O Caçador E A Presa

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Sam

Tentei de tudo para me afastar, não poderia nunca dar certo por mil e uma razões, em primeiro lugar a profissão de cada um, um caçava e o outro era a presa, não gostava da minha posição, mas embora não arrependido por ter extravasado o que me ia na alma dentro do corpo dela, com a maior das ternuras e a maior das loucuras , não poderia tornar a acontecer mas ver Alissa enrolada numa toalha minúscula encostada à parede do corredor, com os olhos carregados de desejo, não é fácil, os seus olhos pediam-me mais e foi por um milésimo de segundo que não deitei tudo a perder e que me deixei levar por toda aquela sensação que o meu corpo pedia de uma forma voraz. Ela foi para o quarto fechou a porta e eu fiquei preso à parede até recuperar a força e a vontade de andar.
Tomamos uma refeição leve que D. Chrissie deixou no parapeito da janela da cozinha, fazendo um adeus para os dois com corações de mãos, respondi-lhe sorrindo-lhe e enviando beijos, amava esta mulher com todo o coração e alma, uma verdadeira guerreira que contra tudo e todos mudou a sua vida de um momento para o outro para dar um futuro condigno aos seus rapazes. Contei a Alissa, a vida da minha mãe e ela ouviu, perguntando ocasionalmente sobre uma coisa e outra.
- E o teu pai? - perguntou.
-Hummm - olhava para mim com uma ternura, não era pena como muitos faziam, era uma ternura genuína então resolvi ser o mais sincero possível. - Já o perdoei há muitos anos, não foi fácil crescer sem ele, mas Cirdan apesar de irmão foi também o meu pai, e escusado será dizer que a minha mãe fez de um tudo para que nada nos faltasse. Mas um pai é um pai e mesmo que se deva ter algum ódio de estimação, não se é capaz, não sei porquê, mas a mim pelo menos não me foi possível, e resolvi um dia ir ao encontro dele, já não era a figura que eu tinha feito dele, sabes, um homem grande que não precisava de nada nem de ninguém, era apenas um homem magro, doente, pequeno, e que precisava de mim e de Cirdan, então nós ficamos até ele morrer, de cancro na próstata.
-Por isso o apoio que tens dado ao Leukaemia e ao Lymphoma Research, foi por isso que criaste o Bloodwise.?
- Também, sim, muitas pessoas na minha família têm tido cancro, e ao começar com estas coisas, fiquei impressionado com o numero de vidas que toquei. Eu só quero fazer o melhor que puder para ajudar. O My Peakchallenge também é um orgulho para mim enquanto pessoa, logo no primeiro ano arrecadamos mais de um milhão de libras para estas instituições, o Peak faz com que as pessoas se envolvam, e se é pelo meu papel como Jaimie ou pela minha aparência, não importa se me dá a chance de ajudar, fico muito feliz. - olhei para ela, estava com os olhos marejados. - Então? - estendi a mão para lhe tocar mas de imediato a retirei. Ela abanou uma mão na frente do rosto fazendo descaso, do que estava a sentir.
- Ah, não ligues, estou emocional. Mas fizeste-me pensar que não tenho feito nada em prol de ninguém nos últimos anos.
- Tu não tens feito?? Já viste o que o movimento #Me too alcançou? Quantas mulheres não se sentem hoje agradecidas a ti? E viste Weinstein foi finalmente preso e outros tantos no meio, que foram desmascarados, as mulheres tomaram a coragem nas suas mãos devido a ti Alissa, isso não é de pouca importância, é enorme. -
-Sim é - deu uma pequena gargalhada e voltou ao sofá. - é sim, e ainda há muito por aí, aqueles que continuam a ameaçar e destruir carreiras, fazendo acordos de confidencialidade com vítimas, pagando para que se calem...sim tens razão.
- Claro que tenho. - fui até perto dela sentei-me ao seu lado. - haverá sempre muito para fazer, e nunca estará tudo feito, mas se ao longo da nossa vida formos tentando ajudar o próximo, podemos assegurar mudanças na vida de alguém e por muito menos se vive não é?
-É! - ficamos parados, não havia muito mais para dizer como íamos ficar estes 14 dias juntos é que não sabia, tínhamos de inventar muita coisa para fazer, para não passarmos ao mais fácil de tudo mas muito mais complicado.
- Não sabia que sabias tanto de mim - disse-me.
-ah, sei tudo o que há para saber, por isso aceitei a tua intromissão na minha vida. Não foste a única a fazer pesquisa. Sei que és uma mulher que vive para a carreira, os teus pais faleceram num acidente de carro, tu foste criada por uma tia, irmã do teu pai, que também já faleceu. Não tens irmãos. - levantou-se do sofá a esfregar as mãos uma na outra.
- Há wisky? - Não se sente confortável, quando é dela que se fala.
- Sim. - fui até ao bar, tirei dois copos. - Sassenach?
-Humm? - olhou muito séria.
-Se queres do meu, sassenach? - afinal afetava-a.
- ah, claro... sim. - veio perto de mim entreguei-lhe o copo. - por favor sê generoso.
- É forte. - mas despejei mais um pouco.
- Posso beber, não vamos a lado nenhum. Não vou conduzir. - deslocou-se para as janelas.
- vais sentir falta da tua vida social por aqui.
- Hum, diz o tacho para a sertã, tu que nunca paras. - fui para o pé dela.
-Sabes do que mais gosto daqui?
- Não. - fui até ao corredor, no banquinho da entrada estava sempre uma manta. Fui até ela enrolei-a na manta abri a janela e levei-a até à varanda.
-Olha para cima Alissa. - levantou os olhos e como eu, ficou abismada com aquele céu.
-Que lindo Sam, há muito tempo que não via um céu tão bonito.
- Durante o dia normalmente não se vê nada, para depois termos noites como esta, o céu mais bonito que há no mundo é com certeza aqui. - olhei... e nos olhos azuis dela via o reflexo das estrelas, era muito bonita.
- Quase tão bonito como o céu da Noruega. - agora ofendeu-me.
-Alissa, nada é mais bonito que isto. - tornei a olhar o céu - Nem a aurora boreal, olha esta magnificência. - olhei... estava virada para mim. Paramos o olhar dentro um do outro, novamente aquela sensação que me fazia perder e sentir um fogo por mim acima... senti- a chegar-se a mim, levantou os braços ao redor do meu pescoço agasalhou-me com a manta, não resisti a puxa-la pela cintura para a sentir mais perto, olhos nos olhos, beijei-lhe a boca, os lábios rechonchudos ajeitaram-se nos meus, e abriram-se à minha língua que procurou a dela, bebi-lhe a doçura entreguei-me à sensação sem deixar de a ver, eu poderia amar esta mulher.

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