Incumbência

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- Tens de ser tu Alissa, não vou entregar esta matéria a mais ninguém. - Quando Nina Petr, metia uma coisa na cabeça era muito difícil tirá-la de lá, mulher rija muito justa, mas imensamente teimosa. Tinha um porte de rainha, e uma voz de comando, muito pouca gente se atrevia a contraria-la.
- Nina, estou farta destas matérias, já tenho o meu quinhão de inimizades. - sentada de frente para ela naquela sala imensa no centro de Los Angeles, trabalhava para ela há 12 anos, conhecia-a bastante bem, sabia o que ela queria neste momento que continuasse com o trabalho feito até ali, descobrir defeitos "graves" em homens considerados perfeitos. Nina tinha sido percursora nesse estilo de trabalho, tinha sido a mulher que despoletou os vários escândalos sexuais nos meandros da indústria Cinematográfica em 1997. Contratou Alissa em 2008 para lhe seguir os passos e desde essa altura formavam uma dupla implacável e receada pela maioria dos homens em Hollywood e não só. Juntas e com o apoio de várias atrizes, vítimas, criaram o grupo "woman in film", para denunciar os vários hipócritas dessa sociedade sexista e abusadora.
- Queria descansar, Nina, prometeste-me isso desde o caso com Kip, aquilo foi escabroso e pouco lhe aconteceu, começo a pensar se vale a pena, quando eles saem ilesos ou apenas com uma multa em dólares.
- Vale sempre a pena querida, são expostos, olha o que aconteceu com Harvey, o mérito é todo teu, conseguiste que mais de 70 mulheres o denunciassem por conduta inadequada a vários níveis de abuso sexual.
- E onde é que ele está? - perguntou Alissa desolada.
- Ao que se sabe no Arizona. - puxou um trago do Marlboro que fumava. Levantei-me e fui até à janela.
- Sei que é importante e tu sabes que eu não desarmo - virei-me para ela de braços cruzados sob o peito, protegendo-me. - mas.. Quero um pouco de paz Nina, só isso. - apagou o cigarro assentindo, caminhou até mim, fez-me uma pequena festa nos braços.
- Olha para mim Alissa. - puxou-me e passou-me as mãos nos braços, levantou-me o queixo com um dedo. - o que aconteceu foi bom para todos os envolvidos, a tua reportagem o teu trabalho já deu frutos, Harvey está prestes a ser condenado por mais que se esconda, isto não vai ficar assim desta vez, o nosso trabalho é meritório... mas ok - voltou-me as costas foi até à secretaria pegou numa pasta, apontou-a para mim- desta vez é fácil, e quem sabe até prazeroso, a meu ver nem há nada, conheço o personagem um moço novo, que agora aparece em todo o lado, a toda a hora, requisitado pelas revistas e magazines populares mas também pelas de culto e é por aí que eu julgo ser interessante entrares. - fui até ela peguei na pasta e sentei-me na cadeira.
- OK, vamos lá ver então, como se chama? - abri a pasta pelo meio e fui assaltada por uma imagem poderosa, um homem nos seus quarenta anos, vestido de tweed, um copo de wisky numa mão, olhava a câmara com os mais poderosos olhos azuis que já tinha visto, encostei-me na cadeira. - Bem, humm muito bem.. Disseste o nome dele?
-Heughan, Sam Heughan, actor, escocês e muito muito bonito. Um miúdo que apareceu por causa de uma série - sentou-se novamente à minha frente - que te aconselho a ver - piscou-me o olho.
- ok terei de ver, mas o que queres tu, o quer a "Life Time"- era o nome do nosso magazine - o que nos interessa este homem? O que tem?.- Olhei para ela..
- Pois, nada. Pelo menos que se saiba nada. É a tua função descobrires, "onde está o defeito"? - era o nome da rubrica que escrevia.
