Confissão

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ALISSA

Acordei, de madrugada sobressaltada com o barulho de uma porta a fechar, Sam, olhei para o relógio 5:30h da madrugada, como dizia o meu pai, chegou cedo na manhã. Fiquei à escuta, não se ouvia mais nada, que teria ele pensado do nosso beijo, será que ficou tão atónito quanto eu? Ajeitei novamente a almofada e prontifiquei-me a dormir mas o sono não chegava, dei voltas e reviravoltas na cama, desisti, levantei-me e fui até a cozinha. Um chá, podia ser que me acalmasse, sem fazer barulho fi-lo e fui para a sala, sacos espalhados pelo sofá, um deles dizia Caitriona, eram os presentes da copartner por alguma razão ele trouxe-os com ele, vi os sapatos Laboutin deixados ao inicio do corredor que dava para o quarto dele, a gravata, apanhei-a do chão e coloquei-a na barra da cadeira, não sem antes passar a mão por ela o nó estava desapertado, cheirava a Sam. Eu tinha de arranjar forma de sair dali, como podia convencer Nina? Liguei a televisão pus o som baixinho as imagens que estavam a passar eram sobre o novo vírus que estava a assolar o mundo, mais a Europa por enquanto, dizia a locutora que as pessoas deveriam ter cuidado, não se aproximarem de gente com tosse, febre, veio-me à memória a anfitriã de ontem na première, que tossia imenso enquanto entrevistava Sam, bolas, não faltava mais nada. Talvez esta fosse uma boa saída para deixar a casa dele, peguei no telemóvel e liguei para Nina. Depois de tocar várias vezes lá me atendeu numa voz rouca de sono:
- Sim? -
- Nina, sou eu Alissa.
- Hummm, o que foi, que se passa? Estás bem a ver as horas?
- Eh... sim desculpa lá, mas precisava mesmo de falar contigo, esta situação…
- Que situação?
- A minha Nina, de estar a aqui enfiada na casa de Heughan, eu preciso ir para casa, para a minha casa!
- Não estou a perceber, estás em trabalho querida .  E  pelo que tenho visto, isso tem sido ótimo, viagens, festas. Para mim estás de férias. – aquela voz irónica.
- Não, não estou, sabes que eu levo muito a sério o que faço. – disse-lhe sussurrando mas demonstrando estar zangada.
- Eu sei querida, até demais. Mas diz lá como podes ir para casa, eu quero o Sam Heughan desvendado.
- Não há nada Nina, nada, o homem é aquilo que demonstra ser, não há nada. Além disso já ouviste falar no vírus? A pessoa não pára, abraça e beija toda a gente. É um perigo, um invólucro de contágio.
- Credo Alissa, exagerada.. Mas se é assim, menores são as hipóteses de te vires embora, se por acaso estiveres infectada não podes vir propagar isso para esta zona. – riu-se.
- Oh, mas….  Ninguém está infectado, apenas pode vir a estar.
-Pois não sabes. Chega Alissa, quero essa matéria.  E  até ao fim do mês de Março não há negociações quanto a isso. Vai mas é dormir, não foste à première?
- Fui, mas voltei mais cedo. – estava furiosa com Nina.
- Não ficaste com ele? É naqueles sítios com um pouco mais de álcool que as coisas às vezes aparecem, sabes disso tão bem quanto eu. Alissa, vê se me entendes eu também tenho de dar conta dos passos dos meus colaboradores à direção, tu não és diferente por mais amigas que sejamos, ou por mais que eu goste de ti. Tens de fazer o que esperam de ti, uma boa reportagem como é o teu hábito, não estou a entender tantas reservas quanto a Heughan, ou passa-se  mais alguma coisa? – não havia volta a dar.
- Não nada. OK vou dormir, adeus Nina. – desliguei sem a deixar despedir-se. Coloquei a chavena no lava loiça e fui para o quarto, tentar dormir, o que consegui daí a uns minutos.

