Capítulo 66

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  O Dr. Murphy estava com Pietra já há algum tempo. As pessosas estavam anciosas na sala, todas se perguntando o que ela tem e se é grave.
  Eu particularmente acho que é besteira. Pietra quer sempre chamar a atenção. Não creio que ela esteja realmente doente.
  Eu estava preocupada com Dorian. Desde o beijo no noivado ele não falou comigo. Creio que ele esteja se sentindo rejeitado ou somente envergonhado. A verdade é que eu sinto falta da nossa amizade, de nossas conversas e de nossas brincadeiras. Ele anda tão sério, tão deprimido. Estou realmente com pena dele. Acho que precisamos conversar. Mas não agora.
- Helena? Está tudo bem?-perguntou Ian preocupado.
- sim. Estou apenas pensando um pouco!
  Ian estava sentado ao meu lado no sofá, e quando ninguém estava olhando, ele pegou minha mão e segurou com suavidade, ele buscava conforto ao mesmo tempo tentava me confortar. A dor da perda ainda estava muito presente em nossos corações.
  O Dr. Murphy desceu as escadas com sua maleta de couro marrom e seus óculos grandes de mais. Ele se colocou diante de nós na sala e disse:
- não há com que se preocupar. Pietra não está doente.
  Eu sabia que era mentira, mas permaneci em silêncio, para mim já bastava ela ter sido desmascarada.
- O mau estar logo irá passar! -informou o Dr. Murphy.
- obrigada pela atenção Dr!-disse Virgínia.
- Por nada. Mas aconselho a apressar o casamento! -disse o médico.
- como assim?-perguntou o Senhor Seymour confuso.
- a barriga logo vai aparecer. Ela está grávida! -disse o Dr. como se fosse óbvio.
  Àquelas palavras me atingiram com tamanha intensidade, que só pude me sentar e deixar as lágrimas caírem.
  Eu sabia que tinha algo errado. Eu sabia que perdoar Ian me faria sofrer novamente. Sabia que pra toda ação há uma consequência. E essa não é diferente. Ian quis se aventurar com Pietra, agora ela está gravida do homem que eu amo.
- temos um problema aqui!-disse o Senhor Seymour coçando a barba.
- um problema? E você fala com essa calma toda? -perguntou Virgínia desesperada.
  Olhei para Ian e vi sua expressão de culpa, arrependimento e medo.
  Os olhos de Ian encontraram os meus e eu não consegui encarar ele. Ele tentou segurar minha mão, mas eu retirei ela com força e sem pensar duas vezes dei um tapa na cara dele.
- eu não deveria ter te perdoado!-falei magoada.
- Helena, eu sei que mereço esse tapa e muitos outros, mas você precisa entender! -disse Ian.
- não, eu não preciso! Mas essa criança vai precisar do pai! - falei furiosa. - Deixe que Ian case com Pietra. Por favor Senhor Seymour, me devolva para minha família.
  O Senhor Seymour me encarou por alguns segundos, pensando no que fazer ou no que dizer. Eu praticamente podia ver fumaça saindo de sua cabeça com os pensamentos agitados.
- Minha vontade é de te bater, e muito Ian. Como pôde deixar isso acontecer? Seu irresponsável! -dizia o Senhor Seymour.
- Não adianta brigar Ferdinando. O mau já está feito. Pietra está grávida de Ian. O que faremos? - disse Virgínia.
- Por favor, Senhor Seymour... - implorei aos prantos.
  Por mais que eu ame Ian, por mais que eu esteja furiosa com ele e com Pietra, eu tenho princípios. Princípios esses que não me permitem deixar que uma criança cresça sem o pai. Uma criança que não tem culpa das circunstâncias que a trouxe ao mundo. Não sou egoísta a esse ponto, não vou afastar um pai de um filho.
  Meu sofrimento não importa. Sempre soube que não seria feliz aqui. Sempre tive certeza de que me apaixonar por Ian Seymour era um erro e dos grandes. Mas meus sentimentos não têm importância para ninguém. Ninguém se importa se eu estou sofrendo. Ninguém sabe o que é ver o amor de sua vida se deitando com sua pior inimiga e dessa traição ver os frutos nascerem. Frutos esses que não tem culpa de nada.
- sua ideia Helena, ela é boa! Na verdade é excelente. O melhor que temos até então! -disse o Senhor Seymour pensativo.
- o senhor vai deixar ela ir?-perguntou Ian alterado.
- não. Isso não! -disse o Senhor Seymour.
- agora eu me perdi!-disse Dorian confuso.
  A essa altura, o Dr. Murphy foi levado até a porta por Virgínia que lhe deu um bom dinheiro para manter essa gravidez em sigilo absoluto até que tudo possa se resolver.
