Capítulo 18

29.4K 3K 146
                                    

Após eu tocar notei que Pietra estava bem a vontade com Dorian. Aqueles dois se merecem mesmo.
  Me sentei o mais distante possível deles, e comecei a observar Ian que estava sentado a mesa com eles, mas estava do lado oposto deles.
  Ian segurava nas mãos um volumoso livro, lembro-me de ter visto ele na biblioteca, era algo sobre vinhos. A sua frente tinham três taças do que eu suponho que sejam vinhos.
  Me aproximei da mesa em que se encontravam.
  Ian ficou alarmado com minha presença.
- não se preocupe, não vou derramar nada hoje! -falei me sentando próximo a ele.
- não custa nada prevenir!-disse ele retirando uns papéis da mesa.
- o que é isso?-perguntei olhando para as taças.
- vinhos obviamente! -respondeu Pietra sorrindo.
  Dorian acabou rindo junto com ela, o que me deixou irritada, odeio ser motivo de piada, principalmente quando é sobre alguma coisa que eu não sei.
- obrigada Ian pela resposta satisfatória!-falei irritada.
  Pietra continuou rindo, mas logo voltou a falar sobre si mesma para Dorian.
- eu nunca tinha visto vinho dessas cores!-falei.
- não são tão comuns em bailes. Nossa região produz e utiliza mais o vinho tinto. - explicou Ian.
- e como se chamam os outros? -perguntei.
- Aquele é o vinho rosé!- disse ele apontando para a taça que continha um líquido rosado.
  Em seguida ele mostrou uma taça com um líquido transparente mas com um tom de dourado, e disse:
- e aquele é o vinho branco!
- eu já tinha ouvido falar no vinho branco, mas nunca vi ou provei. Imaginava que ele tivesse uma aparência diferente!- falei franzindo a testa.
-diferente como?-perguntou Ian sorrindo.
- Ah, bom... O nome vinho branco me faz pensar em algo branco...
- quer dizer com um aspecto mais leitoso?-perguntou ele.
- é mais ou menos isso!-falei.
  Ele começou a rir. Rir de mim. Fiquei furiosa obviamente.
- do que está rindo? -perguntei com raiva.
- você...
- não tem graça Ian!-falei séria.
  Me levantei irritada, eu ia em bora, se ele não quer saciar minha sede de conhecimento, os livros farão isso.
- Helena, espere um pouco! Me desculpe. É que você é muito curiosa, e tem uma imaginação um pouco fértil! -disse ele.
  Sentei-me novamente e fui agraciada com um comentário de Pietra.
- está se interessando por vinhos agora Helena? Está tão desesperada assim por atenção?
-gostei de ver o interesse dela!-disse Dorian. - Você também deveria prestar atenção Pietra, afinal são os negócios da família!
  Sorri amplamente ao ver a cara de tédio e insatisfação de Pietra.
- e esse vinho rosa?-perguntei.
- Rosé!-corrigiu ele.
- certo, certo... Rosé -imitei a fala dele irritada.
- o que tem ele?-perguntou Ian.
- não sei, nunca vi nem ouvi falar. É bom?-perguntei.
- experimente! -disse Ian.
  Peguei a taça e delicadamente provei o vinho.
- então, o que achou?-perguntou Ian curioso.
- não vou responder! -falei séria.
- por que não? -perguntou ele surpreso.
- porque você vai me insultar como da última vez, vai dizer que não entendo nada de vinhos e vou me irritar, então farei alguma estupidez!
  Ele sorriu. É a primeira vez que vejo ele sorrindo sem deboche, sarcasmo ou qualquer coisa do gênero. Ele realmente gosta do que faz, e isso o deixa feliz. Como eu, quando leio.
- Por favor Helena, prometo não criticar!-disse ele.
- Jura?-perguntei.
- Juro!
- bem, é diferente. Mas eu gostei. Lembra um pouco o vinho tinto!
  Ele sorriu e abriu a boca, esperei pelo comentário irônico mas este não veio.
- bom Senhorita, esse não é dos piores. E realmente tem o sabor semelhante, apenas mais delicado. O sabor do vinho depende de muitos fatores, um deles, talvez o principal é a uva. Nem todo vinho Rosé é igual, assim como nem todo vinho Tinto é igual e nem todo vinho Branco é igual. Tudo depende do processo de produção.
- e o vinho Branco? -perguntei.
- experimente! -disse ele.
  Levei a mão a taça, mas me assustei quando ele parou minha mão no caminho.
  Seu toque era quente e suave, suas mãos eram macias.
  Puxei a mão imediatamente.
- qual o problema? -perguntei.
- beba água primeiro. Para não misturar os sabores!-disse ele me oferecendo um copo de água.
   Depois de beber a água, eu bebi o vinho branco, e novamente fiz meu comentário que gostei. E como feito anteriormente, ele fez o discurso de depende da produção e que nenhum vinho é igual ao outro.
- mas se as uvas tem a coloração escura, como são produzidos esses vinhos? Não existe uma uva rosa. Ou existe?-perguntei tentando imaginar.
- o processo de fabricação pode ser complicado, mas não tanto. E não, não existe uma uva rosa.
- então como é? -perguntei.
  Dorian e Pietra entediados com a conversa partiram, nos deixando a sós.
- bom... Essa conversa vai ser longa e está tarde. Não quer ir dormir? Não precisa de seu sono da beleza? Podemos continuar amanhã...
