Capítulo 46

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Eu passei o dia inteiro em meu quarto, não queria encontrar ninguém, muito menos encarar o Senhor Seymour. Aquele homem sempre se mostrou rude, mau humorado, irritado e intimidador. Mas eu nunca imaginei que ele pudesse ser tão cruel a ponto de espancar Ian por causa de um acidente.
Dorian passou para saber como eu estava, mas logo o dispensei dizendo que estava com enxaqueca.
Virgínia entrou no quarto tão silenciosamente, que só percebi sua presença por causa de um pigarrear.
- Ah, oi!-falei sem graça.
- desculpe, não queria assustar você... - disse Virgínia.
- tudo bem. Eu só estava distraída!
Ela se sentou na minha cama e segurou minhas mãos.
- vim saber como você está Helena. Fiquei preocupada, não te vi o dia inteiro.
-eu deveria está fazendo essa pergunta para você Virgínia. Está tudo bem?-perguntei preocupada.
Virgínia estava pálida, claramente abatida e com profundas olheiras. Suas mãos estavam frias e trêmulas.
- eu estou bem... Não se preocupe comigo.
- mas você passou mal ontem!
-eu estou melhor! -disse ela com um sorriso fraco.
Ela tocou suavemente meu rosto, provavelmente já está com um hematoma.
- perdoe meu marido, ele tem alguns problemas...
- todos temos problemas Virgínia, mas é o modo com que lhe damos com eles, que nos faz fortes e nos ajuda a sair da cama todos os dias em busca de algo que faça nossa vida valer a pena, mas creio que bater em pessoas inocentes, não seja o melhor jeito de superar seus problemas.
- Helena, por favor, entenda... Não é nada pessoal, Ferdinando sofreu muito. Todos sofremos... Ele só não consegue conter bem a raiva e acaba sendo rude às vezes.
- Aposto que ninguém aqui sofre mais do que Ian. Me perdoe pelo que vou dizer Virgínia, mas Ian não merece apanhar daquele jeito. Não me importo se o Senhor Seymour quiser me bater, ele pode fazer isso quantas vezes quiser, mas enquanto eu estiver aqui, seu marido nunca mais vai encostar a mão em Ian. Ian já carrega culpa o suficiente pela morte de Anthony, e o Senhor Seymour sabe que a culpa não é do Ian, mas mesmo assim insiste em bater e castigar ele. Seu marido tem muito mais do que problemas com o controle da raiva, ele está redirecionando a culpa que ele sente por ser um pai ausente para Ian que estava lá, para que ele possa descontar sua frustração nele. Ian já sofreu de mais, não vou deixar ele passar por isso de novo.
Lágrimas silenciosas molhavam o rosto de Virgínia, e eu comecei a me sentir culpada por tudo que disse.
- não sabia que Ian tinha te contado sobre o Anthony. Eu sei que Ian é quem mais sofreu com isso tudo, mas eu não posso controlar Ferdinando.
Ela não precisou dizer, eu mesma deduzi a consequência de uma objeção vinda dela.
- Virgínia, eu não queria ser indelicada nem nada, mas não posso ficar calada e assistir ao sofrimento de Ian. Ele é tão bom, sensível e altruísta... Não merece sofrer desse jeito. Ele já é um homem, não pode se sujeitar aos desmandos de Ferdinando. Isso tem que acabar.
- eu sei Helena! Mas ninguém pode contrariar ele, e sugiro que você também não faça... Para o seu bem e para o bem de Ian.
- mas...
-não Helena! -disse Virgínia com um longo suspiro. - Sabe qual o principal motivo de Ferdinando te detestar?
-nem imagino...
-Seus cabelos e seus olhos.-disse ela.
Fiquei surpresa. Como assim? O que isso tem a ver?
- seu olhos tem o formato e cor exatas dos de Anthony e seus cabelos tem a textura e cor igualmente aos de nosso filho. Sua presença faz com que Ferdinando se lembre dele mais do que gostaria...
Fiquei em silêncio.
- Ian era novo de mais, não deve se lembrar... Mas eu me lembro e tenho certeza que Ferdinando também...
- sinto muito! -falei.
- não sinta... Gosto de me lembrar dele.
Virgínia me abraçou e disse:
-por favor Helena, tenta não dar mais motivos para ele se irritar com você. Tenho medo do que pode acontecer.
- tudo bem, eu prometo tentar!
-obrigada! -disse ela sorrindo.
Virgínia me deixou ali pensando em nossa conversa por algumas horas, até que a voz de Celine me tirou do transe.
- Helena, eles estão se despedindo dele lá na sala.
Não esperei muito tempo, desci as escadas de dois em dois degraus, ansiosa e preocupada com a partida dele.
Contive meus passos para que as pessoas não notassem minha agitação, eu não estava pronta pra admitir publicamente, não estava pronta nem pra admitir pra ele...
A primeira coisa que vejo me faz sentir uma pontada de raiva e alguma outra coisa muito desagradável no meu peito. Pietra estava abraçando Ian, estava praticamente pendurada no pescoço dele.
- toma cuidado cunhadinho lindo!-dizia ela.
Meu estômago se agitou com suas palavras.
Reparei que o Senhor Seymour não estava presente, óbvio que não. Depois de bater no filho por que ele se daria ao trabalho de se despedir?
