Capítulo 43

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  Me aproximei de Ian vagarosamente, eu tinha medo de fazer movimentos bruscos e ele se irritar comigo.
  Mas o que eu estou pensando? Ele já está furioso. Não faz muita diferença. Não pra mim.
- Ian?-chamei.
  Ele demorou, mas finalmente olhou para mim.
  Seus olhos estavam vagos, o azul tempestuoso mostrava o quanto ele estava furioso. Mas tinha outra coisa, bem no fundo de seus olhos eu podia ver a tristeza, decepção e mágoa.
  Sem saber muito o que fazer, me abaixe ao seu lado, afagando suas costas.
- argh!-resmungou ele.
  Ian se retraiu, se levantando e indo para o outro lado do quarto, me deixando no chão sem entender nada.
- eu odeio ele!-sussurrou Ian.
  Fiquei em silêncio observado ele caminhar até a janela. Ele estava andando de um jeito estranho, rígido, parecia com medo de se mexer.
- EU ODEIO ELE!-gritou Ian jogando um vaso de flores no chão.
  O grito de Ian seguido pelo estilhaçar do vidro me assustou, fazendo com que eu soltasse uma exclamação assustada.
  Ele me olhou de onde estava, depois se encostou na lateral do sofá.
  Eu me levantei e me  aproximei dele.
- não se aproxime mais!-avisou ele com a voz baixa.
  Parei imediatamente. Ele não quer meu apoio? Não interessa, sou teimosa mesmo...
  Assim que cheguei mais perto, pude ver melhor o motivo dele ter me afastado.
  Minhas pernas tremeram, não pode ser verdade, meu cérebro se recusa a entender o que meus olhos vêem.
  A camisa branca de Ian estava grudada em suas costas, que estava completamente ensanguentada.
- Meu Deus!-sussurrei colocando as mãos na boca.
  Ian soube imediatamente do que eu estava falando, e virou para ficar cara a cara comigo.
- diz que não é o que estou pensando! -falei entre lágrimas.
- não é da sua conta! -respondeu ele irritado.
- NÃO É DA MINHA CONTA? COMO NÃO? ISSO TUDO É CULPA MINHA!- gritei descontrolada.
  Eu não conseguia controlar a raiva, o medo e a dor que eu sentia por ver ele dessa maneira. Meu coração doía de mais, e saber que foi minha culpa...
  Minhas lágrimas escorriam sem parar, soluços involuntários escaparam de minha boca. Meu desespero era evidente.
- para com isso Helena! -disse ele segurando meus braços com força.
- NÃO! -gritei. - SE EU NÃO TIVESSE FUGIDO, SEU PAI NÃO TERIA TE B...
- CALA A BOCA HELENA! -gritou ele me sacudindo.
  Ian estava completamente transtornado, eu não estou reconhecendo ele.
- NÃO! VOCÊ NÃO PODE ME MANDAR CALAR A BOCA, NÃO DEPOIS DO QUE EU FIZ!
  Ian me soltou e imediatamente socou a parede me fazendo chorar mais... Ele tá se machucando, me machucando...
- preciso sair daqui!-disse ele indo para a porta.
- IAN PARA!- gritei.
  Ele não me ouviu. Ou simplesmente fingiu que não ouviu.
  Corri e me coloquei na frente da porta, impedindo a passagem.
- Sai da minha frente Helena! -disse ele com raiva.
- NÃO!
  Antes que ele pudesse fazer qualquer movimento, me atirei nos braços dele.
  Com medo de machucar mais, eu o abracei pelo pescoço e coloquei a cabeça em seu peito enquanto minhas lágrimas ensopavam a frete de sua camisa.
-me perdoa Ian... Por favor, eu não queria te machucar!-falei entre os soluços. - Eu não queria...
  Demorou um longo tempo até ele me abraçar de volta.
  Ele me abraçou com tanta força que me deixou sem ar. Senti seu corpo estremecer enquanto ele chorava.
  Caímos no chão abraçados enquanto eu tentava consolar ele. Mas ver ele assim, tão frágil, tão destruído, machucado e aos prantos, estava acabando comigo.
  Nunca pensei que podia doer tanto ver uma pessoa sofrer... Nunca pensei que doeria tanto ver Ian sofrer... Meu coração está dilacerado.
  Finalmente Ian parou de chorar, se afastou de mim e levantou.
  Levantei e fiquei de frente pra ele.
- você não deveria ter visto isso!-disse ele baixo. - Homem não chora.
  Mostrei um sorriso forçado.
- antes de ser homem, você é um ser humano Ian... Tem sentimentos, sente dor. Não é feio um homem chorar. Feio é não admitir que tem sentimentos!
  Ian sorriu forçado, e tocou suavemente meu rosto onde seu pai havia me batido.
- não sei o que eu fiz para merecer você em minha vida...
  Eu não conseguia responder, apenas comecei a desabotoar sua camisa.
  Minhas mãos estavam trêmulas, e tive dificuldades com o primeiro botão.
- não! -disse Ian parando minhas mãos.
