Capítulo 32

28.1K 3.1K 298
                                    

  Acordei confusa, perdida, sem lembrar com clareza o que aconteceu.
  Quando percebi que ainda estava com as roupas de ontem, fragmentos de memória retornavam me fazendo lembrar de tudo aquilo que tentei esquecer enquanto dormia.
  Suspirei e saí da cama.
  O quarto em que eu estava era enorme, não reparei bem ontem a noite, mas olhando agora, não é simplesmente um quarto de hóspedes.
  O local tinha três vezes o tamanho do meu quarto na mansão Seymour.
  O quarto era pintado em dois tons de azul, claro e escuro, além do dourado que destacava algumas coisas. As cortinas eram enormes, brancas com dourado, elas escondiam duas portas de vidro que dava em uma sacada. A cama de casal tinha almofadas em diferentes tons de azul, e a colcha macia era azul safira com bordados dourados. Uma mesa de cabeceira braca continha alguns livros de aventura e história, e na gaveta tinha um caderno e lápis de cor. Os armários eram brancos e o tapete no centro do quarto era felpudo. Na parede principal, uma pintura me chamou atenção, era uma casa na árvore em tons diferentes de verde e marrom, criando um jogo de luz e sombra na tela, tornando a obra realista. Na escrivaninha as diversas folhas de papel, lápis, tintas e cera também atraíram meu olhar, além de um mapa com um círculo vermelho onde se lia França.
  Caminhei bastante pelo quarto e me sentei no sofá de leitura.
  Estou tão envergonhada de ter chegado aqui com meus problemas...
  Batidas suaves na porta me assustaram.
- Pode entrar! -falei.
  Uma jovem moça de uniforme preto e branco entrou no quarto com uma bandeja de prata, nela continha chá, biscoitos e frutas, além de mel, pão e mingau.
- A Baronesa pediu para que eu servisse seu desjejum. Se precisar de algo é só chamar, sou Annica.
- obrigada! -falei.
  Não quis dizer a moça que eu estava sem fome, então pedi para que deixasse a bandeja e se retirasse.
  Antes de partir, ela arrumou a cama e abriu as cortinas e as portas.
  O vento que entrou fez meu cabelo balançar.
  Atraída pelo som dos pássaros cantando, fui até a sacada, de onde pude contemplar a beleza de uma linda casa na árvore.
   A visão daqui era exatamente como a pintura do quadro, a diferença era que a árvore não estava com suas belas folhas verdes. Só restavam algumas folhas secas que o vento frio do fim do outono arrancava com violência, como se a nudez da árvore fosse diminuir a beleza da casinha.
  A curiosidade me venceu.
  A lembrança de Ian contando como amava aquela casinha me fez correr até ela.
   Eu não deveria pensar em Ian, mas diante da beleza desse lugar é quase impossível não imaginar ele quando criança, pequenino, com olhos azuis grandes e sorriso de mostrar covinhas.
  Tive um pouco de dificuldade em subir as escadas com meu vestido. Obviamente a casa fora feita para crianças.
  Entrei na pequena casa e pude sentir o quanto era reconfortante estar ali dentro.
  Apesar da casa ser minúscula e não me caber em pé, ela era bem bonita. O chão era coberto por um tapete marrom felpudo, haviam muitas almofadas espalhadas e pilhas de livros também espalhados. Nas paredes desenhos desbotados claramente feitos por crianças. Pelo amarelado e desbotamento das folhas, eles estão aqui ha muito tempo. Alguns desenhos eram incompreensíveis, outros pareciam retratar cenas de livros. Haviam alguns que deduzi ser Ian, Dorian e seus avós. Mas o desenho que mais chamou minha atenção estava quase desprendendo da parede. Era uma princesa e um príncipe de mãos dadas, o corpo deles era feito de palitos mas as coroas eram bem desenhadas. Atrás do casal estava a árvore com a casinha e duas crianças na janela.
  Comecei a rir e chorar ao mesmo tempo.
  Não sei explicar minha reação, mas ver aquele desenho de Ian quando era criança, me encheu de uma espécie de alegria e tristeza ao mesmo tempo.
- eu estou enlouquecendo! -sussurrei pro vento.
   Me debrucei na pequena janela da casa e fiquei observando a fonte em forma de querubim que jorrava água no centro do jardim.
   Fechei os olhos por alguns segundos deixando lágrimas caírem livremente.
  Eu já tinha uma resposta para a pergunta de Izabel, mas eu não estou conseguindo admitir pra mim mesma, essa resposta me faz sentir culpa, raiva e constrangimento.
   Isso não deveria ter acontecido, eu não devia estar apaixonada. Não por Ian Seymour, aquele ao qual fui prometida e que eu odiava.
   Mas a verdade é que... minha aversão por Ian se tornou outra coisa, mas não posso admitir isso. Não quero sentir isso. Não posso gostar de alguém que vai se casar comigo por obrigação, não posso me apaixonar por alguém que vai me trair e vai levar uma vida de forma desenfreada enquanto eu sofro, envelheço e cuido dos filhos...
