XXXIII - Sweet Creature

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Achei que meu coração fosse saltar para fora quando, mesmo que tivesse acabado de acontecer, aquele pequeno momento ficava repetindo várias, várias e várias vezes. A voz dele chamando meu nome ecoou uma, duas, três vezes.

Adam estava ali e eu não tinha a menor ideia do que estava sentindo. Minha cabeça era um terrível emaranhado de sentimentos, que insistiam em tamborilar uns sobre os outros, em uma acirrada competição de quem dominaria.

Mas escolher um sentimento só para focar e entender era impossível. Surpresa, raiva, medo... Não conseguia acreditar que ele estava mesmo ali, mas, com sua volta, percebi que ainda havia um pouco de raiva. E o medo... Eu não sabia exatamente o motivo desse medo, mas ele estava ali, me rondando. Prestes a me atacar.

E então, é claro, a saudade. Queria pular no pescoço dele e sacudi-lo, queria gritar e botar tora a raiva para fora, queria até mesmo jogá-lo dentro do chafariz. Além disso tudo, mesmo que admitir ferisse ferozmente meu orgulho, eu queria abraça-lo.

Nós nos encaramos por alguns segundos, ou talvez até mesmo minutos, eu não saberia dizer, mas foi tempo para que eu esquecesse totalmente da presença de Kate. Em algum momento ela foi embora, mas eu jamais conseguiria me lembrar em qual.

Adam foi mais corajoso que eu ao me puxar para um abraço apertado. Eu não precisava engolir o orgulho ou minha dignidade para abraça-lo, porque precisava do orgulho e da dignidade. Sem essas coisas, eu nunca seria quem eu sou e jamais teria a chance de aceitar que podia, sim, me permitir aproveitar o abraço.

Se tivesse talento na matemática, eu poderia arriscar que tínhamos ficado horas abraçados. Em algum momento acabei despertando e a minha ilusória paz psicológica evaporou como mágica. Era tudo uma confusão de novo.

— Adam, eu não quero... — Murmurei, afastando-o devagar.

Adam permaneceu afastado. Seus olhos possuíam um brilho de tristeza ferida, mas ele não deu sequer um passo.

— Vee, por favor... — Adam suspirou. — Por favor, nós precisamos conversar. Eu preciso conversar.

Fiz uma careta. Não estava no meu melhor momento para conversar, principalmente por Kate ter destruído a carta na minha frente e gritado sobre como eu era a culpada por Brad ser um babaca.

Mas ultimamente, se eu dependesse de estar ou não no momento para alguma coisa, eu estaria no mínimo muito ferrada. Precisava enfrentar as coisas, estando pronta ou não. Enfrentaria os medos, incertezas e dúvidas exatamente como enfrento os dias em que a treinadora Aura está de mal humor.

— Acho que temos mesmo que conversar. — Concordei, um pouco contrariada. — Como pessoas civilizadas.

— Isso. — Adam concordou. — Porque é o que nós somos.

— As vezes acho que não. — Respondi.

Adam parou para pensar. Ergueu as sobrancelhas e deu de ombros, indicando o chafariz com a cabeça e sentando-se logo em seguida.

Sentei-me ao seu lado, mantendo uma distância agradável, mas igualmente perigosa para o meu estado emocional.

— Sei que isso é um problema. — Adam disse e ambos olhamos para os pedaços rasgados de papel que um dia foram uma carta. — Mas está tudo sob controle. Eu decorei.

Ergui uma sobrancelha, mas Adam não se deteve.

— Palavra por palavra, me lembro de tudo. — Concluiu.

— Você não decorou. — Concluí.

Adam me olhou como se eu tivesse dito uma atrocidade terrível.

Quero voltar para casa Where stories live. Discover now