Desentendimento

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Passamos os dias seguintes a arrumar o anexo, refizemos a cama, mas passou a ser assunto tabu, Finn que de vez em quando passava para ajudar, é que se ria de cada vez que nos via a tentar pô-la de pé. Mas nenhum de nós fez mais comentários e o assunto foi esquecido. Quando finalizamos aquela tarefa passamos a fazer passeios a cavalo, normalmente levava-mos lanche e partia com Sam à descoberta da propriedade, durante todo o dia, não se via ninguém, não havia problema, continuávamos a ser praticamente só os dois, as vezes à noite ele perdia-se nas suas publicações ou entrava no Mpc com Valbo, eu aproveitava para organizar a minha matéria, por vezes ligava a Nina, só para saber como é que ela estava, uma das noites ela não atendeu, tornei a ligar várias vezes e no dia seguinte tornei a fazê-lo até que a preocupação me estava quase a matar e liguei para o telefone fixo da revista.
- Life Time, bom dia.
- Bom dia, é Alissa Knox passe-me ao escritório de Nina, por favor.
- Alissa? é Nora daqui, está tudo bem contigo? Estás bem?
- Sim claro, Nora e tu? Tudo bem?
-Sim eu estou bem. Quer dizer mais ou menos, estamos todos tristes por aqui
-Porquê? O que se passa?
-Oh Alissa, Nina está doente, está infectada com o Covid, está no hospital. Estamos muito aflitos por causa dela.
- Meu deus, não sabia de nada. Não vi notícias nenhumas sobre ela na TV.
-É que ainda não saiu a noticia, temos estado a segurar, mas julgo não conseguirmos mais, provavelmente sai hoje.
- Meu deus, eu queria tanto estar aí.
- Ah! Para quê, Alissa, não a podemos ver, nós temos a porta fechada a maior parte do pessoal está em casa. Este atendimento estamos a fazê-lo rotativamente. Isto está de loucos. Tu estás na Escócia, não é?
-É, estou. As fronteiras estão fechadas não posso ir para aí. Meu deus, que agonia.
- Ah isso é… uma agonia. Olha Alissa não venhas, os Estados Unidos estão a sofrer bastante neste momento com este vírus, não se tomaram as devidas precauções no tempo devido e olha o que deu.
- Sim, tens razão. Bem Nora, cuida-te e olha se puderes vai dando noticias sobre Nina. Eu também te vou telefonando se não te importares.
- Claro que não me importo, ainda tens o meu número pessoal?
- Sim tenho, obrigada Nora. – desliguei com um peso no coração, Nina, apesar de ser minha chefe era a minha maior amiga, e eu não estava lá para ela. Nem podia. Comecei a chorar baixinho por ela e por esta pandemia que estava a deixar doentes pessoas tão fantásticas, e que eu amava tanto.
- Alissa, que foi? – Sam  estava à porta da sala, veio caminhando até mim, sentou-se ao meu lado e abraçou-me – o que foi? – entre soluços lá lhe disse:
-Nina está doente, está hospitalizada, sozinha, ela como eu, não tem ninguém, sempre fomos o apoio uma da outra, e eu não posso estar lá Sam, para ela, para a confortar, que merda de  doença é esta que nem nos deixa abraçar os nossos amigos. Parece castigo da mãe natureza, por termos sido sempre tão impessoais, por termos deixado de lado as relações humanas e vivermos apenas para o superficial. Queria tanto estar com ela neste momento. – chorava imenso, ao mesmo tempo que sentia uma raiva enorme de tudo e todos.
- Mas tu não és assim, com certeza se for castigo não é para ti – Sam tentava consolar-me. Levantei-me, não conseguia estar parada ao mesmo tempo que derramava lágrimas de dor.
- Que sabes tu de mim, Sam?
- Eu?... sei pelo que tu me contaste da tua vida, pelo que li, eu já te conheço Alissa. – ele continuava sentado a olhar para mim. Franziu o rosto – achas que não te conheço?
-Ah não sei, não sei mais nada. Só sei que não devia estar aqui, neste país estranho, quando todos os meus compatriotas estão lá, onde está o sofrimento e  eu estou aqui no bem bom com o "homem do momento" a viver não sei bem o quê – passava as mãos pelo cabelo nervosamente – eu tenho de ir para lá. Como posso estar aqui? – e apontei para ele e para tudo o que nos rodeava – assim…
- Homem do momento? É o que sou para ti? Pensava que era um pouco mais que isso. – Levantou-se, colocou as mãos nos bolsos das calças  - há dias disseste-me que me amavas, ou isso foi da boca para fora?
- Eu…  não disse nada – virei-lhe as costas, afinal ele não estava a dormir como eu tinha pensado. – e se disse.. Foi… ahhhh… sei lá Sam, deixa-me em paz! – saí de casa,  com os olhos cheios de lágrimas sem bem ver o caminho, entrei nos estábulos e deixei-me estar ali, eu não tinha mentido, eu amava-o, mas o sentimento de desolação por Nina, não me deixava pensar, precisava estar só, precisava pensar a minha vida. Eu não podia continuar ali. Eu tinha de ir para L.A. Deixei-me ficar, ali no escuro, os cavalos tinham qualquer coisa de calmante neles. Tinha de me acalmar, Sam não tinha culpa de nada, eu fui para a Escócia por minha livre vontade, ele não me obrigou a nada, precisava pedir desculpas, menti dizendo que não lhe tinha dito que o amava, se virasse o bico ao prego não gostaria muito de mim neste momento. Voltei a casa, havia luz no anexo, fui até lá. Sam estava sentado à mesa da sala com as mãos na cabeça.
-Perdão? – disse-lhe – Menti-te! Fiquei muito exaltada por Nina, ela é mais que uma amiga para mim, não poder estar com ela, é dilacerante. Mas eu... continuo a amar-te.
- A mim? Ou ao homem do momento? – Levantou- se veio até mim, calmamente, parecia uma pantera em busca da presa– é  o que sou para ti? O homem bonito das capas de revista, o actor que leva ao delirio as mulheres, só por sorrir ? – agarrou-me e beijava-me o pescoço, baixou uma das mãos e subiu a minha saia apalpando-me, mas sem carinho, era qualquer coisa, misturada com.. Raiva?
- Sam, pára com isso!- mas ele continuou agarrou-me o rabo para me chegar a ele e senti como estava excitado.
- É isto que queres de mim, sexo? Hummm? Faço-o bem, podes sempre dizer no teu artigo, que não tenho defeitos principalmente na cama, hummm que gozaste ao máximo com o homem do momento, quantas vezes atingiste o orgasmo comigo? Não te deixei mal uma única vez pois não?
- Sam! Pára, compreendo que estejas magoado…..
-Magoado, amor? Não eu não estou magoado. – largou-me e afastou-se de mim como se tivesse asco. – eu estou…  desiludido. Mas não és a primeira e com certeza não serás a última. – virou-me as costas e saiu batendo com a porta.



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Onde está o defeito? Where stories live. Discover now