   Mas o que posso fazer? Não posso mais negar para mim mesma esse sentimento que me sufoca, que me tira o sono e põe sorrisos inoportunos em meus lábios.
   Estou apaixonada por Ian.
- sabia que te encontraria aqui!
   Aquela voz não. Eu devo estar sonhando, ele não iria me encontrar tão rápido.
   Por mais que eu precisasse de um tempo longe dele pra entender o que se passa na minha cabeça, eu não podia negar que eu fiquei feliz em ouvir a sua voz... mas magoada também.
  Virei-me lentamente e olhei para Ian sentado ali em minha frente.
   Ele estava com as mesmas roupas de ontem, seus olhos estavam pesados por falta de sono e sua boca era uma linha firme que me impedia de saber o que ele estava pensando.
- como me encontrou?-perguntei.
   Minha voz estava rouca por ter chorado, mas o tom estava amargurado e sem vida.
   Sequei as lágrimas que ainda restavam em meu rosto e esperei.
- você não estava no quarto, olhei da sacada e te vi aqui!-explicou ele, sua voz sem vida.
- não! Digo, como soube que eu estava aqui em Bell Fontaine?
- ah, vovó me mandou uma carta. Acabei de chegar...
- Já parou para pensar que quando uma pessoa foge, é porque não quer ser encontrada!?
- pare com isso Helena. Você não tem motivos para fugir. Não seja infantil.
  Ele estava irritado e parecia prestes a explodir.
-não tenho motivos para fugir? - perguntei incrédula.
- não vou pedir desculpas. Você não tem nada a ver com meu passado. - disse ele.
- acho que mereço o mínimo de respeito, sou sua noiva... A humilhação que me fez passar...
- Helena, você tem noção do que fez?-perguntou ele passando as mãos no cabelo.
- tenho sim!-falei.
- meu pai está furioso Helena, comigo e com você!
-ótimo! -respondi irritada. - Assim ele me manda embora de uma vez...
- VOCÊ NÃO ENTENDE!- rosnou Ian.
- O QUE EU NÃO ENTENDO IAN?-gritei com ele.
- Helena você é tão cabeça dura, tão irritante e mal educada. É extremamente ignorante. Pensei que fosse mais inteligente. - disse ele.
- VOCÊ REALMENTE ESTÁ ME CHAMANDO DE BURRA?
-NÃO HELENA. ESTOU TE CHAMANDO DE CEGA!
   Furiosa, ergui a mão e fui em direção a cara dele. Eu daria o tapa que ele nunca iria esquecer.
  Mas o tapa não aconteceu.
  Ian segurou meu braço com força e olhando nos meus olhos falou:
-eu não quero outra noiva!
   Sem que eu tivesse noção do que estava acontecendo, Ian me puxou em sua direção colando seus lábios nos meus.
   Meu corpo todo respondeu ao toque. Eu esperava mais por aquilo do que tinha noção.
   Seus lábios eram macios e quentes, ele abriu caminho em minha boca com seus lábios e sua língua entrou se chocando com a minha. Seu gosto era suave, quente e molhado.
Seus lábios experientes tiravam tudo de mim, meus beijos, meu fôlego e meu controle.
  O que havia começado com um beijo lento, começou a se transformar em algo que eu necessitava, eu estava respondendo ao beijo de uma maneira que não imaginei ser possível, pois além de nossos lábios e línguas se tocarem, eu tinha necessidade de tocar ele.
   Minhas mãos foram de alguma forma parar em seu cabelo, eu o puxava para mim necessitando dele como se fosse a água que acabaria com minha sede. Ele me tomou pela cintura pressionando seu corpo no meu me segurando contra a parede.
    Meu coração estava acelerado de mais e meu corpo inteiro estava quente. Eu não sabia se estava fazendo certo, nunca beijei ninguém antes, mas o atrevimento da língua dele dentro de minha boca me dava confiança para fazer o mesmo que ele fazia, invadindo sua boca com minha língua.
   Eu estava sem fôlego e não queria me separar dele, mas sentia que se não fizessem iria desmaiar... Relutante me afastei mas segurei seu lábio inferior entre os dentes o desafiando a continuar...
   A respiração ofegante dele me desconcentrou, fazendo com que eu soltasse seu lábio.
   Para minha surpresa ele novamente me puxou e iniciou um novo beijo, mais atrevido e feroz, sugando meus lábios e invadindo minha boca novamente com sua língua.
   O beijo era quente e doce fazia minha pernas tremerem e meu corpo queimar...
   Ele se afastou para podermos respirar, mas não tirou as mãos de minha cintura. Ele encostou sua testa contra a minha e sorriu de canto.
- já beijou alguém antes?-perguntou ele curioso.
   Com medo da minha voz me trair fiz que não com a cabeça.
- você é muito boa nisso, pra quem nunca praticou.
   Fiquei vermelha enquanto ele me beijava novamente.

Casamento Arranjado [Completo]Where stories live. Discover now