Só Nós Os Dois

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Alissa

Vivíamos dentro de uma redoma, e apesar de idílico sabia que quando saíssemos, o mundo estaria lá fora à nossa espera com todos os problemas que lhe eram inerentes. Pelas notícias que chegavam de um dia para o outro os casos de infectados com coronavirus era de 1543 para 1950, já se registavam 71 óbitos. O vírus alastrava por todo o mundo, não fazendo distinção de classe social, apenas nas faixas etárias, morrendo mais pessoas idosas que pessoas novas, mesmo sem querer e confinados na Escócia num anexo, e depois de 13 dias juntos a ansiedade estava a corroer-nos. Se Nina queria que eu ficasse a conhecer o actor Sam Heughan tinha que lhe dizer que fiquei a conhecer melhor ainda, o homem. Era um cavalheiro persistente, amável, honesto, simples, e amigo, os defeitos existentes eram os de qualquer ser humano, era melhor que qualquer outro ser humano, se o podia dizer. Nunca tinha conhecido um homem tão afável e digno de ser conhecido. O que nos iria acontecer daqui pra frente ninguém saberia. Jantamos em silêncio, cada um de nós ouvindo os seus próprios pensamentos.
- As fronteiras estão fechadas não há forma de voltar para os Estados Unidos. Acho que vou ter de abusar da hospitalidade da tua mãe mais um tempo.
-Claro Alissa, não há problema. Ficamos por aqui, se quiseres podes mudar-te para a casa grande, mas o meu canto é este, se quiseres ficar aqui está tudo certo. – assenti.
-Obrigada Sam, se não te importares fico aqui contigo. Eu não sei o que hei-de fazer, sinceramente isto está a dar comigo em doida. Não quero abusar e peço desculpa, por isso, se pudesse ia para casa.
-Humm? E isso agora é porquê? Que se passa? – olhei para ele e sem querer fiquei emocionada. – O que foi?
-Ah Sam as tuas fãs odeiam-me. – tinha visto o meu tweter de manhã e as palavras delas ainda me ressoavam no ouvido. – puxou a sua cadeira  e o seu prato para  perto de mim, passou a mão na minha cabeça.
- O que foi? Não estou a perceber. – puxei do meu telemóvel e mostrei-lhe as notificações no meu perfil. Ele ficou vermelho de indignação. – Cristo,  que é isto? Que falta de empatia… para ser simpático. – deixou o garfo no prato e de boca aberta olhava do telemóvel para mim. – Cristo, onde é que está gente tem a cabeça?
- ah Sam és uma figura pública e eu também, é natural, eu é que estou mais sensível, devido a tudo isto – fiz um gesto com os braços abarcando tudo, incluindo a nós os dois.
- Somos figuras públicas, mas ninguém tem o direito de magoar ninguém, só por da cá aquela palha. Ninguém sabe o que sinto por ti…. – olhou no meu rosto e depressa baixou o olhar para o telemóvel – ou tu por mim. – imagina se alguém tem o direito de ofender assim desta forma tão asquerosa uma amiga minha. – passou a mão pelo cabelo – o que posso fazer?
-Nada, não podemos fazer nada. O melhor é nem olhar para isso…
-O melhor é fazeres o que fiz, dás-me licença? – apontou para o telemóvel
-Para quê que vais fazer.? –
- Bloquear esta gente toda, não interessam nem ao menino Jesus. É gente má, pura e simplesmente.
-OK, fá-lo! – assim fez, um a um apagou os tweeters daquela mulheres que me tinham notificado.
-Pronto e agora faz como eu desliga a net. – pegou nas minhas mãos, beijando-as – amanhã almoçamos com a minha mãe, preciso estar com ela, depois voltamos para aqui, tudo bem?
- Tudo ótimo, não me importo de ficar contigo.
-Ainda não te fartaste?, de mim quero dizer.