- não Ian, não preciso de sono da beleza. Sou uma pessoa noturna...
- sei, os livros! -disse ele sorrindo.
- exatamente, dormir é para os fracos! -falei sorrindo.
- tudo bem... Bom, os vinhos rosés geralmente são feitos a partir de uvas tintas.
- mas então como...
- só deixe eu falar Helena, por favor! -disse ele me interrompendo.
- tudo bem...
- O vinho rosé apresenta uma coloração que pode variar de um laranja pálido a um rosado vívido, dependendo das uvas que são usadas para a fabricação do vinho. Existem metodos diferentes para a producao do vinho rosé, sao eles a Prensa Direta, Sangria e Corte. O mais comum por aqui é o Corte, mas não é uma técnica muito boa.
- por que não? E que técnica é essa?- perguntei.
- é uma técnica em que se misturam os vinhos tintos com os brancos, resultando no rosé, mas como eu disse o sabor do vinho fica prejudicado.
- mas então como é?
- O vinho rosé é elaborado a partir de uvas tintas que são submetidas a uma breve maceração após serem prensadas para se extrair o suco. A maceração dura só algumas horas, por isso o aspeto rosado. Se o processo de maceração demorasse mais, o vinho iria adquirir mais cor se tornando tinto.
- acho que entendo. Então, nada de uvas rosas?-perguntei.
- sinto em lhe decepcionar Senhorita! -disse ele sorrindo.
- vocês fazem esse tipo de vinho aqui?-perguntei.
- não. Esses vinhos, tanto o Rosé quando o Branco, são comuns na França. Esses vinhos aqui são de um concorrente de meu pai. Ele está querendo produzir em grande quantidade. Para o rosé ele usou o processo de Corte, por isso não está tão saboroso. Ele não obterá êxito, não chegam nem perto dos Franceses. O vinho Rosé é uma questão de moda. Ninguém aqui gosta muito.
- entedo, mas e o vinho Branco? -perguntei.
- As uvas se dividem em uvas de pele clara ou escura. O suco de uva não tem cor, então podemos fazer um vinho branco a partir de uma uva tinta, mas é impossível o contrário. Entende o que quero dizer?
-acho que sim. As uvas tem pele clara ou escura. Mas dentro são iguais.
- mais ou menos. Não podemos usar uvas de pele clara para fazer o vinho tinto. Tenha isso em mente. A coloração do vinho tinto vem da pele das uvas tintas, ou seja, das uvas com pele escura.
- sim, entendi!-falei.
- o mais comum é usar as uvas de pele clara mesmo, esse vinho é fabricado na França, mas lá também é fabricado um vinho Branco especial a partir de uvas de pele escura, eles são chamados de vinhos espumantes.
- espumante? -perguntei.
- sim, que possuem borbulhas. São bem saborosos e muito caros, uma raridade nessas terras.
- nossa, isso é incrível. Não sabia que era tão interessante o mundo dos vinhos! -falei.
- você não sabe nem da metade, o que te contei foi um pequeno resumo, tirado de um resumo que eu resumi pra você! -disse ele sorrindo.
- você gosta do que faz!-falei sorrindo.
- isso não foi uma pergunta! -disse ele perdendo o sorriso.
- não, não foi!-respondi impassível.
  Um silêncio se instalou na sala, os únicos sons eram o crepitar da lareira e nossas respirações.
  Nós estávamos nos encarando, e comecei a ficar nervosa. Não gosto do jeito que ele olha pra mim, parece tentar ler meus pensamentos. As vezes ele encara com tanta intensidade que acho até que realmente consegue saber o que estou pensando.
- está ficando tarde, é melhor nos recolhermos.- disse ele.
- claro!-falei hesitante.
- vou lhe acompanhar até seu quarto senhorita! -disse ele me oferecendo o braço.
  Caminhamos juntos pelo corredor, nós estávamos bem próximos. Eu podia sentir sua respiração tranquila, seu perfume doce de vinhos e chocolate, seu braço forte sob a camisa...
- chegamos Senhorita.- disse ele parando em frente a minha porta.
  Me afastei dele e fiquei de frente para ele, olhando para seus olhos azuis falei:
-Obrigada Ian. A conversa foi muito agradável!
-não me agradeça Senhorita. Gosto tanto de vinhos que espero não ter lhe aborrecido falando de mais!-disse ele sorrindo.
- imagina, eu que perguntei. Sou um poço profundo de curiosidade.
- gosto disso na Senhorita!-disse ele.
  Eu não sabia o que responder, seu comentário me tirou as palavras, fiquei surpresa de mais.
- Boa Noite Senhorita! -disse ele se afastando.
  Eu impensavelmente fiz o que não deveria.
- IAN? -chamei.
  Ele se virou surpreso, e rapidamente caminhou de volta até mim.
- Sim?-perguntou ele com expectativa.
- eu... É...
   O que está acontecendo comigo? Por que não consigo falar? Não consigo nem pensar direito ao ver aqueles olhos azuis me encarando.
- Eu só queria agradecer pelo chocolate. Boa Noite!-falei.
  Em seguida entrei para meu quarto, batendo a porta e deixando ele parado lá fora sem entender minha reação. 
  A verdade é que nem eu entendia o por que eu fiz aquilo.
  Demorei a pegar no sono. Preciso sair daqui.

Casamento Arranjado [Completo]Where stories live. Discover now