Gosto Tanto De Ti

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Alissa

Depois de nos despedirmos de uma mãe chorosa, um irmão condoído, uma cunhada amorosa e um sobrinho cheio de conselhos para não ligarmos a nada do que se passava no mundo online, fomos embora a caminho do aeroporto, conforme Sally tinha indicado estava um pequeno jacto à nossa espera, o aeroporto estava vazio, tanto o piloto, o co-piloto e a comissária de bordo, todos de máscaras e luvas, eu e Sam não levávamos nada, notei que a mulher olhou de lado para nós, como se fôssemos bichos estranhos, um tratamento a que Sam não estava habituado.
- Se olhar fosse gelo, estaríamos congelados – disse-me, eu concordei mas não disse nada. – acho que estamos a ser condenados, por não virmos protegidos. – sentamo-nos lado a lado, seria uma viagem de dez horas, faríamos a viagem de noite.
- Podemos dormir, toda a noite,  e quando chegarmos a Los Angeles podemos dormir toda a noite novamente, porque vamos chegar à meia noite, no horário dos Estados Unidos, ficamos bem descansados o Jet Lag não nos apanha. – disse-lhe bem humorada.
- É, pelo menos isso. – estava meio carrancudo.
- Estás aborrecido comigo? – perguntei-lhe passando-lhe uma mão pelo seu rosto.
- Não, não contigo. Desculpa, nunca contigo. – abraçou-me para ficarmos coladinhos um no outro. Deitei a minha cabeça no seu peito.
- Então é com o quê? Eu disse-te que poderias ter ficado.
- Não, não é isso, é que…  Finn disse-me para ver o Twitter  e, ah... deixa não é nada sério. – levantei-me para olhar para ele.
- Diz-me o que foi? Nunca mais liguei o telemóvel.
- Só umas fãs, pior que as outras da outra vez, estão a aniquilar-me, acho que já me chamaram de tudo.
- Porquê? – estava com um ar desgostoso.
- ah porque estou com uma outra mulher que não quem elas querem, só isso.
- ah o problema sou eu.. Bem pois, disseste-me para não ligar e agora estás chateado por causa disso. Como posso não ligar se tu ligas?
- É, tens razão, deixa… vamos descansar. Diz-me o que vais fazer primeiro? Não deves poder andar na rua.
- Como jornalista posso tudo e eu tenho de ir à revista. E tu?
-Eu? Eu nada, só vim contigo. Era para começarmos a rodar, a sexta temporada de Outlander mas com as coisas assim não vamos começar tão depressa, portanto vou ficar ali pela tua casa, ou talvez vá até à minha. Faço uns vídeos para o MPC.
- Hum…  OK. – e no silêncio da noite senti que ele adormeceu
Deixei passar uns minutos e fui até à casa de banho, levei o telemóvel comigo, encerrei a porta e liguei o Twitter, dei comigo a rolar as mensagens desagradáveis, eu passei de ídolo a marginal em três tempos, já não era a heroína que tinha desvendado os abusadores, eu já era a cabra que tinha levado Sam através de uma pandemia, sem cuidado nenhum, meu deus aquilo era pura violência, como era possível mulheres tratarem assim outras mulheres e tudo por causa de um homem, até a morte desejaram a Sam, havia mensagens de apoio também, pessoas que dirigiam o melhor dos carinhos, alguns colegas dele de Outlander saiam em sua defesa e esses eram também massacrados, isto não era bom, eram poucas as que nos destratavam mas eram muito violentas. Ele tinha razão em estar aborrecido, nunca deveria ter sido mal tratado pelas fãs, era sempre o Sam lindo, o Sam rei dos homens, é.. não deveria ser fácil bater de frente com comentários deste género. O que podia eu fazer para amenizar isto? Deixei uma mensagem em meu nome no meu perfil.
