Capítulo 60 (Bônus)

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Pov. Ian

  Eu estava com uma dor de cabeça terrível, provavelmente bebi de mais na noite passada.
  Algumas poucas lembranças da noite retornaram, eram fragmentos confusos e embaçados, eu não consigo me lembro de tudo, lembro apenas de ter visto Helena e Dorian e do quanto isso me magoou. Em seguida lembro de estar bebendo com Pietra, mas minha memória só vai até aí.
  Eu não sou de beber dessa maneira, mas na noite passada eu estava tão decepcionado com Helena e com tanta raiva de Dorian, que acabei bebendo mais do que deveria. Agora eu não me lembro da noite anterior e estou com uma dor de cabeça e um cansaço terrível.
  Eu não queria abrir os olhos com medo da claridade, mas uma sequência de acontecimentos me obrigaram a fazer isso contra a minha vontade.
  Senti braços quentes e delocados me envolverem.
  Sorri de olhos fechados. Eu e Helena provavelmente terminamos nossa briga aqui. Deve ter sido maravilhoso. Se eu pelo menos me lembrasse...
  Algo me ocorreu tarde de mais. Esse perfume, não é o da Helena.
  A porta do meu quarto se abriu ao mesmo tempo que meus olhos.
  Helena estava parada na porta me encarando com a expressão mais terrível que eu já vi em toda a minha existência. Ela não esboçou nenhuma reação das quais eu esperava, simplesmente ficou lá parada nos olhando.
  Pietra estava deitada ao meu lado, envolvida apenas por um lençol branco, ela estava me abraçando enquanto dormia serenamente. Para meu total horror, eu também estava completamente nu, envolto apenas nos lençóis.
  Me sentei na cama pronto para falar. Mas falar o que? Que eu não me lembro? Ela não vai acreditar em mim!
  Por que ela não grita? Por que Helena não se mexe? Por que ela não me bate? Por que ela não arrasta Pietra pelos cabelos? Eu sei o motivo. A culpa é minha, e dessa vez foi sério.
  Eu olhei no fundo dos olhos de Helena e não vi raiva, nem ódio, nem desprezo e nem fúria. Vi apenas sua profunda decepção.
  Sua boca estava aberta de surpresa, suas mãos ainda estavam paradas no ar, e seus olhos transbordavam.
  Lágrimas silenciosas escorriam por seu rosto sem que ela percebesse, ela não tinha nenhuma reação.
  Seu rosto angelical banhado por lágrimas fez meu coração se apertar. Seu olhar de decepção, eu me senti o pior homem do mundo. Pior que isso, eu não me sentia homem, me sentia apenas um monte de merda desprezível. É isso que eu sou.
- Helena...-sussurrei, mas as palavras não saíram da minha boca.
  Ela piscou com força e limpou as lágrimas com delicadeza.
  Eu não estava reconhecendo Helena.
  Que merda eu fiz? Por que? Logo Pietra. Como eu pude fazer isso com Helena? Eu...Eu...
  Eu senti uma dor lancinante no peito, algo que parecia querer me sufocar, uma dor que eu nunca senti na minha vida, ela tirava todo meu ar, e àquela sensação de culpa se misturava a de que eu jamais serei feliz novamente.
  Vi o corpo de Helena tremendo enquanto ela se abraçava.
- Helena, eu posso explicar! -falei com a voz rouca.
  Mas na verdade, eu não podia explicar. Eu só queria que ela me perdoasse, só queria que ela enxergasse naquele momento, olhando no fundo dos meu olhos, o quanto eu a amo.
- não Ian. Você não pode me explicar nada!-disse ela com a voz mais fria e mais distante que eu já ouvi ela falar.
  Helena estava decepcionada e com razão. Suas lágrimas voltaram a rolar, então ela fez algo que eu nunca esperaria. Não dela.
  Sem dizer uma palavra, Helena me deu as costas e saiu do quarto sem olhar para trás.
  Meu coração parou nesse momento. Senti ele se partir em milhões de pedaços. Uma dor nova, tão impressionante e poderosa que fez minhas mãos se fecharem com força e um líquido quente escorrer de meus olhos.
  Frustrado, me levantei da cama e comecei a vestir o primeiro par de roupas que eu encontrei pela frente.
  Eu demorei tanto para admitir para mim mesmo que amava essa mulher, e agora eu a perdi. Perdi pra sempre a esperança de que um dia ela me amasse. Por que? Como eu posso ter feito uma coisa dessas se é Helena quem eu amo?
- eu sou um imbecil! -falei olhando meu reflexo no espelho.