- Nina, se o homem não tem nada que se saiba, não queres esperar que se faça mais famoso e ver se aparece alguma coisa, e depois irmos por aí?
- Não. - puxou por um novo cigarro - quero saber, o homem não dorme, ao que parece, consegue arrecadar milhões para obras de caridade, importantes. - recostou-se - tem uma grande apetência pelo exercício físico - torceu a boca ambas sabíamos que Nina não era fã - esteróides ? Será? É fundador de uma organização, onde as importâncias recebidas pelos membros vão para as fundações por ele escolhidas e apadrinhadas ao mesmo tempo essas pessoas recebem conselhos sobre saúde e planeamento físico.
- Não te estou a entender e o que tem isso demais?
- Pode não ter nada, mas tão perfeito? Já vimos que a perfeição por vezes esconde o bolor, só quero saber se existe bolor e tu vais descobrir se o houver. - olhei novamente para Nina e baixei os olhos para a foto
-E como vou fazer? Ele vai saber quem sou? A agente dele aceitou?
-Aceitou, a agente aceitou sem reservas. Disse que ia falar com ele. Vai-nos dizer alguma coisa amanhã na parte da manhã.
- Bem então, vou fazer a minha parte, vou para casa revirar a Internet, ver essa série - estava uma caixa com DVD's apontei para ela - é isto?
- Sim tens aí outros trabalhos, entrevistas, tudo, não precisas da Internet, tens tudo aí, naquela caixa revistas fotos, a primeira pesquisa feita pela nossa equipa tens uma semana para o iniciar, leva quem tu quiseres contigo.. Querida, de ti só espero um bom trabalho - levantou-se apoiou-se na secretaria com as duas mãos. - Alissa descobre o defeito deste homem...
Assenti, sorri-lhe Nina conseguia ser uma cabra, até mesmo comigo.
Saí pedi ao moço de recados que me ajudasse a carregar tudo para o carro. No elevador o moço entabulou uma conversa.
-Tem aqui muito trabalho Dona. - olhei para ele trazia um gorro enfiado na cabeça, era muito jovem e bonitinho
- Sim, muito trabalho. - sorri-lhe.
- Estou aqui a ver a fotografia deste homem, a minha miúda é doida por ele, até já nos chateamos por causa disso. - interessante.
- Ah sim? Hum porquê?.
-Ora Dona, a minha namorada já deixou de sair comigo para ficar em casa a ver a série que este tipo faz, aliás já me obrigou a ver um episódio daquilo. - estava aborrecido.
- hum, e gostou?
- Bem gostar, gostar, até gostei, mas também achei que aquilo não era para tanto, você não está bem a ver as miúdas, amigas da minha miúda, tem grupos de leitura e de visualização por causa disto. São muito doidas e tudo por causa deste tipo. Não, até as mães delas gostam, não está bem a ver, pfuuu..
- A sério? Ele escreve livros também? - Riu-se
- ah não, Dona, a série é que é baseada nuns livros aí de uma tipa que já escreveu isto há uns anos, agora lançaram a série baseada naquilo, tá a ver?
- ah!. Pois não sabia, obrigada pela informação. - saíamos do elevador e ele continuou.
- A revista vai fazer um trabalho sobre ele? Olhe Dona se quiser alguma informação posso dar-lhe o contacto da minha namorada ela sabe tudo sobre ele. - abri a mala do carro, ele colocou as coisas lá dentro e olhou para mim. - se quiser Dona pode contar comigo.
-OK, obrigada, como é mesmo o teu nome?
- Michael, mas todos me tratam por Mickey.
- Como o rato? - dei uma leve gargalhada. Já me ia a montar no carro e Mickey ainda disse:
-Sim Dona como o rato, e se precisar de um - apontou com os polegares para o seu peito com um sorriso no rosto - estou às ordens. - Liguei o motor
-ok Mickey, não me vou esquecer. Obrigada - dei-lhe uma nota. - até - acenei e fui-me embora para casa.

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