XXVIII - Promessa de papel

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Quando Adam, Owen e eu chegamos na casa em que ficaríamos até o orfanato ser reformado já eram umas oito da manhã, aproximadamente.

Enquanto subíamos as escadas do casarão, vimos pouquíssimas pessoas, o que achei estranho até lembrar o quão cansados e tristes todos deviam estar. A essa hora o comum era todos estarem acordados, fazendo barulho pelo orfanato e rindo de piadas péssimas. Agora, se um cochicho era ouvido nos corredores já era surpreendente.

Levamos Owen até o quarto que ele dividiria com Olívia, Emma, eu e mais umas duas crianças. Era espaçoso e com certeza caberíamos todos, mas ainda era estranho. Não era o quarto do orfanato, com as fotos ao lado da minha cama, o ventilador de teto prestes a quebrar...

— Vocês gostaram? — Adam perguntou, deixando a mochila de Owen ao lado da minha, que estava no canto do quarto. — Eu achei confortável. Eles foram muito gentis.

Afirmei com a cabeça e sentei em uma das camas, chutando os tênis para o chão. Era confortável, claro, mas meu coração ainda pesava. E motivos para isso não faltavam. O orfanato destruído, minha ida para casa, meu coração confuso.

— É bom. — Falei, jogando-me de costas no colchão. O teto era bege, um tanto sem vida. — Eu gostei também.

Owen deitou-se ao meu lado, espreguiçando-se. Sorriu e me empurrou para o canto da cama, o que quase acabou ocasionando em uma queda. Mas eu me agarrei fortemente ao colchão.

Decidi que, por enquanto, seria melhor deixar Owen descansar com ele mesmo, ocupando todo o espaço da cama e possivelmente até além dela. Depois poderíamos decidir quem dormiria aonde.

Joguei uma almofada sobre Owen e, quando ele soltou um grunhido e fez que lançaria a almofada em minha direção, pulei da cama. Comecei a rir e corri para Adam, que me segurou pelos cotovelos, me virando na direção de Owen.

— Ei! — Protestei, em meio as risadas altas. — São dois contra um, isso é injusto!

Owen e Adam não pareciam acreditar que aquilo era injusto. Enquanto ambos riam, Owen mirou bem o alvo e lançou a almofada.

Eu abaixei a cabeça. A almofada acertou o nariz de Adam.

Empurrei Adam e corri pelo corredor, divertindo-me com as gargalhadas altas de Owen e as promessas em voz alta de "Vai ter volta" de Adam.

Só parei –por livre e espontânea pressão– quando Adam passou os braços a minha volta, puxando-me para perto. Me virou devagar para ele e sorriu, erguendo uma das sobrancelhas.

— Você passou uns três quartos do meu, mas obrigado mesmo assim. — Disse Adam. — Me livrou de umas três almofadadas do Owen.

Dei de ombros.

— Salvei a minha pele, bonitão. — Disse, desvencilhando-me graciosamente dos braços de Adam. — Não a sua. Ou melhor, a minha e a sua.
            
Adam revirou os olhos e cruzou os braços, me encarando pacientemente, esperando que eu erguesse os braços, soltasse purpurina e gritasse "É brincadeirinha".

Sorri e segurei o braço de Adam, puxando-o de volta pelo corredor. Tudo bem que eu não entendia absolutamente nada do mapa daquela casa, mas teria de me esforçar se quisesse permanecer ali por mais alguns dias.

— Você está feliz? — Adam perguntou, assim que entramos no quarto.

Observei silenciosamente o quarto, que estava preparado para que aproximadamente seis ou sete pessoas o dividissem. Se parasse para pensar por mais de cinco minutos, a palavra feliz poderia mudar de significado diversas vezes, dependendo da forma com que a pergunta fosse feita.

Quero voltar para casa Where stories live. Discover now