Onde está o defeito?

Planos

E assim se passaram duas semanas fui para casa, aproveitei o mar, Sam por vezes mandava-me fotos, por onde ia passando. Nunca escrevia nada apenas as fotos, sem uma única palavra, esteve em Vegas , Vermont, foi a várias entrevistas, foi para o México voltou para o lançamento de Bloodshoot, tudo numa correria, era preciso energia e ele tinha-a de sobra. As notícias sobre o vírus corriam o mundo, a China estava com cidades encerradas, mandei-lhe apenas uma mensagem " tem cuidado, protege-te do Covid-19" como resposta apenas um emoji a piscar o olho. Senti que a agente dele não levava aquilo a sério. Numa das noites telefonei a Sam, demorou um tempo a atender quando eu ia desligar, uma voz de mulher atendeu :
- sim, quem fala.?
- o meu Nome é Alissa Knox preciso falar com o dono deste telefone, por favor.
- Ah mas agora não pode ser ele está no duche, quando ele sair eu digo-lhe. - desligou. Afinal o homem anda ocupado, terá sido por isso que não me quis por perto? Parva, burra Alissa, como deixaste fugir a oportunidade de o veres à solta pelo mundo tinha ido com amigos,mas será que levou mais alguém por isso não me quis ali? Tudo questões sem resposta, daí a dois dias viria e eu ia novamente para a casa dele, deixei cair a carteira de onde saiu o cartão que Mickey me tinha dado, bem se era assim, vamos continuar com a investigação liguei o número que ali estava inscrito. Tocou uma vez e a voz que reconheci imediatamente atendeu.
-Sim quem fala?
-Mickey?
-Sim o próprio.
-Sou eu Alissa Knox.
-oh Dona então, estava a ver que se tinha esquecido de mim, vi-a de relance na TV, estava linda comentei com a minha moça mas ela não acreditou que a conheci, ainda hoje implica comigo a dizer que lhe menti. - ouvia-se uma voz por trás de mulher.
-Peço desculpa Mickey, mas pensei que não fosse necessário, então diz-me sempre me queres ajudar?
-É só dizer Dona. Onde e como! - Lá lhe expliquei o que queria dele, ele ou a namorada teriam de infiltrar-se nos Peackers, e saber como aquilo funcionava, que perguntasse sobre o dinheiro que pagava na inscrição para onde ia e se possível fosse teria de assistir a um dos encontros onde estivesse o instrutor Valbo e ter o olho bem aberto para tudo o que rodeava aquele movimento.
- Bem Dona, ok mas... essas coisas custam dinheiro e eu sou moço de recados, como sabe, não tenho dinheiro disponível.
-Claro, Mickey, vou-lhe transferir algum dinheiro, envie para mim o seu Iban, que lhe faço a transferência o mais depressa possível, mas quero resultados, o que for, posso contar consigo?
- Dona, e isso pergunta-se? Claro que sim, eu e a minha namorada vamos trabalhar para si.. Deixe por nossa conta...
-OK Mickey, fico à espera do seu contacto, ligue sempre para este número. Qualquer coisa ligue-me.
-OK Dona.! - feito, agora já estava, tinha dois dias para rearranjar os meus planos. No dia seguinte, logo pela manhã o telefone tocou, era Sam.
- Olá Sam, tudo bem, dormiste com as galinhas? - ou com uma só? Tive vontade de perguntar.
- Sempre espirituosa, não Alissa fui fazer o meu jogging e vou sair agora para o aeroporto, vamos sair mais cedo por causa disto do vírus. Quando chegar, vou passar nos estúdios tenho papelada para assinar, para poder ir para a Escócia, espero que o teu passaporte esteja em dia.
- Está sempre! E já fizeste algum controlo de saúde por causa do vírus?
- Farei no aeroporto quando chegar, não há casos no México. Não te preocupes. Bem vais lá ter a casa?
-Quando chegares lá estarei. Fica descansado. - silêncio do outro lado da linha.
- Ainda bem, estou desejando ver-te, senti saudades tuas. - cretino!
-Eh, pois, ok Sam até já então! - hipócrita, eu bem vi pelas fotos e no Instagram as saudades que teve de mim, feliz da vida cantando e bebendo jarros de tequilla., saudades de mim, sei....
Arrumei tudo na mala de roupa já que não voltaria ali tão depressa fui até à varanda cheirar o mar, estava um dia lindo, o mar estava calmo, azul, o meu canto, ia deixar o meu lar sem vontade nenhuma. Mas teria de ir. Nina tinha-me ligado depois de Sam, e dando ordens para que fosse com ele, não tinha desculpa, queria a matéria no fim do mês, tinha 15 dias para acabar o que ainda nem bem começara. Tinha apontamentos soltos, textos já escritos, fotos catalogadas por ordem cronológica, no meio daquelas fotos uma minha e de Sam na Première, um Sam feliz, com uma caixa do seu wisky na mão, era para Caitriona, a verdadeira Sassenach, fazia sentido, mas senti ciúmes, ele gostava imenso daquela mulher perto dela o seu rosto iluminava-se, aquilo era quase adoração, fiquei com a sensação que o sentimento era recíproco, mas atrás dela estava o marido, que embora não posasse para as fotos junto dela, nem se aproximasse da passadeira vermelha, andava sempre por perto e ela sempre que podia ir para junto dele, admito que fiquei confusa, pensava que entre Sam e Caitriona existisse algo mais, tem uma cumplicidade notável dentro e fora do ecran. Mas depois ele beijou-me daquela forma, tão possessiva e as dúvidas eclipsaram-se. Tonta, mulher tonta cheia de saudades, desejando olhar para ele e ver que estava bem...
Antes de ir passei pelo supermercado para levar umas coisas para o jantar, iria fazer uma lasanha, saía sempre bem, por ali já se sentia o pânico nas pessoas, algumas andavam de máscara protetora no rosto, luvas, agarrei em alguns frascos de álcool e levei-os comigo, melhor prevenir. A casa estava limpa e arejada, depois de colocar a minhas coisas no quarto, tomei um duche coloquei a minha roupa para lavar, calcei umas pantufas e fui para a cozinha comecei a fazer o jantar, liguei a TV, o presidente Trump (energúmeno) dizia que ainda era cedo para tomar providências em relação ao vírus, e já acusava a China de o ter criado, o homem era um desastre, se calhar até tinha sido o contrário, algumas fronteiras estavam a fechar, Itália vivia momentos dramáticos também, teríamos de partir o quanto antes para a Escócia, se realmente queríamos ir para lá. Fiz um chá e fui para a sala, agarrei num livro, mas sem querer o sono veio e dormi.