  Eu passei a viagem inteira pensando em Helena e na relação que estávamos construindo, pensando em como eu gosto de sua voz, seu cheiro, seu gênio impetuoso e suas atitudes impensadas. Fiquei pensando o que era aquele sentimento que me fazia querer voltar pra casa o mais rápido possível e pensando como eu poderia agradar aquela mulher que me deixa feliz só por respirar.
  Cheguei a uma única conclusão. Amor. É isso o que sinto por Helena. O mais puro e verdadeiro amor que eu já senti na minha vida.
- COMO VOCÊ PÔDE FAZER ISSO COM ELA?-gritei socando o espelho.
  O espelho sê despedaçou imediatamente. Vários estilhaços se espalharam pelo quarto, e vários cortes apareceram em minha mão, fazendo meu sangue quente escorrer e pingar no tapete.
- Ian?-chamou uma voz rouca.
  Olhei Pietra na cama que sorria para mim.
- o que aconteceu? -perguntei irritado.
- nós tivemos a mais longa e incrível noite de amor, meu bem... Você disse que me ama!-disse ela sorrindo.
- IMPOSSÍVEL! -gritei frustrado.
- não, não é impossível. Estou aqui não estou?- disse ela como se fosse óbvio.
- eu amo Helena! -falei furioso.
- não ama não! Você disse que ia devolver ela e que ia se casar comigo!-disse ela tranquilamente.
- eu nunca diria isso. Eu amo Helena.
-se amasse mesmo, ela estaria aqui e não eu!-disse Pietra sorrindo maldosa.
- SAIA DAQUI!-gritei furioso.
- você não pode me tratar assim!-disse ela levantando da cama enrolada no lençol.
- SAIA DAQUI! AGORA!-gritei descontrolado.
- NÃO PODE FAZER ISSO!-gritou ela.
  Pietra começou a chorar incontrolavelmente.
- NÃO SÓ POSSO, COMO ESTOU FAZENDO. NÃO QUERO NUNCA MAIS OLHAR PRA SUA CARA!-gritei.
- VOCÊ NÃO PODE FAZER ISSO COMIGO. ME FEZ JURAS DE AMOR, ME DESONROU! NÃO PODE SER TÃO INSENSÍVEL! -gritou ela aos prantos.
  O que foi que eu fiz?
  Passei a mão no cabelo irritado.
- Isso não poderia ter acontecido! -falei furioso.
- Mas aconteceu! E você bem gostou! -disse ela.
   Minha paciência chegou ao limite. Encurtei a distância entre nós e coloquei o dedo na cara dela.
- Eu não sou um homem violento, mas se eu voltar e você ainda tiver aqui, vai se arrepender! -ameacei ela.
  Eu já estava saindo pela porta quando ouvi ela falar:
-Já está feito, e eu não fiz sozinha!
  Saí furioso, antes que fizesse uma besteira.
  Mas no fundo ela está certa. A culpa também é minha.
  Procurei Helena por toda a casa, mas ela não estava em lugar nenhum.
  Fui para fora e comecei a procurar por ela.
  Não demorei para encotrar Helena parada em frente a uma lagoa nos fundos da propriedade.
  Cheguei perto dela mas não conseguia falar.
- sabia que eu estava indo pedir desculpas? Indo explicar o que aconteceu entre eu e seu irmão? -disse ela me surpreendendo.
  Sua voz estava extremamente calma, nunca a ouvi falar nesse tom.
  Helena se recusava a me olhar.
- perdão! -foi tudo o que consegui dizer.
  Ela não me respondeu. Sua mágoa era grande e eu não tenho direito de exigir nada dela.
- Eu gostaria de me explicar, mas o que eu fiz não tem justificativa. Sei que não é uma desculpa plausível, mas não me lembro de nada. Não mereço seu perdão, mas mesmo assim gostaria de recebe-lo.- falei olhando para o chão.
  Helena me encarou por alguns segundos com aquele olhar insuportável de decepção.
- tem razão. Você não merece meu perdão! -disse ela me dando as costas.
  Ela começou a se afastar a passos rápidos.
- HELENA! -gritei.
  Ela parou mas não se virou.
  Corri até ela e a virei de frente pra mim.
  Fiquei encarando ela com as mãos em seus ombros e vi tudo o que vivemos ruir no seu olhar, como se tudo fosse uma mentira.
- HELENA! GRITA COMIGO! ME XINGA OU ME BATE! POR FAVOR HELENA!- gritei sacudindo os ombros dela suavemente.
  Ela não esboçou nenhuma reação, apenas se livrou dos meus braços e disse:
-Pensei que você fosse um homem diferente Ian!
  Sem mais nenhuma palavra, ela voltou para a casa.
  Não consigo deixar de me preocupar com esse estado dela, esse silêncio não é normal. Não para alguém como ela.
  Helena é especial, e seu jeito de agir não parece a mesma que conheci há alguns meses. Isso está me assustando.
  De repente me lembrei de uma frase que ela disse há algum tempo atrás: "Não é com meus escândalos que vocês devem se preocupar, é com meu silêncio."

Casamento Arranjado [Completo]Där berättelser lever. Upptäck nu