XXIV - Primo maluco

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Adam foi ajudar dona Olga a cortar a lenha, enquanto Tom e eu, esbeltamente sentados em nossas cadeiras de praia, descascávamos as batatas. Adam e Olga pareciam heróis vikings, enquanto Tom e eu estávamos numa vibe mais tranquila –o que eu preferia–.

Olga era, de fato, a mulher maravilha coroa. Ela cortava as lenhas com o machado melhor que Adam, o que fazia com que, vez ou outra, ele arregalasse os olhos e recuasse alguns passos para trás.

Balancei a cabeça e voltei a me concentrar nas batatas, que mereciam toda a minha atenção. Ao olhar para Tom, vi que ele descascava as batatas com um pequeno sorriso no rosto, como se estivesse pensando em um shopping cheio de lojas maravilhosas de bolsas e sapatos... Ou talvez não.

— Como vocês se aproximaram? — O senhorzinho perguntou, erguendo os olhos para me olhar. — Digo, você e o Adam.

A pergunta me pegou de surpresa. Mesmo que Adam e eu tivéssemos deixado realmente claro –ou era o que pensávamos– que não tínhamos nada sério, os avós dele ainda agiam e falavam como se fôssemos o casal à moda Angelina Jolie e Brad Pitt.

— Nós não... — Comecei.

— Não namoram. Eu sei. — Tom me interrompeu, ainda em um tom gentil. — Mas eu sinto que vocês dois tem algo forte. Uma conexão, entende? Nem tudo começa com algo amoroso obrigatoriamente como homem e mulher, criança, a amizade é a base de tudo. Até mesmo da paixão.

Não soube o que responder de imediato. Fitei Tom, em silêncio, enquanto as engrenagens de meu cérebro trabalhavam desesperadamente para conseguir formular sequer pelo menos uma única frase decente.

Parei para pensar em tudo que havia acontecido antes de responder. Meu cérebro, pela primeira vez na vida, fez questão de lembrar de detalhes. Lembrei-me de Adam e eu na biblioteca, quando derrubei a estante. Também das aulas de música, da apresentação, das fotos e do pôr do sol. Claro, não consegui evitar nossos desentendimentos, pendentes a uma briga.

— Eu o conheci depois de um pequeno contratempo que tive em Everwood. — Contei. Não podia dizer que tinha sido presa. O que pensariam de mim? — No começo, nós não ficávamos mais de dez minutos sem brigarmos. E então... Eu nem percebi, mas quando parei e olhei... Sentia alguma coisa por ele. Alguma coisa forte.

Tom abriu um sorriso caloroso. Ele acenou com a cabeça e afagou carinhosamente meu ombro, apertando-o suavemente logo em seguida.

— Escute, Vênus... — Tom começou.

Um grito animado de Adam atravessou o campo e ecoou pelas árvores. Ele e a avó começaram a trocar gritos animados, comemorando e dançando de um jeito muito peculiar para uma senhora de idade e um garoto pós-formado trabalhando como músico.

Tom não continuou. Ao invés disso, apenas acelerou o ritmo com que descascava as batatas.

Olhei na direção de Olga e Adam. Ele ajudava a avó a organizar os pedaços cortados da lenha, mas fez uma pausa para, coincidentemente, olhar em minha direção. Então sorriu.

E eu sorri também.

E eu sorri também

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