Capítulo 26

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Em algum momento eu parei de vomitar, minha garganta e meu nariz ardiam muito e o cheiro de cerveja me dexava ainda mais enjoada.
Lembro vagamente de Ian praguejar e ameaçar Dorian antes de sair da frente, lembro também dele segurando meus cabelos enquanto eu vomitava e chorava.
  Não sei como fui parar na cama, nem como a bagunça foi limpa, mas senti frio. As janelas estavam abertas, eu acho...
  Um barulho alto fez minha cabeça latejar. Barulho de portas.
- MEU DEUS!-gritou alguém.
  Acho que era Celine.
  Acordei assustada e percebi que estava presa. Não presa exatamente, mas envolvida em um braço quente.
  O dono do braço também se assustou e se afastou imediatamente.
  Ian estava descabelado, com olheiras e barba por fazer. Não é nem de longe a sombra do homem que costumava ser. Mas não foi isso que me chamou atenção. O fato de ele estar na minha cama sem camisa me fez engasgar.
  Pelo menos eu estava vestida. Aliás completamente vestida, com as roupas de ontem.
Não consigo me lembrar de nada que aconteceu ontem, nem em quais circunstâncias Ian foi parar em minha cama sem camisa.
  Celine parecia ter visto um fantasma de branca que estava.
- Celine! -disse Ian com a voz rouca.
  Celine fechou a porta e ficou ali parada nos encarando.
- que pouca vergonha Senhor Seymour! -disse Celine.
- Celine não é nada disso que está pensando! -disse Ian se levantando.
  Eu só podia observar enquanto ficava vermelha de vergonha.
- então se explique!-disse Celine.
- a Senhorita passou mal a noite inteira, ela bebeu em excesso e bem... vomitou muito, inclusive em minha camisa.
  Celine parecia incrédula, mas eu ainda me sentia pior, não acredito que fiz isso. Que vergonha.
- e por que o Senhor estava na cama dela?
-Celine eu fiquei para o caso dela vomitar novamente, não queria que a garota morresse afogada no próprio vômito.
  A expressão de incredulidade e desconfiança de Celine me deixou sem graça.
- acontece mais do que você pensa!-disse Ian.
- tudo bem, acredito em você. Sorte a sua que foi eu quem veio acordar a Senhorita Helena, pois Pietra se ofereceu para vir. Seria um escândalo.
- mas não aconteceu nada Celine. Pode deduzir isso olhando para ela!-disse Ian apontando para mim.
- ela está péssima! -disse Celine.
- ajude ela a se recompor Celine. Vou mandar Carol trazer um café forte para ela enquanto digo aos meus pais que ela não se sente bem...
- tudo bem Ian, vá logo! -disse Celine.
  Ian deixou o quarto e os olhos de Celine caíram sobre mim.
  Cobri meu rosto vermelho com o cobertor e gritei:
-EU NÃO LEMBRO DE NADA!
  Celine caiu na risada, me fazendo descobrir meu rosto e encarar ela.
- qual a graça? -perguntei.
- Ian! Ele acha que eu imaginei horrores...- ela não sabia se falava ou ria.- Como se você conseguisse!
- estou tão mal assim?-perguntei.
  Celine me entregou um espelho e minha imagem me deu medo.
- Minha cabeça... Parece que vai explodir!-choraminguei.
- nunca ficou bêbada? -perguntou Celine rindo.
- já, mas sozinha com minha amiga... Ian deve pensar que sou uma fraca, alcoólatra e desesperada.- lamentei.
- você parece desesperada!-disse Celine sorrindo.
- talvez porque eu esteja desesperada!-falei irritada.
- calma, isso acontece com todos pelo menos uma vez na vida...
- não tente me consolar Celine, estou desesperada, não lembro do que eu fiz ou falei ontem!
- qual é a ultima coisa que se lembra? -perguntou Celine.
- lembro de estar com Dorian, bebendo e jogando cartas....
- Dorian? Eu ja deveria ter suspeitado do envolvimento dele. Ele sempre está embebedando alguém. Geralmente as garotas que ele embebeda, acabam na cama dele. As encontro pela manhã. Um milagre você está em seu quarto, sã e salva... Eu espero!
-Celine! -briguei. - Sei que não aconteceu nada.
- por incrível que pareça eu tenho certeza que não aconteceu nada! -disse Celine. - Ian não ia se aproveitar de um senhorita bêbada. Ele ainda é um homem honrado. Apesar de ser homem...
- Celine! Está me envergonhando com esse assunto.
- mas saiba disso Helena, antes de ser honrado ele é um homem, e homens tem necessidades, desejos que precisam ser saciados...
  Meu rosto queimou de vergonha.
- não Celine, Ian não me vê desse jeito. Ele já deixou bem claro isso.- falei.
- mesmo assim, não é de bom tom uma moça deixar um rapaz dormir em seu quarto, mesmo que sejam noivos...
- mas eu não deixei! Eu não me lembro!
  Celine riu.
- vamos, vou arrumar você! Pelo menos ainda permanece donzela!
  Depois de tomar banho e me vestir, eu voltei a me parecer com uma dama. Apesar de estar muito envergonhada com toda essa situação, já é hora de sair do quarto.
- você não tem que ajudar Pietra? -perguntei a Celine.
- não, eu sou governanta e não criada!-resmungou ela.
- então por que...
- Porque ainda estou tentando me desculpar por te confundir com uma pedinte...
- mas eu já lhe perdoei. Não precisa fazer isso!-falei.
