XXVII - Sam e Owen

156 24 3
                                    



Abrir os olhos nunca foi tão incômodo quanto naquele momento. Assim que meus olhos cansados se depararam com aquela lâmpada terrivelmente clara, quase pensei que estivesse no Paraíso. Porém, foi rápido e fácil de perceber que eu não estava no céu.

Eu estava em um hospital. O quarto claro demais, com móveis claros demais e até com a cortina clara demais. Era um ambiente consideravelmente fresco, a brisa invadindo suavemente. Mas, além disso tudo, o que me fez ter certeza que não era um delírio do paraíso foi minha terrível dor de cabeça.

— Vênus? — Ouvi Adam me chamar, em um sussurro. — Você está acordada?

Devagar, virei a cabeça para olhá-lo, para ter certeza que ele estava ali mesmo. Confirmando minhas suspeitas, Adam abriu um sorriso fraco, passando a mão pelos cachos castanhos claros.

— Eu queria muito brigar com você agora. — Ele disse e suspirou. — Mas você salvou o Simon. E, mesmo que tenha feito uma loucura, acabou ficando tudo bem. Obrigada, Vee.

Sorri fraco e apenas concordei com a cabeça. Ainda estava tentando controlar a dor de cabeça, tentando ridiculamente força-la a parar –ou pelo menos diminuir– para que eu pudesse ter certeza que estava falando com clareza.

— Fiquei apavorada. — Falei, finalmente, mal escutando o que eu mesma falava. Minha voz soava como um fiapo. — Não pensei em mais nada, eu só precisava tirar o Simon de lá...

Adam afirmou com a cabeça e estendeu a mão, afagando delicadamente meu cabelo, com toda a paciência possível. Sorrindo, deu um beijo demorado em minha testa, sentando no braço da poltrona que ficava ao lado da cama.

— Owen está bem agora, ele já acordou, mas está descansando. Simon já foi tratado, ele está bem agora. Você pode relaxar. — Adam contou, afagando preguiçosamente meu cabelo. — Emma, a bebê e Jordan estão bem também. E a dona Mercedes, ela te mandou um abraço.

Não consegui evitar um sorriso, mas logo a realidade me atingiu em cheio e foi preciso conter as lágrimas. O orfanato havia pegado fogo e, totalmente –ou quase– destruído, praticamente reduzido as cinzas.

As crianças, os adolescentes, todos os funcionários e membros acolhidos do orfanato, absolutamente todo mundo... Estávamos na rua, afinal?

— E o orfanato? — Eu perguntei. — O que vai acontecer? Onde todos vão ficar?

Adam encolheu os ombros. Aí sim parecia ser um assunto desconfortável para ele, por motivos um tanto quanto óbvios. Adam se preocupava com todos daquele orfanato, realmente todos, pessoa por pessoa.

— A prefeitura nos ofereceu um lugar provisório até as reformas forem concluídas. — Disse ele, em um tom de voz decepcionado. —Isso é bom, claro, mas nós não temos o dinheiro da reforma, então vamos ter que contar com doações. E isso vai levar tanto tempo, não sei se a prefeitura vai...

— Adam. — O interrompi, segurando sua mão. — Eu sei que é muita coisa para se preocupar, mas agora não. Você deve estar cansado também.

Adam me olhou e, com facilidade, pude perceber a grande incerteza em seus olhos. Ele estava assustado, inseguro, encurralado... Tinha seu emprego no orfanato e, vez ou outra, fazia uns bicos cantando e tocando por aí. Como poderia ajudar na reforma?

Eu queria –e muito– poder simplesmente pegar o cartão na bolsa e pagar a reforma toda. Mas aqui, longe de casa e dos meus pais, eu não podia contribuir nem com cinco dólares. Não podia ajudar quem havia me ajudado tanto.

— Eu estou muito cansado. — Ele confessou, baixinho. — Preciso muito dormir.

Sorri fraco e acariciei a mão de Adam com o polegar. Deslizei o dedo por seus dedos, contornando cada parte de sua mão, tentando fazer com que ele pudesse se sentir pelo menos um pouco mais seguro.

Quero voltar para casa Where stories live. Discover now