Capítulo 29

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Ian me guiou até uma parte afastada da festa, em um pequeno morro, nunca reparei que a cidade era uma espécie de buraco, a cidade no meio e morros em volta.
Estava escurecendo, e o sol preguiçosamente se escondia lançando uma luz alaranjada na cidade que festejava.
Olhando em volta, tudo o que eu podia ver eram as plantações e estradas que se estendiam até perder de vista, a cidade não é grande mas é bem populosa, dali também é possível ver a mansão dos Seymour imponente. As janelas refletiam as luzes laranjas do sol.
- É lindo!-falei extasiada.
- obrigado! -respondeu ele ironicamente.
Dei um tapa no braço dele.
- alguém já te disse que é muito exibido?-perguntei.
Ele não respondeu, apenas sorriu e encarou a cidade lá em baixo.
- essa cidade não existia! Ela foi fundada pelo meu bisavô, Jeremias Seymour. Pode observar, é uma cidade nova, as construções estão em perfeito estado e algumas ainda estão sendo construídas.
- por que é tão distante? Não há nada em volta...
- meu bisavô lutou muitos anos na guerra, e acabou enlouquecendo. O barulho dos tiros e gritos de dor, fez com que ele quisesse viver seus últimos anos de vida em paz. A família Seymour sempre foi muito rica, então meu bisavô desertou. Ele viajou por meses até chegar aqui. Ele construiu a mansão Seymour. A primeira construção. Ele e a esposa Margot viveram muito anos sozinhos, e ele começou a cultivar uvas, a princípio era para consumo próprio.
Ele ficou em silêncio por alguns segundos.
Eu estava exausta, então simplesmente me deixei cair sentada no chão sujo.
Ian me lançou um olhar de reprovação mas também se sentou no chão.
- mas como eu disse, o velho enlouqueceu... Ele começou a construir casas e disse que eram para seus irmãos que iriam vir encontrar com ele. Mas os irmãos nunca vieram, morreram anos antes na guerra ao lado dele. Alguns combatentes que lutaram ao lado dele souberam onde ele tinha se instalado e por fim começaram a desertar e vir se esconder aqui com suas famílias. A princípio ficaram isolados, vivendo com o que produziam na terra, mas alguns começaram a se aventurar e praticar o comércio de troca. Eram longas viagens que duravam dias, mas eles acharam que valia apena. Não muitos anos depois mercadores passaram a vir para cá, e algumas pessoas que buscavam paz e silêncio começaram a chegar...
Ouvi a história dele em silêncio, não entendo porque ele esta me contando essas coisas, mas se ele quer falar...
- ja pensei em ir embora mais de uma vez.
Olhei para ele surpresa.
- temos propriedades em outras regiões, a pequena cidade onde todos se conhecem pode ser extremamente sufocante. Pensei em fugir, a casa da vovó está sempre a minha espera.
- e por que não foi?-perguntei curiosa.
- Eu me lembrei que Dorian é um idiota e que alguém precisa tocar os negócios da família...
- mas ainda tem vontade de ir?-perguntei.
- hoje?-perguntou ele me encarando.
- sim!
- hoje não, mas se me perguntasse há alguns meses atrás a resposta seria sim... Me pergunte daqui alguns dias, talvez eu dê uma resposta diferente...
- o que te fez mudar de ideia? -perguntei.
- coisas...
- que tipo de coisas?-perguntei curiosa.
- coisas que eu não posso explicar! -disse ele olhando para o horizonte.
- e pra onde iria se pudesse escolher?-perguntei sorrindo olhando para o céu.
A noite estava caindo e algumas estrelas podiam ser vistas.
- não sei bem, meu plano acaba na parte em que eu saio pelos portões...
- estou falando sério Ian...
- iria para a casa da vovó. - disse ele rindo. - a propriedade de Bell Fontaine é a cinco quilômetros a leste daqui... Imagine uma propriedade de conto de fadas, com fonte de águas cristalinas, lagoas, gramado verde, uma mansão duas vezes maior que a nossa, jardins com as mais diversas espécies de flores, muitos cachorros e uma casa na árvore feita por mim e meu avô. Quando era criança dizia que me casaria e moraria lá, e que meus filhos iriam crescer em Bell Fontaine, um lugar mágico...
- Você fala como se nunca mais fosse voltar lá! -falei.
- não vou lá há muitos anos. Meu pai e minha avó não se dão bem... Eles brigaram por um pedaço de terra! -disse Ian indignado. - Nunca mais pude ir lá.
- você é adulto, pode muito bem ir quando quiser!
-a mágica acabou. Vivo ocupado de mais para ir lá. Sinto que fracassei com meus avós. Abandonei eles na velhice, eles vivem lá, isolados e sem o amor da única filha e dos netos.
- ainda da tempo de mudar isso! Eles ainda estão vivos Ian. Mostre que se importa. Vá passar alguns dias com eles... - incentivei.
- você tem razão, meu pai não pode me obrigar a não ver minha avó...
- sei que ela ficará feliz em receber o neto querido!
- Vem comigo! -disse ele me olhando nos olhos.
Minhas palavras desapareceram. O que esse pedido significa?
-eu não sei não Ian... - falei desconfortável.
- por favor Helena, será uma visita rápida de apenas três dias... É o tempo que disponho antes de...
- antes de que?-perguntei.
- tenho que fazer uma viajem de negócios...
Fiquei em silêncio e olhei para as estrelas.
- e então? -perguntou ele.
- acho que tudo bem... - falei franzindo a testa.
Ian se levantou e olhou para a cidade barulhenta lá em baixo.
- Vem, temos que voltar para a festa...- disse ele.
Ele estendeu a mão para me ajudar a levantar. Ele não calculou bem sua força, pois me puxou forte de mais, me choquei contra o peito dele com força, ele precisou me segurar para eu não cair.
Fiquei alguns segundos ali presa em seus braços, minha cabeça tocava seu queixo, eu podia sentir sua respiração pesada e seu coração batendo rápido. Ou era o meu? Seu perfume invadiu minha mente, vinho e chocolate se misturavam ao meu próprio perfume.
Me afastei dele lentamente, seu abraço era quente. Senti frio com a distância.
Balancei a cabeça para me livrar dessas sensações e pensamentos perturbadores.
- vamos logo! -falei saindo na frente.
Ouvi os passos dele me seguindo de volta para a cidade.
Me assustei ao sentir o aperto dele em meu braço.
- ai! - reclamei.
- cuidado! -disse ele.
Olhei para meus pés e vi um barranco, eu quase despenquei desse morro.
- é melhor eu mostrar o caminho Senhorita!-disse ele sorrindo.
- está duvidando da minha capacidade de encontrar o caminho de volta?
-não, só não quero ver a Senhorita rolar morro abaixo. Eu perderia a coroação tendo que levar você para casa...
- seu cretino! -falei.
- eu faço o que posso, agora faça a gentileza de segurar meu braço!
Irritada fiz como ele pediu, então como se já conhecesse o caminho, ele nos guiou tranquilamente de volta para a festa.

Casamento Arranjado [Completo]Where stories live. Discover now