- eu vou cuidar de você!- falei irritada.
- não quero que veja isso! -disse ele com a testa franzida.
- Sabe que não pode mandar em mim... Não sabe?-perguntei.
  Não esperei por sua resposta e continuei abrindo sua camisa.
  Depois que consegui com alguma dificuldade abrir todos os botões, pude contemplar seu peito desnudo. Sua pele era branca, macia e suave, livre de pelos. Ele não tinha músculos exorbitantes, era apenas bem definido, mas era belo em sua simplicidade. Eu nunca tinha visto ele sem camisa. Na verdade eu nunca vi homem nenhum sem camisa. Mas ao ver Ian, foi especial... Eu gostei do que vi.
  Senti meu rosto queimar. O que eu estava pensando? Eu só preciso cuidar dele.
  Meus olhos não saíam de seu corpo, e eu tinha consciência de que ele estava me observado.
  Sem pensar muito no que estava fazendo, toquei seu abdômen suavemente com as pontas dos dedos.
  Sua respiração oscilou e senti uma onda de alguma coisa inexplicável.
  Ian segurou minha mão e sussurrou:
-Cuidado!
  Eu não entendi seu aviso, não havia nenhum machucado ali. Olhei para seu rosto e vi a sombra de um sorriso sincero brotar.
- gostou do que viu?-perguntou ele.
  Depois disso, entendi claramente o aviso dele. Senti minhas bochechas arderem.
- talvez... Não me surpreendeu muito! -falei indiferente.
  Eu menti descaradamente. Obviamente eu havia gostado do que acabei de ver, mas sou teimosa de mais para admitir.
- mentirosa!-sussurrou ele em meu ouvido.
  Um arrepio varreu meu corpo inteiro, sua voz rouca me tirou o ar e todo meu raciocínio lógico.
  Ian se aproximou mais, e o espaço entre nós era quase inexistente.
- eu sonhei com você tirando minhas roupas várias vezes...- disse ele maldoso.
  Corei violentamente com sua provocação.
  Ian finalmente me agarrou e me beijou. Me beijou de verdade.
  Era muito clara a diferença entre esse beijo e os outros. Esse beijo foi mais profundo, mais feroz, mais quente, mais tudo... Ian nunca havia me beijado assim antes.
  O beijo era uma necessidade, algo que... Não sei explicar, é um fogo se espalhando por meu corpo, uma necessidade de ter ele me tocando. Era como se ele tivesse em todos os lugares, me deixando a mercê de seu desejo.
  Pela primeira vez, senti a paixão em minha carne, esse beijo me fez querer mais, mais dele, mais de nós...
  Ele me apertou mais contra si, e decidi que estava pronta pra ele. Pronta pra provar que o amo. Pronta pra qualquer coisa que acontecer a partir desse momento. Eu amo ele, amo de verdade e já que vamos nos casar...
  Senti Ian afrouxar meu espartilho com violência, ele parecia ter chegado a mesma conclusão que eu, ou alguma coisa próxima a isso...
  Seu lábios abandonaram minha boca e se ocuparam com meu pescoço. Ele me deu beijos quentes e úmidos por toda extensão do meu pescoço, se aproximando perigosamente dos meus seios.
  Soltei uma exclamação de prazer, o que o estimulou a continuar...
  Me agarrei a ele como se fosse o perder a qualquer momento.
- ARGH!-gritou ele.
  Me afastei imediatamente confusa, e reparei em sua cara de dor.
  Meu Deus, havia me esquecido dos ferimentos e acabei o machucando mais.
  Ele riu da minha reação. Eu devia estar com uma cara bem estranha mesmo.
- acho melhor não fazermos isso!-falei assustada.
- talvez depois! -disse ele sorrindo torto.
  A ficha de repente caiu. Meu Deus, eu quase me entreguei a ele, antes do casamento! Onde eu estava com a cabeça? Ian me faz perder a razão. Seu toque, seu cheiro...
  Helena! Para com isso. Você quase estragou tudo, tem que se controlar com Ian, ele é seu noivo, mas ainda não é seu marido, e você não sabe o que ele sente por você...
  Eu estava me repreendendo mentalmente enquanto Ian terminava de tirar a camisa.
  Sua camisa estava um pouco grudada em suas feridas, ele fez uma careta de dor que fez meu coração doer.
- eu vou cuidar disso!-falei pra ele.
  Quando eu finalmente criei coragem, olhei para suas costas, e lágrimas brotaram novamente em meu olhos.
  Seu corpo estava muito ferido, suas costas estavam... Meu Deus...
  Eram longos e extensos cortes feitos por algum tipo de açoite que depois de tanto acertar a carne, finalmente a rasgou, fazendo o sangue escorrer. O sangue estava um pouco seco, mas as feridas ainda sangravam deixando um aspecto pegajoso... Reparei que além de suas feridas recentes, haviam algumas mais antigas, já cicatrizadas.
- desde quando?-foi a única coisa que consegui falar em meio as lágrimas.
- uns seis anos... - respondeu ele.

Casamento Arranjado [Completo]Where stories live. Discover now