SAM

Fiquei por mais uns minutos na varanda, com a garanta seca, mas os lábios húmidos dos dela, que beijo. Eu estava de quatro por aquela mulher, saí à procura dela, não a encontrei em lado nenhum, fui até a entrada e perguntei a Big Mike se a tinha visto, disse-me que mesmo com a insistência de Sally para que ficasse ela tinha ido num táxi. Fiquei desolado, mas o show tinha de continuar, Alissa iria para casa, para a minha assim o esperava, a noite foi delirante as entrevistas, os fans, tudo muito bom, Caitriona, Sophie, Richard sempre animados, não consegui demonstrar menos do que estava a sentir, estava feliz a vida estava a correr bem, com toda a certeza nada me iria abalar nem aquela deusa de olhos azuis. Graham, como sempre mais atento a meio da noite puxou-me para um canto com ele :
- Então rapaz, conta aí o que te aflige, hum? – colocou-me um braço sobre o ombro e caminhamos até aos sofás ali dispostos com mesas onde o meu wisky era rei. – é  que estou a ver só sucessos ao teu redor, mas de ti não sobressai isso tudo, o que se passa? – eu já tinha bebido uns copos, senti-me triste de repente.
-Nem eu sei bem, como te posso contar o que não sei.
- Bem alguma coisa será, não será Caitriona de novo, pois não? já tínhamos chegado à conclusão que isso não ia dar em nada, não foi?
- Não, não é Caitriona, sossega, Caitriona está feliz, e se ela está feliz eu também estou. Não é nada. – fiz menção de me levantar mas Graham puxou-me novamente para baixo.
-Há qualquer coisa por debaixo do pano. Quem era a deusa de laranja? – olhei para ele e imediatamente reconheci o entendimento no seu rosto.
-Hummm, uma mulher que me está a  atormentar. – passei a mão pelos cabelos, Graham colocou mais wisky no meu copo. – Gostas?
- Gosto, adorei, assim que vimos a garrafa, ficamos delirantes, Gwen adorou achou super classy – sorrimos – mas é ótimo sim, muito puro. Vai fazer sucesso. Portanto não percebo, tens quase tudo a que te propuseste, tens o mundo a teus pés e mesmo assim não te encontras satisfeito? Cuidado, não levantes os pés da terra, Lad.
-Não tem a ver com isso, estou bastante satisfeito e agradecido por tudo e todos os que me rodeiam mas.. – e contei-lhe tudo sobre Alissa, quem ela era, o que fazia e onde tem estado, a tudo Graham apenas balançava a cabeça, deixando-me expurgar todas as minha sensações, como um padre ou um psicólogo, quando lhe contei que a tinha beijado e como me tinha sentido, olhou de frente para mim com os olhos bem abertos.
- E agora onde ela está?
- Bem acho que foi para casa, para a minha casa. Julgo, ela é muito profissional, não iria sem mais.
- Sei, bem rapaz, tu sabes como eu sei, que ela não vai encontrar podres em ti, a tua maçã é muito sã.
- Ahahahahah, certo Graham.
- A sério Lad, quem te conhece  sabe bem a pessoa generosa, amiga, Leal, honesta… que tu és e poderia aqui desfiar enormes elogios e nenhum seria menos que verdadeiro. Mas dizes que ela te beijou, com o mesmo ímpeto que tu a ela? Então não sei, mas talvez seja uma coisa boa, não?
- É beijou… 
- Então querido Sam, que estás à espera para avançar, tudo se ganha nada se perde numa relação, não investir por medo, quando se quer tanto, quando se deseja tanto, isso não é coisa para ti…  - bateu-me várias vezes nas costas – hum? Bem, mas agora vamos despachar esta garrafa – virou-se para trás de nós e chamou o resto elenco, entre vivas e conversas animadas regadas com wisky “sassenach”, continuamos pela noite fora, Big Mike levou-me a casa, entorpecido de cérebro e físico fui atirando com tudo, podia ser que ela acordasse e viesse até mim, alguém ia acabar a noite numa apoteose, caminhei pelo quarto e mandei-me para cima da cama. Não me lembrei de nada mais, só via a sua boca, sentia-a minha.
Acordei na escuridão do quarto, precisava beber água, levantei-me e a caminho do corredor ouvi um sussurro, devagar apercebi-me que ALISSA falava com alguém ao telefone e que esse alguém a contradizia pois ela parecia estar furiosa, queria ir-se embora. Até o novo vírus serviu de desculpa. Voltei para trás, iria fazer-lhe a vontade, se ela não queria continuar com isto, eu não iria obrigá-la a isso, bebi água da casa de banho do quarto, deitei-me novamente, amanhã, daqui a pouco iríamos terminar com isto.

ALISSA

Quando acordei, já Sam estava na cozinha a comer.
- Bom dia, correu bem o resto da festa? Eu.. Queria..
- Alissa, vamo-nos deixar de coisas ok? Isto não está a resultar como tal, estás dispensada eu mesmo falo com a Nina, além de que com esta história do novo vírus, não deveremos estar em constante exposição pelo que dizem, e eu ainda tenho muito que fazer, coisas que não posso parar agora mesmo que quisesse, antes de ir para a Escócia tenho de ir ao México, e ainda tenho dois programas para assistir além da Esquire e da Cigars& spirit, portanto o melhor que tens a fazer é ficar por cá, adiantares as tuas notas, depois se quiseres ir até à Escócia comigo, serás bem vinda, mas julgo que não há necessidade agora de cobrires esta viagem ao México principalmente. – Não parou um segundo para olhar para mim, preparava o seu almoço e o meu andando de um lado para o outro, sem me deixar dizer qualquer palavra.
-Parece que tens tudo decidido, mas estás-te a esquecer de um pormenor, Nina.
- Ah, se eu não quisesse nem aqui estarias, eu decido. Só te pedia que fosses à Escócia comigo, queria dar-te a conhecer outro mundo, e ali sou mais eu. Hum? Que me dizes? E a Escócia é linda. – piscou-me o olho.
-ok seria um gosto. Mas e Nina?
- Não te preocupes. – Levou a minha mãos aos seu lábios e beijou-a, a mesma sensação de ontem aflorou por mim. Olhei para ele ternamente.
- Obrigada Sam.











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