ainda não havia visto. Não passei pela cozinha, não dei bom dia para ninguém e nem falei com as crianças no orfanato. Eu não podia perder sequer um segundo.

Quando finalmente cheguei no escritório, Tônia me fuzilou com os olhos, os braços cruzados e o rosto inexpressivo. Senti tanto medo daquela mulher naquele momento que poderia voltar correndo para o orfanato.

Se não precisasse tanto daquele dinheiro.

— Me desculpe! — eu disse, apressada. — Por favor, desculpe, eu tive um problema que você não tem noção e...

Tônia provavelmente percebeu que eu ia mentir descaradamente, porque suspirou impacientemente e revirou os olhos. Ela me olhou outra vez, dando um sorriso extremamente forçado.

— Eu não tenho outra opção agora, porque se tivesse, você estaria na rua. — Tônia respondeu, sem fazer questão da sensibilidade. — Seu uniforme está ali dentro, melhor ser rápida com isso.

Em questão de poucos minutos, eu já havia vestido o uniforme e estava me encarando no espelho da salinha de limpeza do escritório. A roupa era azul e branca, a calça larga demais e a marca do escritório mal aparecia na blusa branca.

Eu não tinha muito talento para faxina, mas não podia deixar Tônia saber disso. Sempre que via ela passando, eu rezava baixinho para que ela não percebesse nada de errado, porque até mesmo varrer era uma tarefa muito difícil para mim.

Meu dia se estendeu devagar. Eu varri, esfreguei, passei pano e espanador em cada mísero cantinho com uma sujeira, apenas para não ficar parada e acabar perdendo o emprego. Mesmo que eu estivesse terrivelmente cansada, eu continuava inventando qualquer coisa para que Tônia me visse em movimento.

Até o momento em que Sarah colocou os pés no escritório. Ela entrou com a graça de um pavão, segurando um envelope e olhando para qualquer canto que não fosse diretamente para mim.

Pelo menos até me reconhecer.

— Vênus! — ela cumprimentou alegremente, alegremente até demais. — Eu não acredito que a ladra do mercado decidiu ganhar a vida honestamente.

— É, você vai ganhar o prêmio de comediante do ano me chamando assim. — respondi, revirando os olhos.

Sarah deu de ombros e deu a volta em mim, franzindo a testa. Ela parou a minha frente e deu de ombros, decidida a mostrar indiferença. Não sei onde ela queria chegar com isso, mas esperei para ver.

— Seus amigos sabem? — ela perguntou e eu suspirei, negando com a cabeça. — Ah, eles não sabem? Então você está mentindo para eles.

— E por que isso te interessa? — perguntei.

— Porque eles são meus amigos também e está mentindo para eles. — Sarah disse. — Não acha que é errado?

Tudo bem, mentir não é legal, mas Sarah não tinha absolutamente nada a ver com o que eu fazia da minha vida. Se eu estava varrendo um escritório ou não, se eu estava mentindo ou não, nada disso era problema dela. Era um problema único e exclusivamente meu.

Quero voltar para casa Where stories live. Discover now