- Ah Dorian, isso não é nenhuma novidade, você vive perdido garoto!-irritou-se o Senhor Seymour.
  Minha cabeça estava dando voltas, eu não conseguia entender o por que disso tudo. A resolução do problema é extremamente óbvia. O que eles estão esperando para me devolver?
- Ian, você vai se casar com Pietra! -disse o Senhor Seymour.
- O QUÊ? NÃO! NÃO FAREI ISSO!-gritou Ian.
- na hora de fazer o filho, você não pensou nas consequências! Agora assuma sua responsabilidade! Seja homem!-o Senhor Seymour estava visivelmente alterado.
- E quanto a mim?-perguntei esperançosa.
  Minhas lágrimas ainda estavam caindo sem parar, mas eu preciso saber. É melhor sofrer longe do que perto.
- Você? Você vai casar com Dorian! - disse o Senhor Seymour como se fosse óbvio.
- COMO É? -perguntei incrédula.
- Pai, não... - Dorian começou a falar mas foi interrompido.
- não questione Dorian. Que eu saiba você sempre quis a Helena. Estou te entregando ela de bandeja. Faça bom proveito!- disse o Senhor Seymour.
- não era pra ser assim!-resmungou Ian.
- mais é Ian. Quando fez o filho você não pensou na Helena. Agora eu tomo as decisões! -disse o Senhor Seymour.
- como se alguém algum dia tivesse tomado suas próprias decisões aqui!-resmungou Dorian.
- Mas Senhor Seymour, por favor, me devolva pra minha família. Isso tá errado! -falei aos prantos.
- já está decidido Helena. Não vou perder meus negócios por  causa das imprudências dos meus filhos. Acho bom vocês se acostumarem, o casamento é em três meses.
- Mas...
- Mas nada Helena. - disse o Senhor Seymour saindo da sala.
  Eu não me dei por vencida.
  Corri atrás do Senhor Seymour e o encontrei em seu escritório.
- não me venha com lágrimas Helena. Não vai me comover. Agora saía daqui, preciso trabalhar! -resmungou o Senhor Seymour.
- Por favor, me devolva pra minha família! -falei caindo de joelhos aos pés dele, me humilhando.
  Meu corpo tremia, eu não conseguia conter meus soluços de desespero, nem as lágrimas de tristeza e decepção.
- levante logo daí garota! -disse ele segurando meu braço com força e me tirando do chão.
- Por favor! -falei em meio a lágrimas.
- para de chorar! -irritou-se ele.
- Por favor me deixe ir Senhor Seymour.
- NÃO! JÁ ESTÁ DECIDIDO! -gritou ele.
- Por favor, eu faço o que o Senhor quiser! -implorei.
  O Senhor Seymour riu de mim. Na verdade ele gargalhou assustadoramente até ficar vermelho.
- o que uma garota como você poderia me oferecer? -disse ele com a voz áspera.
  Dei de ombros.
  Eu não havia pensado nisso, mas eu estava apelando pro sentimentalismo dele. Mas esse homem não tem coração. Não se importa com ninguém, não é solidário ao meu sofrimento nem ao de ninguém. Duvido até que ele tenha um coração. Como é possível alguém ser tão cruel? Não duvido nada que ele esteja rindo daminha tristeza.
  Ele se aproximou de mim e sorriu de maneira fria e assustadora.
- se bem que... - ele começou a falar mas se interrompeu.
  Ele pegou uma mecha de cabelo meu e colocou atrás da minha orelha, depois arrastou sua mão até meu queixo e segurou ele com força.
- tem uma coisa que você pode fazer... - disse ele sombrio.
- o que? -perguntei esperançosa.
- sabe que você é bem jeitosinha Helena. Se fizer o que eu quero que faça, te deixo ir!-disse ele maliciosamente.
  Me afastei dele imediatamente, recuando dois passos e o encarando com pavor.
- você é um monstro! -falei enojada.
- monstro eu? Não Helena. Você disse que faria o que eu quisesse... Você se ofereceu!
- enlouqueceu? Eu nunca faria isso!
- nem pra voltar pra casa?-sugeriu ele.
- não respeita seus filhos? Sua casa? Sua esposa?
- Virgínia não me satisfaz há muito tempo...- disse ele me olhando de um jeito estranho, com desejo ou luxúria. É apavorante.
- você é nojento! -falei dando um tapa na cara dele.
  Ele gargalhou de maneira assustadora.
- sou sua melhor chance Helena. Faça isso, e poderá ir pra onde desejar! -ofereceu ele.
- você me enoja! -falei cuspindo em sua cara.
  Não esperei para saber sua reação, corri e saí de seu caminho, ouvindo apenas seus gritos ao longe:
- VAI SE ARREPENDER DISSO!

Casamento Arranjado [Completo]Where stories live. Discover now