Capítulo 20

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Eu acho que eu não morri.
  Apesar de todo o cansaço que sinto e do frio, posso começar a perceber as coisas ao meu redor.
  Definitivamente eu estou viva.
  Sem abrir os olhos, posso sentir as coisas ao meu redor. A cama, com os lençóis mais finos da região. A pouca luz que emana da janela e o frio.
  Eu não estou sozinha, consigo sentir braços ágeis me arrumando na cama, afofando os travesseiros e me cobrindo. Provavelmente se trata de Celine.
  Meus sentidos estavam começando a retornar, e os murmúrios confusos que eu ouvia começaram a fazer sentido.
- não acredito que ela não morreu ainda!-disse Pietra.
- garota, se não tem nada decente para dizer então saía já daqui!-disse Celine.
  Houve um grande momento de silêncio.
- como está a garota? -perguntou o Senhor Seymour.
- não sei. Ela não acorda e não para de tremer!-disse Ian.
- será um enorme prejuízo se essa garota morrer!-disse o Senhor Seymour.
- Papai, não é hora de ver o lado lucrativo! -resmungou Ian.
- não existe hora para o dinheiro Ian.
- a culpa disso tudo foi minha! Eu deveria ter prestado mais atenção!-resmungou Ian.
- pare de se lastimar garoto. Por um acaso foi você quem mordeu ela?
   Ian ficou em silêncio.
- Foi o que eu pensei!-disse o Senhor Seymour ríspido. - Você ainda salvou a vida dela retirando o veneno. Espero que ela não seja tão fraca e morra.
- Pai, por favor... - disse Ian.
- Basta Ian. Pense pelo lado positivo.
- o que? Como assim? Existe um lado positivo quando se é picado por uma cobra? -perguntou Ian.
- Se ela morrer, não precisará se casar. Ai você não ficará me amolando querendo despachar a garota de volta. - disse o Senhor Seymour com uma gargalhada.
   É impressionante como a vida vale pouco pra esse homem. Não acredito que ele me odeia tanto a ponto de desejar minha morte.
- Pai, não desejo a morte dela!-disse Ian em voz baixa.
- mas isso te livraria do problema. Você não teria mais que me implorar para devolver a moça! Seria como se nada tivesse acontecido.
  Ian ja tentou me devolver?
- até parece que a morte dela seria benéfica para alguém! -reclamou Ian.
- verdade. Eu teria um grande prejuízo. A família dela não iria fechar negócio. E terei muito trabalho em fazer outro arranjo para você!
- outro arranjo?-perguntou Ian cético.
- sim. Desde que a moça ai foi picada pela cobra, eu comecei a procurar outra noiva para você!
-Pai, o Senhor não tem consideração?
-nenhuma! -disse o Senhor Seymour. - Não gosto dessa garota. Se ela morresse, seria ótimo para mim!
  Alguns segundos depois o Senhor Seymour partiu.
  Eu fiquei realmente impressionada com o que ouvi. Realmente eu sempre fui uma mercadoria. É agora uma mercadoria com defeito que corre o risco de ser jogada fora.
  Eu sabia que o Senhor Seymour não gostava de mim, mas não imaginei que o ódio que ele sentia lor mim fosse tão profundo. Chega ser cruel. Nunca fiz nada pra ele, e mesmo assim ele deseja minha morte. Ele é um monstro cruel.
  Abri os olhos lentamente e vi o quarto girar. Respirei fundo para tentar estabilizar. Procurei em volta um sinal de vida.
- Helena?
  Ian correu até mim e sentou na cama ao meu lado.
- Por Deus, achei que você fosse morrer! -disse ele com um suspiro de alívio.
- seria conveniente para o seu pai!-falei.
  Me surpreendi com minha voz. Não passava de um sussurro rouco.
- Você ouviu!-disse ele.
- eu não sou surda. E também não pretendo morrer. Sempre soube que ele não gosta de mim!
-não é bem assim Helena. Bem, meu pai não gosta de ninguém. Se servir de consolo.
- estou com sede!-falei olhando para o teto.
  Ele se levantou e foi pegar água para mim.
  Ele trouxe um copo, e me ajudou a beber erguendo minha cabeça.
- obrigada! -sussurrei.
- como se sente?-perguntou ele.
- fraca. Estou com frio e vejo as coisas rodando.
- isso vai passar. - disse ele.
- obrigada, por ter salvado minha vida!
-não foi nada. Eu só tirei parte do veneno. O Dr. Murphy quem te salvou, ele aplicou um soro em você.
  Fiquei em silêncio.
- Helena?
-sim...
- sinto muito! -disse ele.
  Fiquei confusa.
- pelo que?-perguntei.
- isso é culpa minha! -disse ele.
- não, não é. Ninguém pode controlar a natureza. E eu provoquei o bicho.
  Ele sorriu.
- eu preciso dormir! -falei fechando os olhos.
- tudo bem!-disse ele levantando.
  Como se fosse um reflexo, segurei a mão dele e apertei.
- Fica!-sussurrei.
- como é? -perguntou ele.
  Não soube se ele não tinha ouvido ou só estava muito surpreso.
- Por favor, não me deixe sozinha! -sussurrei.
   Ele sentou na cama com as pernas para cima, e ficou ali sentado ao meu lado.
  Eu não deveria me sentir tão segura perto dele, mas eu precisava.
  Isso está passando dos limites, essa proximidade, esses frágeis laços que estão se formando entre nós, isso tem que parar.

Casamento Arranjado [Completo]Where stories live. Discover now