Capítulo 76

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  Despedidas são difíceis. Principalmente quando você percebe que  as pessoas que você mais ama estão mais preocupadas em se despedir do seu suposto noivo.
  Houve muito choro. Eu, minha mãe e Louise podíamos ser comparadas a criancinhas, mas seria injusto com Joseph que se comportou impecavelmente.
  Minhas lágrimas não paravam de cair, principalmente quando Joseph me chamou de Lena. Foi a primeira vez que ele disse claramente o que me fez chorar ainda mais.
  Louise estava animada com a ideia de ir nos visitar, mamãe e ela irão para o casamento e já fico pensando como explicar minha troca repentina de noivo para Louise que ama tanto o Ian. Será um desastre, ainda bem que papai não está aqui pra ver isso.
  Chorei ao ver a cadeira de balanço de papai vazia. O cheiro de charutos ainda estava presente. Por mais que no passado nós tivemos nossas diferenças, ele era meu pai e fazia falta. Ele não estará presente no dia do meu casamento, não me levará ao altar e nem verá seus netos. É triste.
  Mamãe ainda se encontra muito abatida, mas felizmente seu rubor natural parecia estar retornando aos poucos, além disso, ela voltou a cuidar dos meus irmãos como antes e já tem habilidade com os negócios da família.
  Uma noite antes de nossa partida, mamãe me disse algumas palavras que me deixou confusa.
- minha filha, não se esqueça nunca disso: o amor se constrói todos os dias. Você precisa erguer as paredes e que sejam sólidas o suficiente para que nenhuma tempestade as derrube!
  No começo eu pensei que fosse bobagem, mas depois... Percebi que minha mãe estava certa. Já que estou decidida a me casar com Dorian, devo construir nosso amor. Erguer muros bem altos aos quais tempestades (chamadas Ian) nunca irão derrubar.
  Louise por sua vez não se incomodou muito com minha partida. Ela realmente estava triste, mas porque Ian estava partindo. Sem Ian por perto, ela não teria ninguém para a bajular, ver ela tocar piano ou recitais poesias. Acho que Ian deu muita confiança a essa pirralha que agora se acha o centro do universo.
  O caminho de volta a mansão Seymour parecia mais longo que nunca. Estávamos há horas naquela carruagem que pulava sem parar por causa das estradas esburacadas.
  O silêncio estava incômodo. Como você permanece no mesmo lugar que uma pessoa a qual você ama desesperadamente e não pode fazer nada?
- precisamos conversar! -disse Ian chamando minha atenção.
   Desde que saímos da casa de mamãe, eu não olhei para Ian. Sabia que ele estava apenas há alguns centímetros de mim, tinha consciência de seu olhar. Mas eu não queria olhar pra ele. Não queria fraquejar. Então simplesmente fiquei observando a paisagem pela janela tentando ignorar a presença de Ian. Mas é impossível.
  Olhei pra ele com indiferença.
- Não estou com vontade! -falei asperamente.
- Helena, precisamos falar sobre o que aconteceu! -disse Ian com a voz cansada.
- discordo. Acho que não precisamos! Não aconteceu nada!-falei voltando a encarar a paisagem.
  Se Ian olhasse meu rosto agora, iria ver minha mentira deslavada. Eu provavelmente estava vermelha, sentia meu rosto queimando.
  Fechei os olhos por alguns segundos e tudo voltou. Tudo que quase fizemos.
   Suspirei.
- Helena, não faça isso com nosso amor...
- eu? Quem fez foi você Ian! -falei de mau humor.
- o que aconteceu foi um erro, admito. Mas Helena, eu estava bêbado. Não lembro nem de ter saído da festa e...
- poupe-me de suas explicações!
- Helena, por favor...
- O QUE VOCÊ QUER DE MIM?-gritei irritada.
  Eu tentei ignorar, mas Ian tem esse poder de me tirar do sério.
  Olhei pra ele e tentei ignorar o fato de que ele era lindo. Tentei ignorar seus olhos azuis piedosos. Tentei ignorar o amor que eu sinto e que agora sei que ele também sente. Tentei ignorar o fato de que eu e Ian não teremos nosso final feliz!
  Meus olhos estavam cheios de lágrimas, mas não permiti que elas escapassem revelando meus segredos.
- eu quero entender Helena! O que faremos agora?
- como assim?-perguntei realmente confusa.
- Helena, eu te amo e você me ama. Não existe nada que possa mudar isso. Então, por favor, diga que nada vai mudar!-disse ele.
- tudo já mudou Ian.
- como assim?- foi a vez dele ficar confuso.
- o que aconteceu foi um erro. Não voltará a se repetir. Vamos voltar para casa e nada vai mudar. Você vai casar com Pietra e eu com Dorian.- expliquei.
  Minha voz estava distante, parecia vir do fim de um túnel onde não há luz, fria e distante, quase se extinguindo.
- como pode dizer isso Helena? E o nosso amor? Como vai ser?
- não vai Ian. Te aconselho a esquecer esse sentimento o mais rápido possível.
- é impossível! O que eu sinto por você nunca senti antes. Não da pra simplesmente matar esse amor. - disse ele em voz baixa.
  Seus olhos estavam escuros, parecia que uma tempestade estava se formando.
- não vou ficar com você Ian. Vou me casar com Dorian e seremos felizes! -falei segurando as lágrimas.
- MAS VOCÊ NÃO AMA ELE!- Ian explodiu.
  Ian passava as mãos pelos cabelos negros em um claro sinal de que se sentia derrotado. Mas se eu o conheço bem, ele ainda não se deu por vencido.
- Nós podemos construir nosso amor com base na amizade que já temos. Seremos felizes eu garanto! -argumentei.
- não. Não será!  Como você acha que vai ser? Eu não amo Pietra e você tampouco ama o Dorian. Vamos ser obrigados a conviver um na presença do outro. Chegará um momento em que vamos nos evolver e eu vou trair minha esposa e você vai trair seu marido. Viveremos em pecado até que um deles descubra. Você acha possível ser feliz assim?
- não, isso não vai acontecer! -falei convicta.
- como não? Como vamos viver sob o mesmo teto sentido essa paixão ardente, avassaladora e não vamos nos render a ela? Duvido muito que um de nós possa resistir! Seremos amantes de qualquer forma...
- não seremos não! Não viveremos sob o mesmo teto para cairmos em tentação! .- afirmei convicta.
- como assim?-perguntou ele.
- assim que nós nos casarmos, eu e Dorian vamos sair da mansão Seymour. Vamos nos mudar para casa da minha mãe. Já conversei com ela. Contei tudo. Ela não vê problemas.
  Ian ficou em silêncio.
- e aquela história de que você precisava ficar perto de mim?-perguntou ele friamente.
- eu precisava. Mas percebi que é impossível te ver e não poder te tocar. É melhor a distância. Ela fará bem o seu papel e o tempo fará o resto. Ah, não espere a gente para os feriados.
- você já planejou tudo...
- tive tempo nessa noite insone!
- Helena, não tem que ser assim!-disse ele em uma última tentativa.
- infelizmente tem sim Ian. O casamento é em dois dias, sua noiva está grávida e o mundo não pode parar! Sinto muito, mas nem todo mundo nasceu para ser feliz!

Casamento Arranjado [Completo]Where stories live. Discover now