Nobleman

80 6 1
                                    

SAM

Depois do episódio em que Alissa se enfiou na sebe e em que tive de lhe rasgar a blusa, se não tivesse sido tão trágico, de cada vez que me lembrava dela presa pelo ramos toda ensanguentada, tinha de sorrir, pelo menos... ela estava a espiar-me, a ver-me exercitar, sim definitivamente, era o que ela estava a fazer e não deu conta que entranhando-se na sebe aquilo iria acontecer. Quando ela se apercebeu da sua situação tive pena dela, e ajudei-a tratando-lhe das feridas, os meus olhos mesmo sem eu querer caíam sempre sobre aquele seio desnudo com o mamilo erecto apontado para mim, sem pensar toquei ao de leve, sem alarmar, como a asa de um passarinho, senti um arrepio por mim olhei-a nos olhos através do espelho e pressenti que talvez pudesse continuar. Mas não podia. Voltei as costas e saí do quarto, durante todo o dia perambulamos por ali, ela escrevia e eu lia, petiscando de quando em vez algo na cozinha. No dia seguinte tinha uma sessão de fotos, informei-a que sairia perto das oito se ela quisesse me acompanhar teria de estar despachada a essa hora. Quando ia no corredor ainda voltei atrás, ela estava de costas a arrumar a mesa onde estivera a trabalhar.
- Alissa. – deu um pequeno pulo, assustando-se. Ficou parada a olhar-me. – estás melhor, das tuas feridas? Levou a mão ao braço ferido.
- oh sim Sam, estou, dói menos e já desinfectei novamente, sim, obrigada por perguntares. – deu um ligeiro sorriso.
- Que nada. Bem então até amanhã.. Dorme bem.
- obrigada, tu também. – assenti e fui para o quarto.
De manhã depois da corrida matinal, tomei um duche e esperei que ALISSA aparecesse na cozinha, ela veio e com ela um perfume de bergamota.
-Bom dia. – disse ela num tom baixinho. Estávamos envergonhados um com o outro, eu não lhe deveria ter tocado.
-Alissa – cheguei perto dela e toquei-lhe no pulso – quero desculpar-me contigo, pela última parte, pelo menos, não gostaria que ficássemos estranhos um com o outro, afinal pouco nos conhecemos e se ficarmos assim, deste modo, não estou a ver como poderemos ficar mais conhecidos, gostaria que pudéssemos reiniciar o nosso convívio. Que pudesses esquecer que tive uma atitude imprópria contigo, eu não costumo ser assim, peço-te desculpas, sinceramente. – olhava muito séria para mim, com certeza não esperava esta atitude da minha parte.
-Ah….  Eh, claro Sam. Sim..  Claro… não te preocupes, está tudo bem.. Onde vamos? a revista para quem vais fazer as fotos? – mudou de assunto.
- Nobleman. Conheces?
- Claro, que sim, isso é ótimo. Fazem fotos ótimas, é muito bom para ti.. – ficamos assim a mastigar as palavras e o pão.
Fomos no meu  carro até ao aeroporto fizemos o chek In. Durante a viagem, Alissa falou sobre Doug e Lydia, os donos da Nobleman, dizendo que era um casal fora de série, juntos tinham conquistado um mundo de luxo, o supra sumo do design, artes, viagens, tudo direcionado para o homem moderno e com dinheiro, o melhor            “men’s style".
- Quererem-te incluir no modo de vida deles é muito bom para ti. A revista tem uma saída enorme. É uma das mais conceituadas do estados unidos.
- Bem sinto-me um pouco nervoso. – Disse-lhe
- Já devias estar habituado a isto, tens sempre tanta publicidade.
- Hum, não é bem assim nem uma coisa nem outra. Alguns conhecem-me mas outros nem por isso, ao que sei tu não sabias quem eu era.
-ah mas isso é porque me movo em outros locais.
-locais mais sérios? Se me permites perguntar?
- ah não, não é isso que quero dizer, apenas diferentes. E ainda bem, não é? Devido aos meus anteriores trabalhos é sempre bom sinal que eu não conheça alguém.
- É, isso é certo. Também haverá gente que não te quer ver por perto. – dei uma gargalhada. Ela ficou muito séria – ah desculpa, não te queria magoar. É que…  bem não deve ser fácil para ti também.
- Não, não é, mas não sou eu que me devo sentir mal mas sim quem faz o mal e que me faz ir fazer uma matéria sobre isso e sobre eles, eu apenas descubro a verdade e ponho-a a nu, ou não concordas com isso?
- claro que concordo, sendo que os casos que te passaram pelas mãos são dos mais cruéis. Ninguém em seu juízo perfeito pode pactuar com isso.
-ah nem imaginas quantos pactuam, Sam, por isso é que progredi na minha carreira. Se não fossem eles e tudo o que gira à sua volta, toda a  sordidez, eu escreveria para alguma revista de moda. – riu-se
-Humm desconfio que não moça, estarias da mesma forma em alguma revista entregue a casos sociais.. Não percebi é o que te fez mudar de rumo desta vez. Ou eu sou um caso considerado problemático nos meandros da elite? – encarei-a agora tinha de me explicar. – levantou os olhos para mim.
- Bem, por enquanto nada…  este é um trabalho que não me vai dar problemas, julgo. Talvez a Nina esteja a pensar que eu deva mudar de rumo, ou a revista, ou ela Própria esteja cansada.. Não sei…  se queres que te diga não sei.. – baixou novamente a cabeça para as mãos que tinha cruzadas no colo.
- Bem, também não interessa. Sou o que sou, não tenho nada a esconder, não sou produto de nada, tudo o que tenho a mim devo e a amigos, claro, esforcei-me bastante para conseguir singrar neste mundo, para deixar de ser apenas um “homem bonito”, como dizem por aí – olhei para ela que estava a sorrir.
-Hunmm, nada modesto.
- Não.. Apenas realista – e rimos. Desanuviado o ambiente a conversa fluiu, lá lhe fui contando a minha vida, ela perguntava eu respondia, sem subterfúgios, o mais sinceramente possível. A hora e meia de viagem passou num ápice, à chegada um carro da revista esperava-nos. Quando entramos no edifício reparei que ALISSA como tinha dito antes conhecia bem o empresário e a esposa, dois espécimes de beleza e simpatia, depois das apresentações efetuadas fui-me preparar para a sessão fotográfica enquanto ela ficou com eles numa amena cavaqueira.

