Adeus Nina

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Alissa

Nunca me tinha "casado", mas comecei a entender ali naquele momento porque é que as noivas choravam, a emoção era imensa, a cumplicidade daquele momento com tudo o que nos rodeava era tamanha, a simbolização dos quatro elementos era palpável parecia até que realmente os quatro elementos rodopiavam à nossa volta. Sabia que Sam tinha ficado, curioso e espantado com os meus votos mas nasceram da minha intimidade, do meu espírito, era tudo aquilo que eu queria e necessitava para os dois, só assim na igualdade de um relacionamento duas pessoas podiam crescer e criar um caminho só deles.
Depois do beijo que foi dado e tão sentido, o primeiro, as coisas que fazemos pela primeira vez são sempre especiais e guardamo-las no coração, para o resto dos nossos dias. Caminhamos juntos com o nosso pequeno grupo de convidados para a mesa que estava tão bonita, como Chrissie e Vicky tiveram tempo para tudo não sabia, mas só tinha a agradecer por se terem esforçado desta forma.
Rimos e conversamos sobre tudo. Finalmente demos o nó naquele relacionamento familiar, Sam deu-me a sua família e naqueles momentos senti que realmente fazia parte de uma, tal era o carinho e a atenção que me deram. Era um dia de agradecimentos. Finn arranjou uma aparelhagem e colocou uma música antiga, escocesa para dançarmos uma pequena valsa, claro que me enganei na maior parte dos passos, mas Sam levava-me com ele entre pulinhos e voltas, depois chamou os restantes e entre todos fizemos uma roda e íamos trocando de par, divertimo-nos muito, não senti falta de nada, foi o melhor dia da minha vida. De vez em quando ficava de frente para Sam e quando com um passinho à frente chegava até ele, aproveitava para me beijar, entre danças, bebidas e comidas a noite foi longa e todos se foram um a um até, ficarmos só os dois. Agarrados bamboleando ao som de uma música suave, de testas coladas e braços na cintura de cada um.
- Estás feliz? - perguntou-me, suavemente
- Muito, não há mulher mais feliz no mundo, tenho certeza.
- Só nos dois. Para sempre.
-Para sempre - concordei
- Aconteça o que acontecer, vais ficar comigo. Jura!
- Aconteça o que acontecer, ficarei contigo, ao teu lado para sempre, Juro! - selamos as nossas palavras na promessa de um beijo.
- Vamos para a cama? Vens deitar-te comigo, agora? - nos seus olhos vi a noite que se estendia à nossa frente repleta de todos os prazeres.
- Vamos, vem amar-me para todo o sempre. - e de mãos dadas fomos para o quarto, no anexo... o nosso quarto.
Na penumbra, o seu corpo era o meu deleite no eco da nossa paixão, o luar entrava pela janela em jeito de proteção, e banhava-se no seu corpo, ele era lindo, todo ele era o conjunto da perfeição física, aquela aura de simplicidade e a honestidade do olhar completavam aquele ser, o meu homem, aquilo era tudo meu e estava à minha disposição. Por cima dele, ao lado dele, debaixo dele a magnitude do que me fazia sentir quando me possuía, não era sequer imaginável, nunca conseguiria pôr aquele sentimento em palavras, os desejos sussurrados no ouvido de cada um, a vontade implacável de dar mais do que estava a receber, fez daquele acto de amor, um acto sublime e inigualável.
Acordamos tarde, ao som do telemóvel de Sam que tocava insistentemente. No visor estava o rosto de Sally a sua assistente.
- Sam é o teu telemóvel, atende. - ele ainda não estava bem acordado.
- Ah não, deixa o mundo mais um pouco distante. - dizia, enquanto se enroscava em mim.
- É Sally. Atende vê lá se é alguma notícia sobre Nina. - a custo lá atendeu.
- Olá Sally, bom dia diz. - notei que ia acordando aos poucos até que se sentou na cama e só dizia - hum, hum hum, sim, hum. - eu olhava para ele fazia-lhe sinais para que falasse, mas não passava daquilo olhava para mim com o semblante carregado continuava - hum, hum hum, ok Sally obrigado, si sim ok. E desligou, ficou parado com o telemóvel nas mãos e o olhar em baixo. Fiquei aflita. Sentei-me ao seu lado.
-O que foi? Aconteceu alguma coisa, é Nina? Diz-me Sam por deus, o que aconteceu? . - largou o telemóvel em cima da mesinha e agarrou-me nas mãos.
- Alissa querida, Nina... faleceu. Tenho muita pena, querida, Nina faleceu ontem ao fim da tarde.
- Não, não, não é verdade. Cristo, minha querida Nina. Eu tenho de ir para os Estados Unidos Sam, tenho de ir.
- Ela vai ser cremada, ninguém pode assistir ao funeral, morreu de Covid-19. Alissa nestes casos ninguém pode comparecer, não pode haver velório nem nada. Não vais lá fazer nada, love, vem cá. - deitei-me no seu colo.
- Oh meu deus que tristeza, que doença é esta que nem nos deixa despedir dos nossos entes queridos. Que maldade a natureza está a fazer connosco. O que faço Sam? A minha amiga e companheira, partiu. - nisto o meu telefone também tocou, vi que era Nora, da revista. Atendi a tremer, do lado de lá um soluço
- Alissa? - uma voz sumida.
- Sim Nora, já sei o que aconteceu. A assistente de Sam já nos telefonou. Que tristeza tão grande. Sabes como vai ser? O velório e isso? - não tinha coragem de dar o nome às coisas.
- ahh Alissa, para uma mulher que viveu sempre rodeada de gente, Nina não pode ter ninguém a acompanhá-la nesta hora. Não nos podemos aproximar dela, vai ser cremada ainda hoje. Ainda estás na Escócia?
- Ainda. Nem sei quando posso voltar. Queria tanto estar aí convosco, com ela.
- Olha Alissa, não vale a pena martirizares-te em relação a Nina, mesmo que aqui estivesses não poderias estar com ela. Fazias o mesmo que nós, terias de estar confinada a casa como nós. Sei que a Nina tinha um testamento vai ser lido na semana que vem, era vontade dela que estivesses presente, tenho parte dos documentos comigo. Mas se as coisas se mantiverem, teremos de adiar. Não te preocupes só o vamos abrir depois de estares connosco, mesmo que demore.
-Obrigada Nora, vou tentar, assim que puder ir estarei aí e trata de tudo com o maior carinho, obrigada mais uma vez Nora, beijinhos. - desliguei e voltei-me para Sam que já tinha os braços estendidos para me confortar.
- Alissa, eu vou ver o que consigo se conseguirmos sair sem problemas, iremos para os EUA. Vem cá.. - abraçou-me como se abraça uma menina assustada. Eu meti-me dentro daquele círculo reconfortante e chorei como uma criança

Onde está o defeito? Where stories live. Discover now