Capítulo 2

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- você tem certeza que seus pais estão mesmo dormindo? -perguntei enquanto descíamos as escadas da casa de Blair.
- claro que estão, eles dormem cedo pois tem que abrir a padaria muito cedo amanhã.
- sei, sei... Vamos logo.
O caminho para a cidade foi um tanto longo, me deu sono. Eu dormia cedo, segundo minha mãe uma boa noite de sono era revigorante para a pele.
Blair não estava muito falante, ela olhava pelas janelas com uma cara sonhadora, possivelmente sonhando com seu casamento. Eu não conseguia me imaginar assim, casada, com filhos, um homem mandando em mim... Eu sempre quis ter opinião própria, estudar, escrever... Mas casar... Não sei se realmente gosto dessa ideia.
Chegamos ao salão juntas. Estava tudo maravilhoso. A decoração vermelha e dourada, lustres de cristal, pessoas bem vestidas e de máscaras, deixando um mistério no ar... A música suave tocava ao fundo enquanto alguns casais rodopiavam elegantemente.
- Não é lindo?-perguntou Blair.
- incrível! -respondi.
Blair estava elegante em seu vestido amarelo com rendas brancas, seu cabelo era uma cascata de cachos, e sua máscara dourada destacava seus olhos.
Eu estava com um vestido rosa bebê, a saia era em camadas, tinha mangas compridas e detalhes em renda branca. Eu estava com um par de luvas para esconder minhas unhas roidas, e meu cabelo estava preso em um coque bem feito, enquanto uma máscara rosa e pratiada escondia meu rosto.
- vamos beber? -perguntou Blair.
- não acho que deveríamos, estamos sozinhas...
- Se divirta um pouco Helena, isso é uma festa...
Caminhamos mais para o meio do salão, onde fomos servidas de vinho. Blair logo encontrou a mesa de doces e me puxou para que ficássemos por perto.
Eu não acreditei quando olhei para a mesa, havia chocolate. Também tinha tortinhas de morangos.
Meu coração disparou ao ver tanto chocolate, minha mãe surtaria se me visse comendo. Há anos que não sei o sabor do chocolate.
- o que você está esperando Helena? -perguntou Blair sorrindo.
Levei a mão para pegar um bombom, mas fui surpreendida por uma mão forte que segurou meu braço antes de tocar o chocolate.
Meu coração parou. Eu só conseguia imaginar meu pai me arrastando pelos cabelos para casa.
Ergui a cabeça lentamente e olhei para o homem mascarado que segurava meu braço. A única coisa que pude definir eram seus olhos azuis, pois seu rosto estava completamente coberto por uma máscara preta.
- não deveria comer estes!-disse ele.
Instantaneamente fiquei furiosa, ele está me chamando de gorda? É isso?
- São de coco. Está horrível. Experimente este!-disse ele me dando um bombom de outra bandeja.
Comi o bombom sem falar nada, e era uma delícia. Uma explosão de sabor, doce do chocolate e azedo do recheio, mas ambos juntos era incrível.
- maracujá! -disse ele.
Só consegui encarar ele enquanto ele pegava mais dois, comendo um e me entregando o outro.
- Eu adoro essas coisinhas! -disse ele.
Ele olhou para alguém atrás de mim, acenou e disse:
- até breve senhorita!
Ele caminhou em direção a uma mulher de vermelho, loira e com seios fartos.
- quem era aquele homem? -perguntou Blair.
- não faço a menor ideia. Não conversamos muito bem.- falei.
- ele disse o nome?-perguntou Blair.
- não, só disse que o bombom de coco está horrível! -falei ainda encarando as costas do rapaz.
- e ele tem razão! -disse ela fazendo uma careta.
Eu sorri ao ver que ela se divertia.
A noite foi muito agradável, a comida, a bebida e a música. Tudo estava excelente. Mas eu já estava cansada, com sono e cheia de tanto chocolate.
Não vi o rapaz dos bombons novamente.
- Blair vamos embora? Ja é tarde. - pedi.
- Vamos dançar uma música e vamos embora! -disse ela procurando por um parceiro.
- senhorita? -chamou alguém a minha esquerda.
Olhei assustada e dou de cara com o rapaz dos bombons.
- olá! -falei envergonhada.
- me concede a honra desta dança? -pediu ele me estendendo a mão.
Hesitante aceitei seu convite enquanto ele me guiava até o centro do salão.
As pessoas abriram espaço como se ele fosse o dono da festa, e talvez fosse, não sei.
Apenas alguns segundos se passaram quando um rapaz colocou as mãos no ombro dele e disse:
-hora do bolo meu irmão!
- com sua licença senhorita! -disse ele beijando minha mão e se retirando.
Fiquei ali olhando para suas costas se afastando.
- e aí? Qual o nome dele?-perguntou Blair aparecendo repentinamente.
- não sei, não deu tempo de perguntar.
- vamos sair daqui!-disse ela me puxando apressada.
- o que? Por que? Vamos ficar mais um pouco! -falei.
- não podemos. - disse ela me arrastando até a saída.
- o que foi Blair? -perguntei.
- não olhe agora, mas seu pai está aqui! -disse ela.
- o que? Meu pai? Mas ele não falou nada sobre a festa...
Corremos em direção às escadarias.
- ele não parecia ter vindo para a festa. Estava sem máscara e um tanto aborrecido.
- acha que ele descobriu? -perguntei.
- não sei, e não quero descobrir... Vamos embora.
- Mas...
- Mas o que Helena? - perguntou ela.
- Mas nada, vamos embora antes que seja tarde de mais...
Voltamos pra casa de Blair apavoradas. Eu só consigo imaginar meu pai me esperando em frente a casa dos Toledo. Que noite fracassada.
Chegamos em silêncio e nos esgueiramos porta adentro, tentando não sermos pegas.
Até então nada aconteceu, meu pai não veio me arrastar para casa e os pais de Blair nem se deram conta de que tínhamos desaparecido.
A semana seguinte se passou, eu e Blair evitamos falar qualquer coisa que pudesse nos ligar aquela festa, pois ainda tínhamos medo de sermos pegas na mentira. Eu não queria nem imaginar o que meus pais fariam se descobrissem da minha fuga, eles me enviariam para o convento na África.
Mas tudo parecia normal, além do normal era só a felicidade execiva de minha mãe e meu pai.
Eles passaram a semana inteira sorrindo, aos cochichos pelos cantos, compraram muitas roupas novas e vinho diretamente da Adega Seymour. Meus pais só compravam vinho em ocasiões especiais, o que quer dizer que tem algo errado.
Talvez seja minha imaginação mesmo, mas em uma semana meu guarda-roupa praticamente triplicou.

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