XXXI - Doce vingança

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Reencontrar Eva e Cindy foi um dos pontos altos da minha volta para casa. O momento se resumiu em vários abraços, muitos pulos e alguns –cinco, no mínimo– gritos. Era impossível não gritar com Eva e Cindy gritando no meu ouvido que tinham novidades que iam me deixar maluca. Elas me deixaram maluca, mas talvez eu também as tenha enlouquecido um pouco. E precisava admitir, era uma troca justa. 

É praticamente impossível descrever com poucas palavras como foi ver as meninas novamente. Muitas coisas haviam mudado nesse pouco tempo, mas eu nunca permitiria que algo afetasse minha amizade com Eva e Cindy. Concordando ou discordando com elas, eram minhas amigas desde o ensino fundamental. E eu poderia dividir com as duas o que havia aprendido. 

Mas é óbvio que, após reunir Sam, Eva, Cindy e eu uma ideia mirabolante ia sair. Nos momentos raros em que nós quatro conseguíamos conciliar nossos horários, momentos como os que achamos que levar um anão para casa era boa ideia eram comuns. Fim da história: Sam levou um soco de um anão, quase fomos presos e Eva e Cindy dormiram bêbadas em meu tapete. 

A ideia da vez foi um pouco além. A formatura seria esta noite e eu precisava botar todo o plano em andamento logo. Teria que ser cedo!

Decidimos que era, sim, uma ideia justa causar um pequeno dano ao deslumbrante, belíssimo e formoso carro de Brad Cooper.

Sempre aprendi que vingança não faz bem para ninguém, mas eu precisava botar a raiva para fora. Porém, não queríamos causar nenhum tipo de violência física ou verbal ou muito menos a morte de alguém. Agora, se você prefere chamar essa singela forma de descontar a raiva de vingança eu vou entender. Vou ficar um pouco triste. Mas vou entender.

Fazia frio durante a madrugada, o que resultou em quatro adolescentes que mais pareciam esquimós parados na calçada de uma mansão gigante. Eu ainda tinha a chave do portão, o que facilitou 100% a nossa entrada. Talvez Brad suspeitasse de mim alguma hora, mas aí já seria tarde demais. Tudo já estaria feito. 

Três caixas de ovos seriam o suficiente. Ou talvez nem usássemos tudo, já que desperdiçar ovo era um pouco triste. No carro de uma pessoa como Brad, a situação se tornava deplorável.

O sol estava quase nascendo, mas eu ainda conhecia os hábitos da família de Brad. Ninguém naquela casa, com exceção dos funcionários, botava os pezinhos para fora da cama antes das oito da manhã. Estávamos perfeitamente seguros. Com frio, mas seguros.

— Vamos mesmo fazer isso? — Eva perguntou. — É tecnicamente vandalismo.

— A existência do Brad é tecnicamente vandalismo. — Cindy retrucou.

Todos olhamos para ela. Cindy ergueu uma das sobrancelhas e deu de ombros, deixando claro que sua opinião continuaria a mesma independente de certa ou não.

Dei de ombros e voltei a olhar para o carro de Brad. Era tão bonito que quase dava pena de sujar. Repare bem que eu disse quase.

Estendi a mão para Sam, que segurava as caixas equilibradas umas sobre as outras. Com cuidado, Sam retirou um ovo e hesitou. 

— O alarme não vai disparar? — Sam perguntou.

— Deus queira que não. 

— Não vai errar, hein? — Sam disse. — Não vamos ficar desperdiçando ovos com esse...

Sam não terminou a frase. Encarou o carro por alguns segundos, os olhos vagos. Então soltou um longo suspiro e me entregou ovo.

— A saída é jogarmos a maior quantidade de ovos que pudermos ao mesmo tempo. — Sam explicou, começando a dividir os ovos entre nós. –E quando o alarme disparar, porque ele vai, nós saímos correndo.

Quero voltar para casa Where stories live. Discover now