XXIX - Cinza

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Eu estava sentada em uma cadeira cinza, em uma sala cinza, sentindo que minha vida se tornava cada vez mais cinza.

A cadeira era metálica e fria e a sala não possuía sequer uma janela, coisa que fazia com que eu me sentisse presa em um cubículo. Mesmo com todos os fatores que poderiam tornar a sala abafada, o lugar era frio e triste. Perfeito para uma prisão, eu acho.

A palavra que poderia chegar perto de resumir meus sentimentos é turbilhão. Nada, absolutamente nada, estava organizado em minha cabeça. Não sabia o que pensar sobre nada, desde o momento em que botei os pés em Everwood até agora, onde eu estava sentada na sala de uma delegacia.

Adam Livemore era um mentiroso. A frase era dolorosa, mas doía mais ainda me forçar a acreditar nela. Era difícil entender que cada momento que havíamos passado juntos era falso. Nossas discussões sem sentido, os inícios de brigas que sempre acabam em risadas e o momento que passei a vê-lo de um jeito diferente. Tudo isso era uma mentira gigantesca.

Além da decepção, uma dúvida me torturava. Sobre Adam, eu tinha certeza, havia ouvido e visto tudo que o ligava ao maldito plano. Mas e os outros? Olívia, Emma, Owen, todos eles... Eles também sabiam?

Quando estava prestes a voltar a chorar, precisei me esforçar muito para não soltar o grito mais esganiçado da minha vida ao ver minha mãe entrar na sala, com toda exuberância que só cabe a ela.

Verônica Marshall é uma mulher extremamente chique. Se o mundo estiver acabando e ela estiver em uma audiência, vai retirar calmamente o salto alto e arremessar no primeiro que começar a fazer um escândalo. Bem, digamos que ela preza a classe.

Mas não consegui prezar a classe quando praticamente voei da cadeira direto para os braços de minha mãe e, em seguida, desandei a chorar. Por motivos que desconheço, comecei a pedir desculpas para ela.

— Desculpe, mãe, desculpe... — Murmurei, em meio as lágrimas. — Por favor, me desculpe.

Verônica suspirou e passou os braços a minha volta, me dando um dos melhores abraços de toda a minha vida. Ela afagou minhas costas com calma, beijando minha cabeça várias vezes.

— Você não devia estar se desculpando. — Disse ela, em voz baixa. — Querida, você não fez nada de errado, sabe que não... Pode se acalmar? Por favor?

Olhei para minha mãe, com os olhos arregalados. Minha respiração se encontrava entrecortada, mas, com esforço, engoli em seco. Respirei fundo e afirmei devagar com a cabeça, recuando um passo para trás.

Verônica abriu um sorriso fraco e enxugou minhas lágrimas com os polegares. Segurou meu rosto e beijou minha testa, então soltando um suspiro.

— Sente-se, Vee. — Ela pediu e consegui visualizar um pouco da figura que enfrentava os tribunais. — Nós precisamos conversar.

Fiz uma careta e dei a volta na mesa, sentando-me novamente na cadeira do terror. Passei as mãos pelo rosto e pelo cabelo, desejando incansavelmente organizar minhas ideias.

Verônica sentou-se na cadeira a minha frente e apoiou os braços sobre a mesa também metálica. Fez uma careta, pensou, pensou e pensou e então ergueu as sobrancelhas, erguendo a cabeça para falar.

— Essa história da arma é uma encrenca daquelas. — Minha mãe foi honesta. — Um homem de 58 anos está morto e foi comprovado que o tiro saiu daquela arma. Então eles tiraram as digitais e, infelizmente, elas bateram com as suas.

Arregalei os olhos e abri a boca para começar a tagarelar, o pânico dominando até os restolhos da minha alma.

— Eu sei que não foi você que matou. — Verônica se adiantou. — Queria estar aqui apenas como sua mãe, meu amor, mas preciso agir como sua advogada. — Ela tentou um sorriso acolhedor. — E para isso, vou precisar que você me conte tudo que te levou até essa arma. Sem esquecer nenhum detalhe.

Quero voltar para casa Where stories live. Discover now