Capítulo 35

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  A garotinha finalmente dormiu depois que foi lhe dado um banho e lhe mostrado um quarto novo.
  Fiquei muito emocionada com a atitude de Wladimir e Izabel, eles decidiram adotar a menina.
  Izabel sempre quis ter mais filhos, e apesar da idade avançada ainda é forte o suficiente para criar a garota e dar muito amor que é o que não falta nessa casa.
  A menina hesitou um pouco. Não a culpo. Vivendo com medo das pessoas que não conhece e que não são confiáveis...
  Eles serão ótimos pais...
- no que está pensando? -perguntou Ian.
  Nós estávamos sentados na sala de estar da mansão tomando um chá com biscoitos amanteigados.
- por que acha que estou pensando? -perguntei.
- sei lá... Porque você faz uma cara mais ou menos assim...
  Ele franziu a testa e começou a olhar pro nada, e sua boca se tornou uma linha rígida.
  Comecei a rir com a imitação dele.
- eu não!-respondi.
- faz sim... Só que em você é mais bonitinho! -disse ele sorrindo.
  Meu rosto esquentou, me obrigando a desviar o olhar dele.
- eu estou feliz por seus avós terem adotado a Maria. Eles serão ótimos pais.
- é... Eles têm verdadeira adoração por crianças... Além disso eles não têm muito o que fazer, vai ser bom ter uma criança para movimentar os dias deles.
  Concordei com a cabeça.
- você sabe que temos que voltar, não é? -perguntou ele do nada.
  Encarei seus olhos azuis perfeitos e suspirei.
- sei... é só que... vai ser difícil! -falei.
- muito!
- eu fui muito precipitada em fugir. Não deveria ter feito isso. Sinto muito... - falei.
- a culpa foi minha, você não deveria ter cruzado com aquela mulher...
- não, por favor... Não toque nesse assunto novamente! -falei irritada.
- por quê? Sentiu ciúmes? -perguntou ele sorrindo.
- ciúmes? Eu?-perguntei rindo.-O senhor deveria se dá menos importância Senhor Seymour.
  Ele riu de canto fazendo meu coração acelerar. Esse homem faz meu corpo reagir de forma estranha sem o menor esforço. Isso me assusta.
- nós iremos amanhã! -disse Ian.
- já? -perguntei.
- sinto muito, é que eu preciso viajar...
- pra onde?-perguntei.
- França. Tenho que resolver algumas coisas por lá... Dorian é idiota de mais para ir e meu pai... bem, ele me mandou ir...
- ficará por muito tempo?-perguntei.
- se tudo correr como espero, devo chegar na noite da festa de noivado... - explicou ele.
- hum... - respondi.
  Tinha me esquecido que a festa de noivado se aproxima... e consequentemente o casamento.
  Por mais que eu sinta algo forte por Ian, eu não consigo ficar confortável com a ideia de me casar... Pode parecer um medo bobo, mas sinto que não serei feliz...
  Passei dezesseis anos da minha vida vendo meus pais e sei que o amor não é suficiente.
  Segundo minha mãe, eles se casaram por amor.
  Minha mãe era de família humilde e se apaixonou pelo meu pai. Foi amor a primeira vista.
  Mamãe já estava prometida a um jovem ferreiro, a família dela não ligava para dinheiro, luxo ou títulos, mas eles conheciam as pessoas e queriam minha mãe com um homem de bem, honrado e trabalhador. Mas meu pai, rico, bonito e apaixonado a convenceu de fugir com ele. Mamãe foi sem pestanejar. Foi um escândalo. A decepção da família foi tamanha, que eles disseram a ela que pra eles ela tinha morrido.
  Mas não importava, não é? Afinal eles se amavam e ela não precisava de mais ninguém a não ser ele. Mamãe nunca mais viu sua família novamente.
  Mas o amor que eles sentiam um pelo outro, não foi o suficiente!