-"Toda a minha vida profissional foi para desmascarar os abusos que as mulheres sofrem no dia a dia, em casa, no trabalho, para mim é prioritário levar à barra da justiça todo e qualquer prevaricador, nunca tive muita confiança no género masculino, por todos os exemplos que me rodearam e que felizmente alguns consegui pôr a nu, por mim, por ti e por ela. As mulheres unidas são mais fortes é por elas que luto todos os dias, nunca me vi no lado contrário e todos os humanos que me rodeiam são sempre os melhores do mundo. A minha vida deu uma volta de 180 graus este mês, porque me rodeei dos melhores . Estou feliz!"  - Não eram necessárias mais palavras, se o nosso “casamento” viesse a lume saberiam que estou feliz e que, é só o que desejo para mim e para Sam. Voltei para o meu lugar e sentei-me bem junto daquele que era o principal culpado pelo meu estado de ânimo. Estava feliz sim, como podia não estar? Agora iríamos pôr à prova a nossa relação, agora iríamos apresentar-nos ao mundo. Estava tão descansado no seu sono, era tão bonito este homem, deitei a cabeça no seu peito novamente e embalada pelo som do seu coração deixei-me dormir.
Chegámos a casa cansados, deitámo-nos.
- Sam estas a dormir?
-Ainda não. – virou-se para mim e na penumbra do quarto ficamos de frente um para o outro.
- Estás preocupado? Com o que as tuas fãs dizem de ti? – passou o braço pela minha cintura e aproximamo-nos.
- Sinceridade? – deu-me um leve beijo na ponta do nariz.
- Sempre!
- Então… não é preocupação, é desgosto mesmo. Foi muito difícil chegar até aqui, sempre fui acarinhado, e desde o início de Outlander que esse carinho aumentou. Penso que talvez tenha me mostrado demais, mas eu sou assim, não quero dizer que sou inocente, mas em tudo em que me meto dou tudo de mim. Não tenho subterfúgios, sou transparente, aquilo que apresento ao mundo é aquilo que sou. Custa-me muito ver que afinal há quem não mereça ver-me como sou, talvez se eu fosse fingido, frívolo, talvez fosse melhor para mim, mas simplesmente não sei ser de outra forma.
- Sam, quando Nina me pediu para fazer a reportagem sobre ti, não acreditava no que via, no que lia, pensei que fosses mais uma cara bonita, chata, que vivia de adulações. Queria rabiscar a tua vida toda para te encontrar um defeito, que coubesse na minha reportagem.
- E encontras-te? – meteu o meu cabelo detrás da orelha numa carícia.
- Não, nada de grave. O teu defeito maior é seres demasiado humano, demasiado verdadeiro. Talvez devas protegeres-te, talvez haja gente que não te merece. Não sei… eu sou a que está do lado de lá da página, do lado de lá da fotografia, do lado de lá das palavras, não sei bem o que é ter sempre os olhos postos em mim. Além de que eu se apareço na mídia é  sempre sobre o meu trabalho, ninguém tem interesse em saber o que eu bebo, o que eu como, ou quem me deito, ninguém me exige que eu viva a minha vida de acordo com algo que outro alguém imagina, eu não sei o que é isso, talvez devas procurar ajuda de quem passe pelo mesmo que tu. Talvez Caitriona te possa ajudar, afinal foram vocês que começaram isto tudo.
- É, talvez. Começamos tudo tão inocentemente, sem sabermos bem o alcance das nossas ações, propunham-nos tudo e nós aceitávamos sem reservas. Mas ela foi sempre mais direta,disse sempre a verdade.
- E porque é que tu nunca o fizeste? Em todas as entrevistas, tiveste as mesmas oportunidades  que Cait, porque nunca o fizeste?
- Eu disse, várias vezes. Sim, recordo-me perfeitamente que disse várias vezes que não havia nada entre mim e ela. As pessoas apenas não ouvem, vêm coisas onde não existe nada. Tudo o que eu digo ou tudo o que eu faço para essas pessoas são recibos de uma hipotética relação entre mim e Cait, depois Cait também não quis emitir nem uma foto do casamento, se calhar isso tinha acabado com todas as confusões.
- Cait tem direito à sua privacidade, e Tony que eu saiba é uma pessoa que não gosta dos palcos é um homem de bastidores. Sam tens de resolver tu, tu e Cait , é uma situação dos dois que os dois têm de resolver, e o mais depressa possível, porque o que dizem de Tony é tão grave como o que dizem de mim. Eu amo-te, gosto muito de ti, quero viver bem contigo quero fazer uma vida contigo, mas com esta coisa tão dúbia entre nós, é difícil Sam poder viver livremente, amar-te livremente. - agarrei-me a ele sentindo-o em mim, beijei-o - O meu caminho é contigo Sam.. Sempre!



















Onde está o defeito? Where stories live. Discover now