Casamento Arranjado [Completo]

Capítulo 36 (BÔNUS)

Pov. Ian

  Eu estava caminhando pela trilha da propriedade enquanto observava as coisas ao meu redor.
  Já faz um tempo desde que deixei Helena no Rio, logo tenho que ir atrás dela.
  Me sentei de baixo de um velho cajueiro e comecei a me lembrar dos dias que eu e Dorian passávamos ali, sabíamos que não era pra subir no cajueiro, mas éramos teimosos e subimos. Dorian caiu e quebrou o braço. Foi uma briga terrível entre meu pai e minha vó. Sei que a briga deles não foi só por um pedaço de terra. Eu era o verdadeiro motivo da briga.
  Lembrei-me de Helena. Está na hora de buscar ela.
  Eu estou adorando essa trégua que tivemos, e claro que me sinto bastante atraído por ela, mas ainda assim não sei se esse casamento é uma boa ideia.
  Helena e eu somos muito diferentes, ela tem um gênio forte, opinião própria, personalidade, língua afiada e coragem. Até aprecio essas qualidades nela, mas não sei... Isso tá errado. Não foi assim que eu imaginei. Não era uma moça assim que eu queria...
  Eu tinha um ideal de esposa perfeita, meiga, doce e sensível. Uma mulher que criaria nossos filhos e seria uma ótima dona de casa. Mas não vejo Helena assim... Ela é imprudente, irritada e mandona, além de ter péssimos modos e um mau humor terrível.
  Não consigo imaginar um futuro com Helena pelo simples fato de estarmos bem e cinco minutos depois brigarmos.
  Para ser sincero, eu até gosto de brigar com ela...
  Por mais que ela esteja errada, ela não dá o braço a torcer, e isso me atrai bastante, porque ela me desafia, me faz querer responder a altura e ao mesmo tempo me impressiona.
  Comecei a rir sozinho.
  Helena é diferente de todas as pessoas que eu conheço. Não tem medo de mostrar sua opinião, mesmo que esta ofenda alguém. Percebi também o quanto é difícil pra ela ficar aqui, ela odeia meu pai e principalmente Pietra, apesar de eu achar que essa implicância delas é um pouco infantil, mais ainda sim sei que ela se sente mal e tem saudade de casa...
  Eu nunca me apaixonei por ninguém, então não tenho como saber se o que sinto por Helena é paixão, e mesmo que seja, não sei se é o suficiente para mantermos um casamento. Ainda mais uma pessoa como ela, que nunca me dá ouvidos.
  A princípio eu odiei Helena com todas as minhas forças. Ela sabia como me irritar e ainda sabe... Eu tentava de todas as formas afastar ela. Eu pedi, melhor eu implorei ao meu pai para que me arranjasse outra esposa... Eu dizia que ela era feia, sem graça, estranha e mau educada, mas meu pai não me deu ouvidos. Ele nunca dá.
  Eu tentei odiar aquela mulher e funcionou, pelo menos no começo... Era mais fácil odiar ela quando Dorian me apoiava e dizia que eu deveria devolver aquela maluca... Mas aos poucos minha opinião sobre ela foi mudando.
  Ela me irritava muito no começo e me confrontava, mas aos poucos comecei a repar
mais nela e até a apreciar sua companhia... Até Dorian mudou de opinião, me dizendo que eu deveria casar com ela.
  Essa mudança de Dorian me incomodou bastante. Ele odiava Helena tanto quanto eu, talvez até mais, ela o fazia se sentir idiota. Não que ele não seja, mas ela o fazia se sentir pior. E agora ele simplesmente resolveu que gosta dela. Fiquei furioso com ele. Principalmente ontem a noite, ele me bateu por achar que eu "perdi" Helena, como se ela fosse um objeto qualquer que esquecemos onde deixamos. Ele não entende que ninguém consegue conter essa garota. Quando ela está decidida a fazer alguma coisa... Ah é terrível, é como tentar segurar um urso selvagem faminto após a hibernação.
   Dorian me deixou muito irritado e desconfiado, ele disse que eu não sou homem o suficiente para Helena, que ela não merece um idiota como eu e um dia ela irá perceber isso, e quando ela perceber, ele estará lá.
  O que ele quis dizer com isso? Se for o que eu estou pensando, Dorian acabou de comprar uma briga das feias comigo. Não vou deixar ele se aproveitar de mais nenhuma donzela inocente.