  Depois de alguns anos, meu pai começou a sair todas as noites para beber e chegava quase de manhã. Minha mãe chorava escondida enquanto cuidava dos meus irmãos doentes. Meu pai chegava bêbado e a agredia fisicamente e verbalmente. Ele a desprezava, a desrespeitava... dizia horrores e a humilhava. Quando eu ia lavar as roupas dele, sentia o perfume das outras mulheres e via as manchas de batom vermelho... uma cor que minha mãe nunca usaria por achar que era vulgar. Eu passei a cuidar das roupas dele pra minha mãe não sofrer mais ainda... E aparentemente éramos a família perfeita de Londres. O ideal de família rica, nobre e amada... tudo não passava de fachada.
- não quer que eu vá? -perguntou Ian.
- não é isso... Só estou com medo do que nos espera quando retornarmos... Do que me espera...- falei.
- não se preocupe! Meu pai pode ser um pouco difícil às vezes... Mas... Ele não fará nada com você...- disse Ian com a testa franzida.
- o que há de errado? -perguntei.
- como assim?-perguntou ele surpreso.
- você e seu pai. A relação de vocês parece um pouco complicada...
  Ian se levantou e foi até a janela e ficou olhando lá para fora e disse:
- apenas temos opiniões diferentes!
  Ele ficou em silêncio. Resolvi não insistir, ele não parece muito confortável com esse assunto, então resolvi deixar para lá... Pelo menos por enquanto.
- deveria tomar um banho!- falei de repente.
  Ele se virou lentamente e riu.
- está insinuando alguma coisa?-perguntou ele.
  Fiquei vermelha imediatamente. Não foi isso que eu quis dizer...
- não... é só que... Você está...
- você também deveria tomar um banho. - disse ele rindo da minha confusão.
  Olhei para minha roupa e reparei que eu ainda estava com o vestido de ontem. Ele estava bem sujo por sinal, com a barra toda manchada de uva e poeira.
- já tomou banho de rio?- perguntou ele de repente.
- não.
- vem comigo! - disse ele me puxando porta a fora.
  Ele me guiou por uma trilha por trás da propriedade de Bell Fontaine, onde grande árvores escondiam uma estrada de terra vermelha bem irregular.
  Não demorou muito para que eu pudesse ver o lugar, era lindo.
  Um rio de águas claras corria entre as pedras formando uma bacia. A cachoeira fazia a água ondular com uma espuma branca. Em volta haviam árvores que derrubavam suas folhas na água e estas iam embora na correnteza.
- é lindo...
- eu e Dorian adoravamos esse lugar...
- imagino o quão difícil deveria ser controlar vocês.
- um pouco! -disse Ian sorrindo.
  Seus olhos brilhantes mostravam lembranças felizes, mas seus olhos escureceram...
- vou deixar você sozinha para se banhar, e não precisa se preocupar, não é fundo!-disse Ian.
- tudo bem!-falei.
- depois volto para te buscar! Não se preocupe, aqui é propriedade particular e não tem ninguém por perto, então... Fique a vontade...
  Ele me deixou ali sozinha.
  Esperei ele se afastar e comecei a me despir.
  Entrei totalmente nua no rio.
  A água estava fria no começo, mas depois de um mergulho ficou mais suportável.
  Molhei meus cabelos e comecei a desembaraçar ele com as pontas dos dedos, estavam bem mau tratados.
  Lavei meu corpo naquela água corrente, e parei em pé de baixo da cachoeira, onde a força da água me deixava com a sensação de limpeza.
  Era muito divertido, e comecei a imaginar Ian ali comigo. Seria divertido.
  Mas entendi o lado dele, ele me deu privacidade ou eu não poderia estar nua na água.
  De repente eu percebi que estava nua na água e me senti desconfortável. Se alguém aparecer e me ver assim?
  Não, Ian disse que ninguém vem aqui, é propriedade particular e eu poderia ficar a vontade.
  Saí da cachoeira e encontrei uma pedra um tanto achatada e lisa, onde o sol estava batendo perfeitamente. Me deitei na pedra de barriga para baixo, tomando sol nas costas enquanto o resto do meu corpo permanecia submerso.
  O sol estava tão bom, que acabei adormecendo.

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