- meu trabalho é um tanto intediante Senhorita, por isso ajudo a Senhorita e a Senhora Seymour. Não só pelo fato de eu quase não ter trabalho, mas porque eu gosto sinceramente de vocês, e trabalho nunca matou ninguém!
-obrigada Celine, também gosto muito de você. É uma boa amiga.
- agora vá! -disse ela.- Ian está esperando a Senhorita na sala de estar. Mandarei alguém levar um desjejum para você.
- obrigada! -falei antes de sair.
  Caminhei lentamente, forcei minha mente a voltar e me lembrar de ontem, mas nada aconteceu.
  Fico dividida entre fingir que não me importo com seja lá o que tenha acontecido ou se me desculpo.
  Tenho a péssima sensação de que algo muito sério aconteceu ontem, porque a expressão de Ian me fez parar exatamente onde estava.
- como se sente?-perguntou ele friamente.
- com uma enxaqueca terrível! -falei desabando no sofá.
- posso ver isso!-disse ele.
  Ian estava com os cabelos molhados, roupas limpas e engomadas, fez a barba e parecia um homem de negócios.
  Uma criada trouxe uma bandeja com biscoitos amanteigados e café forte. O cheiro dos biscoitos fez meu estômago se agitar.
  Franzi o cenho para a comida distraidamente e ouvi:
-você precisa comer alguma coisa. Tente um biscoito depois beba o café, então depois pode tentar mais alguns biscoitos...
  Fiz o que ele mandou em silêncio, sabia que revidar agora não era uma boa ideia.
- acho que te devo um pedido de desculpas!-falei baixo.
- pelo que exatamente? -perguntou ele.
  Ian sentou no sofá em minha frente, cruzou as pernas e ficou me observando.
  Não gostei da pergunta dele, isso quer dizer que fiz muitas coisas desagradáveis.
- eu não sei... me diz você! -revidei.
  Ele me lançou um olhar afiado.
- talvez você me deva descupas por muitas coisas. Mas vou deixar sua consciência te perturbar. Uma hora a Senhorita vai se lembrar. Ou talvez nunca se lembre...
- eu devo ter realmente feito coisas terríveis!
-o que te levou a essa conclusão? -perguntou ele mais afável.
- eu tenho sensação de que fiz algo que vou me arrepender...
  Ele ficou em silêncio por um instante e depois sorriu. Sorriu de verdade.
  Meu Deus, o que foi que eu fiz?
- e então? -perguntei aflita.
- então o que?-perguntou ele se fazendo de inocente.
- fiz algo errado? -perguntei com medo da resposta.
- não... Nada de mais... -disse ele reflexivo.
  Suspirei aliviada e aproveitei para beber meu café.
- Você só disse que me ama e que não vê a hora de ser minha!-disse ele casualmente.
  Engasguei. De verdade.
  Uma crise de tosse horrível me fez perder o ar, eu estava sufocando.
- Helena? -chamou Ian preocupado.
  Eu não conseguia parar de tossir e a vergonha que me tomou, eu estava desesperada e sem fôlego.
- Helena!
  Ian deve ter visto alguma coisa errada, porque ele correu até onde eu estava, me levantou e segurou meu rosto para que olhasse nos olhos dele.
- Helena, olha pra mim!-dizia ele.
  Eu tentava mas não conseguia.
- Helena, olha pra mim e tenta respirar...
  Eu tentava mas não conseguia, parecia que eu estava sufocando.
- respira Helena... Vamos respira! -disse ele.
  Devagar, eu comecei a sentir o ar circular novamente, a tosse diminuiu e comecei a respirar melhor novamente.
  Levou algum tempo até que eu voltasse ao normal.
- Meu Deus, Helena! -disse Ian com olhos arregalados.
  Nós dois nos jogamos no sofá vermelho.
- está melhor? -perguntou ele.
  Sem força para responder fiz que sim com a cabeça.
- você me assustou! -disse ele- Você estava ficando roxa, achei que estava morrendo...
   Fiquei em silêncio. Não tive coragem de olhar para ele. Não depois do  que eu fiz...
- olha pra mim Helena...
  Hesitante olhei pra ele.
- me descupe!-disse ele derrotado. - Você me deixou tão furioso chegando bêbada que resolvi dar o troco. Mas essa brincadeira não teve muita graça!
  Fiquei boquiaberta com a confissão dele.
- seu... seu idiota! -irritei-me.
  Sem o menor respeito, estalei minha mão na cara dele com força.
- nunca mais faça isso! - disse ele furioso.
- EU PODIA TER MORRIDO! -gritei.
- E O VEXAME QUE DEU ONTEM? -gritou ele. - SUAS AÇÕES ME AFETAM!
- SUA REPUTAÇÃO É MAIS IMPORTANTE QUE MINHA VIDA? OU SERÁ SEU EGO? NÃO SE IMPORTA COM NINGUÉM? -acusei.
- NÃO FALE O QUE NÃO SABE!- disse ele com olhar sombrio.
- você sempre estraga tudo!-falei.
- eu? Foi você quem bebeu até o esquecimento e a culpa é minha?-disse ele.
- Você deveria ser mais decente. Eu imaginava que fosse um homem diferente. Mas eu me enganei. Quase me matou por causa de um ego ferido... Só se preocupa com o próprio nariz! -acusei.
- você não sabe de nada.- disse ele sombrio.- Se não tivesse tão bêbada, talvez se lembrasse do que fiz por você!
  Ele me tirou as palavras. Mas sou orgulhosa de mais para deixar ele dar a última palavra.
- não me importa o que fez por mim... O que não fez é o que me enfurece!-falei deixando a sala e Ian.

Casamento Arranjado [Completo]Where stories live. Discover now