     Helena é como um fenômeno da natureza, onde ela passa tudo vira um caos, e quando ela se vai, fico ansiando por seu retorno e ao mesmo tempo me preocupando com o estrago que ela irá fazer. Mas como um fenômeno da natureza, Helena também não pode ser controlada, e isso é muito perigoso...
  Me lembrei de todos os tapas que levei dela durante esse tempo... Alguns foram completamente desnecessários.
  A imagem do sorriso dela me faz rir enquanto caminho, ela é uma praga de moça, mas também tem uma beleza incomparável. Não é nada extraordinário, é uma beleza comum, mas algo nela é diferente das outras mulheres que conheci durante esses anos.
  Seus olhos cor de chocolate sempre prendem minha atenção, o olhar dela é muito sincero... Consigo saber exatamente o que ela está pensando apenas com seu olhar.
  E a boca? Uma linda boca,  bem delineada, lábios grossos e macios, completamente beijaveis. Seu hálito é fresco e sua boca quente e macia. Tive vontade de beijar ela desde o dia em que eu a encontrei dormindo na biblioteca, com os lábios entreabertos, eles pareciam implorar por um beijo.
  Os cabelos negros e sedosos dela eram brilhantes e perfumados, era como um véu negro envolvendo seu rosto como a moldura de um quadro perfeito.
  Inevitavelmente lembrei do corpo dela. Aquela noite foi um completo desastre.
  Quando entrei no quarto e vi Helena se banhando,  quase voltei dali mesmo, mas eu precisava ficar e defender a noiva do meu irmão. Nunca imaginei que ela fosse ter a coragem e a audácia de sair nua da banheira, o que só prova o quanto a subestimei. Obviamente ela estava de costas e o quarto estava um pouco escuro, então infelizmente vi muito pouco... Mas o pouco que vi, as curvas perfeitas do corpo pálido e molhado dela, foram o suficiente para fazer mil pensamentos pervertidos passarem por minha cabeça naquele instante. Agradeço a Deus pelo tapa que levei, ou sabe-se lá o que poderia ter acontecido. Depois daquele incidente, passei muitas noites tendo sonhos eróticos com Helena, aqueles sonhos que pareciam bem reais e deixavam vestígios ao acordar, o que me deixava furioso, porque eu não queria aceitar que ela causava algum efeito sobre mim...
  Demorei muito pra me conformar que sinto algo por ela, a ficha só caiu ontem quando ela desapareceu. Não sei dizer como me senti, só sei que foi algo muito desagradável e que não gostaria de sentir novamente.
  Cheguei a margem do rio e percebi que as roupas de Helena ainda estavam ali no chão. Onde ela está?
  Varri o lugar com o olhar, me enchendo de preocupação.
- mas que raios Helena!-sussurrei irritado.
  Eu estava prestes a gritar seu nome quando a vi.
  Ela estava deitada de barriga pra baixo em uma pedra, seu corpo até a base das costas estava coberto por água, mas suas costas nua estava iluminada pelo sol que brilhava em sua pele pálida. Seus longos cabelos estavam grudados em seu corpo, ela parecia uma sereia daqueles livros de história...
  Eu não conseguia me mover, só fiquei ali parado, observando sem reação. Comecei a imaginar como seria tocar aquela pele macia, senti o perfume dela, beijar seu corpo e fazer dela minha mulher.
  Eu fiquei ali imaginando todas as formas possíveis que ela poderia ser minha, sem vergonha, sem pudor... Só eu e ela...
  A visão de Dorian beijando sua mão invadiu minha mente, me deixando cego de fúria momentâneamente. O pensamento dela com outros homens me fez ter uma vontade de socar alguma coisa. Não vou deixar ninguém nunca tocar aquela mulher.
   Eu só consigo imaginar ela comigo, MINHA e de mais ninguém. Não posso deixar ninguém tocar, beijar ou se quer pensar nela...
-mas que idiota Ian!-resmunguei chutando uma pedra.
  Eu cheguei mais perto do Rio, de onde eu podia ver perfeitamente as curvas daquela mulher que me tira o sossego...
- não acredito que estou apaixonado por essa mulher!- resmunguei para mim mesmo.
  Se isso não for paixão, não sei dizer o que é.
  Eu tenho a estranha necessidade de ter ela por perto, de proteger ela e de fazer dela a mulher mais feliz desse mundo. É tudo que eu quero... Eu quero dar tudo pra essa maldita mulher, quero dar o mundo inteiro só pra ver seu  sorriso em troca.
- HELENA! -chamei ela finalmente.

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