Fiquei parada observando a cena, depois de Pietra, Dorian apertou a mão do irmão o desejando uma boa viajem. Virgínia abraçou e chorou enquanto pedia desculpas em voz baixa, depois desejou a ele uma boa viajem. E finalmente chegou minha vez.
Eu estava sem jeito, aquelas pessoas ali estavam me intimidando.
Ian me olhou nos olhos, e senti aquela conexão, aquela troca de segredos.
- me acompanha até lá fora?-perguntou Ian para mim.
Notei os olhares curiosos e percebi que ele queria privacidade assim como eu.
Fui com ele até a varanda, onde o cocheiro pegou as malas e levou para a carruagem, nos deixando a sós.
Ficamos ali, um de frente para o outro simplesmente nos encarando por longos segundos.
- tenho uma coisa para você! -disse ele.
Minhas bochechas arderam. Por que estou me sentindo tão estranha?
- o que é? -perguntei curiosa.
- feche os olhos. - ordenou ele.
Fiz uma careta mas acabei obedecendo.
Ouvi ele mexendo em alguma coisa, e minha curiosidade só foi aumentando.
- Já pode abrir!
Quando abri os olhos, notei que nas mãos dele havia uma caixa retangular de veludo azul marinho, a caixa estava aberta expondo um belo colar de prata com uma pedra vermelha brilhante, e em volta várias pedrinhas minúsculas transparentes, era um rubi com diamantes.
- Ian, é lindo!-falei surpresa.
- gostou? -perguntou ele sorrindo.
- claro, mas não posso aceitar! -falei séria.
- por que não? -perguntou ele decepcionado.
- uma jóia dessa é caríssima Ian. Não posso aceitar!
-não seja orgulhosa Helena, é um presente. E já está comprado então não ouse negar.
Eu sorri derrotada.
- tudo bem. Me ajuda a colocar? -perguntei sem graça.
Ele sorriu e pegou o colar. Ergui meu cabelo no alto para que ele pudesse colocar o colar com facilidade. Suas mãos eram ágeis, quentes e delicadas. Seu toque fez um arrepio varrer meu corpo.
Assim que ele terminou, deu um beijo em meu pescoço me fazendo estremecer e soltar uma risadinha nervosa.
Então ele sussurrou em meu ouvido:
-Feliz Aniversário!
Eu estava surpresa de mais para reagir, então ele me girou pela cintura me roubando um beijo.
O beijo foi lento, prazeroso. Um beijo que fez minhas pernas bambearem e fez meu coração acelerar. Quando sua língua invadiu minha boca, eu só pude responder ao seu estímulo agarrando seus cabelos enquanto ele pressionava minha cintura contra seu corpo, suas mãos quentes e fortes passeavam por meu corpo, deixando uma trilha de calor por onde passavam me fazendo suspirar. Era como se estivéssemos nos beijando pela primeira vez... O nervosismo era o mesmo e a sensação de estar em uma bolha de felicidade e prazer...
Afastei minha boca da dele, e ficando na ponta dos pés consegui alcançar suas orelha onde dei uma leve mordida. Ofegante, sussurrei em seu ouvido:
-tem mesmo que ir?
-não me tente Helena! -disse ele sorrindo.
Ele beijou meu pescoço, sugando minha pele com sua boca, me deixando completamente sem ar.
- você não pode fazer isso comigo!- sussurrei com a voz rouca.
Ele sorriu e disse:
-por que não? Sei que você gosta!
-você é muito convencido! -respondi.
Pra surpreender ele, fiz a mesma coisa com ele, sugando o pescoço dele e do lado oposto, passando minhas unhas na pele de seu pescoço, arranhando toda a extensão de sua orelha a base do colarinho de sua camisa. Ao ouvir seu suspiro, tive certeza que atingi meu objetivo.
- você não vai escapar de mim de novo. Quando eu voltar nós vamos resolver esse nosso problema! -disse ele no meu ouvido.
- estou anciosa Senhor Seymour!
- esse jogo é perigoso, não deveria brincar com fogo... - alertou ele.
- mas a intenção de brincar com fogo, é se queimar! -falei pra ele sorrindo.
Ele se afastou com um pouco de dificuldades, o frio me atingiu onde antes estava o calor de seu corpo.
- como soube que era meu aniversário? -perguntei curiosa.
- eu tenho meus truques...
- quando você voltar, nós vamos comemorar... Só nós dois!-falei sorrindo.
Sua expressão foi muito boa, era um misto de surpresa, ansiedade e malícia.
- está tentando me fazer ficar? Ou só quer me deixar louco?
-um pouco dos dois...- falei sorrindo.
- está me criando um problema Helena, um problema que não temos tempo pra resolver agora, então pare de me falar essas coisas... - disse Ian.
- do que está falando? -perguntei inocentemente.
- você é muito inocente Helena. Mas pretendo mudar isso em breve...
Ele me deu um beijo na testa e disse:
-seu segundo presente chega amanhã!
- não precisava Ian...
- claro que sim. Você merece...
- obrigada!
Ele começou a se afastar.
- IAN!-chamei de repente.
Ele me olhou com um brilho diferente no olhar.
- eu...
- você? -incentivou ele.
- nada... Só tome cuidado!
Ele sorriu e se foi.
Fiquei observando a carruagem partir.
Eu sou uma idiota. Quase que eu falei pra ele...
Quase que eu contei pra ele que eu o amo!

Casamento Arranjado [Completo]Where stories live. Discover now