- Hum, hum, não ainda não. – agarrei-o pelas orelhas e beijei-o, fui totalmente correspondida.
De noite, não abrimos a TV jogamos um jogo da nossa infância, onde um dizia uma letra e tínhamos de encontrar nomes, cores, frutos, países que iniciassem por ela, rimos muito, agarrávamo-nos como crianças não deixando os pensamentos ruins infiltrarem-se em nós. Quando por fim concluímos o alfabeto, estávamos mais excitados que outra coisa, levantou-se foi buscar uma das garrafas do seu wisky dois copos e sentou-se no chão comigo.
- Vamos apanhar uma bebedeira, os dois. – deu-me um copo despejou o líquido dourado nele encheu-o quase até ao topo e despejou outro para ele. – vamos ver o que fazemos com os copos, ver para o que nos dá, hum? – ri-me.
- Não sei, não deve ser uma boa ideia. – bebeu um gole enorme. – eu acho que tenho má bebida – disse-lhe bebiricando meio envergonhada.
- ah é? Bem… má bebida pode ser interpretado de muitas formas, o que é que te faz?
E passado uma hora e  depois de vários copos mostrei para o que me dava, para ser uma depravada sem pudor algum, sem filtro dancei nua à frente de um Sam completamente embasbacado e com um olhar enviesado. Despi-o e fiz-lhe uma lap dance, encorajando-o para que me seguisse, ao qual ele não se fez de rogado, aplaudiu, encorajou, dançou agarrado a mim, soltos de tudo fizemos amor encostados à parede, de uma forma louca e apaixonada. Acabámos no chão da sala deitados e exaustos, sem força para nos levantarmos dormimos ali no calor da lareira. Durante a noite senti-o mais uma vez a beijar-me entre as pernas e iniciámos mais uma corrida louca e desvairada, caímos por cima um do outro, ainda falámos em ir para o quarto, talvez tivéssemos pensado que nos estávamos a mover para lá, mas como o sol da manhã e uma D. Chrissie com : OH my God Sam, oh my God, comprovaram, não chegámos nem ao corredor. Atrapalhados e confusos tentavamos levantar-nos e tapar os nossos corpos sem sucesso, D. Chrissie atirou-nos umas mantas da cama para nos cobrirmos, doía-me imenso a cabeça e Sam estava com uma cara tão doente quanto a minha, sentados no chão sem entender de onde tinha aparecido a sua mãe, isto era o pior dos pesadelos, não era assim que esperava vir a conhecer a senhora.
- OH desculpe…  desculpe D. Chrissie, - tentava colocar-me de pé agarrando – me a Sam, que tentava fazer o mesmo.
-Mãe, que coisa... que estás aqui a fazer? porque não esperaste, que fossemos ter contigo? – ele tinha um olho aberto e outro fechado, os cabelos todos desalinhados, a tentar tapar-se com a minúscula manta, que deveria ter sido para mim, enquanto eu tinha um cobertor enorme e só se me viam os olhos semicerrados e o cabelo arrepiado.
-Sam, tinha saudades tuas, hoje já podes sair. Mas estou a ver que o melhor é curarem a bebedeira que tem em cima. Sinceramente Sam! – e saiu finalmente!, olhamos um para o outro e dissemos em uníssono :
-Sinceramente, Sam! – ele ainda acrescentou – coitada da minha mãe – rimos a bandeiras despregadas da situação, ainda estávamos bêbados, agarramo-nos um ao outro e fomos para a cama aos trambolhões, batendo nas paredes, deitamo-nos  sem cuidado, com força  e a cama deu de si – oh. Oh – catrupuz a cama partiu-se e nós partidos com rir, agarrados até que sem mais voltamos a ficar sérios e a amar-nos novamente, esquecidos do mundo, da mãe de Sam…  so nós dois e uma bebedeira maior que o mundo. Adormecemos!

Onde está o defeito? Where stories live. Discover now