Alissa

Tudo corria às mil maravilhas, Doug e Lydia foram super simpáticos e reparei que puseram Sam super à vontade, senti até o seu nervosismo a sair dele e deixando um homem muito profissional fluir, enquanto decorreu a sessão eu estive sempre presente, vi todas as facetas de Sam, ele ficava bem ali naquele mundo de luxo, estava tão dentro de toda a actividade que não dei por Lydia se aproximar.
- Bem amiga, diz-me cá que andas tu a fazer com este homem? Quando chegaste com ele assustei-me há alguma coisa que eu não saiba? – perguntou-me
- Não, fica descansada não há nada. – olhei-a para que ela notasse a sinceridade das minha palavras.
- sim? Mas então este não é o teu tipo de trabalho. Não ouvi dizer que tenhas saído da Life Time. – tinha os braços cruzados sob o peito e encarava-me muito séria.
-Lydia, juro-te que não há nada. Nina, sabes como é, desconfia até de si própria, a reportagem é realmente do mesmo teor, “onde está o defeito”, continua a ditar regras, mas este homem julgo que não tem ponta por onde se pegue, quanto a defeitos, quero dizer  lá os terá como qualquer ser humano, mas por enquanto não há nada.
-  hum é muito bonito. – dizia ela a olhar para ele.
-Ey.. Então? Doug não tem ciúmes? – ri-me
- Achas? Claro que não! Eu amo-o de todo o coração, mas sei apreciar o que o mundo nos dá de belo e este homem é um caso de rara beleza e se como tu dizes não tem nenhum handicap, então é um Nobleman e merece ser conhecido por isso… mas – voltou-se para mim novamente – se houver algo, pela nossa amizade quero ser uma das primeiras pessoas a saber. OK?
-OK, serás… mas espero sinceramente não ter nada para te dizer. – o objecto da nossa conversa estava em pose com uma camisola de gola alta branca e calças pretas junto a um carro desportivo, desde o cabelo aos acessórios, era puro luxo, entre uma foto e outra olhou para mim e sorriu. Eu devolvi com um certo ar de timidez.
-Alissa! – Lydia colocou uma mão no meu braço – estas a corar? A sério? O terror de Hollywood está a corar como uma colegial?
- ah?! Lydia, poupa-me que nada.
-Sei, ok.. Olha espero que para o teu bem e o meu, que estou a deitar esta reportagem para fora em menos de uma semana que o homem seja a perfeição, senão, querida estás tão fodida quanto eu. – beijou-me a face e saiu – vejo-te daqui a pouco.

Oh deus, que eu não me engane, que eu não me engane…

Onde está o defeito? Where stories live. Discover now