capítulo 53

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Cadu narrando

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Cadu narrando.

Abro a porta e dou de cara com o Pedro.

Cadu: Quer o que aqui na casa da minha mulher?

Pedro: Vim conversar contigo.

Cadu: Tu não é bem vindo aqui e eu não quero conversar contigo.

Pedro: Mas nós vamos conversas—passa por mim e entra na casa.— chega de resistência, Edu.

Respiro fundo e fecho a porta.

Cadu: Tudo bem, Pedro. Chega de resistência. Mas tu vai falar tudo o que tu quer falar e depois vai sumir da minha vida e da minha mulher e nunca mais vai me aparecer, tá entendendo?

Ele não diz nem que sim e nem que não, apenas senta no sofá.

Pedro: Porque tem raiva de mim?

Cadu: Tá brincando comigo?

Pedro: Não. Eu quero que tu me diga porque tu tem raiva de mim?

Cadu: Além de você ter roubado a minha ex namorada, feito minha mãe me por pra fora de casa e ter todos os amigos que eu queria ter, ah, e agora fica tomando suquinho com a minha mulher, tu ainda tem alguma dúvida

Pedro: Acho que tá na hora da gente se resolver com o nosso passado, Carlos Eduardo.

Cadu: Eu tô muito bem resolvido com a droga do meu passado.

Pedro: Primeiro, eu não roubei a Vitória de você. Ela veio atrás de mim porque gostava de mim, é assim como você eu também gostava dela. Eu não pude controlar o sentimento. E eu a amei até o último dia de vida dela, quando ela morreu em um acidente com meu filho na barriga. Era pra ser, cara. Não me arrependo do que fiz. A vitória foi o amor da minha vida. Sobre eu ter feito a mãe te por pra fora da casa, achou injusto? Eu fiquei 9 meses em coma em um hospital da periferia em são paulo, sem qualidade porque nossa família não tem dinheiro, tudo por causa da surra que tu me deu, me atingiu forte na cabeça e rompeu tudo aqui dentro.

Pedro: Agora, eu ter os amigos que tu queria ter? Edu, eu nunca entrava em uma partida de futebol se tu não tivesse lá pra jogar comigo. Eu era mais educado, mais de boa, tu era esquentado e por isso o pessoal me curtia mais, não era culpa minha, mano! Depois, ficar tomando suquinho com a tua mulher? Eu tenho o maior respeito pela Juliana, ela é a única pessoa que presta nessa merda dessa favela e se não fosse ela eu não teria forças pra ficar cara a cara contigo nessa noite.

Fico ouvindo o que ele tem a dizer.

Cadu: Tu mereceu a surra que levou.

Pedro: Eu sou teu irmão, Edu. Olha pra mim e me diz se um irmão merece passar nove meses em um hospital por causa de uma surra que levou do PRÓPRIO IRMÃO por causa de uma porra de uma discussão inútil.—grita nervoso.

Com a cara totalmente fechada, o encaro irritado. Ele fica em silêncio, começa chorar e passa a mão no rosto.

Cadu: E tu veio atrás de mim agora pra que?

Ele me olha com o rosto vermelho.

Cadu: Devia ter raiva de mim. Ou veio se vingar?

Pedro: Eu não faria mal nenhum a um irmão meu.—me olha chateado.

Cadu: Quer me humilhar? é isso que tu quer? Que eu ajoelhe e peça desculpas pro meu irmão perfeito e dedicado a porra da família? ao melhor namorado, melhor amigo, melhor filho, melhor neto, melhor irmão? QUER ME VER TE PEDINDO DESCULPAS POR SER SEMPRE O BEM ACEITO, O BEM EDUCADO, PEDRO LUCAS?

Pedro: Não. Eu não quero te ver pedindo desculpas. Perdoar já está perdoado. Eu só queria esquecer disso. Só queria acreditar que éramos moleques que não sabiam nada da vida mas que agora tudo mudou e que podemos nos acertar. PORQUE EU TE AMO, Carlos Eduardo. Eu—bate no peito chorando.—eu te amo. E eu sei que não sente o mesmo por mim, que sente raiva. E eu só queria entender o porque disso. O que foi que eu te fiz?

Não respondo nada. Fico em silêncio fitando o chão.

Pedro: Tu tem uma mulher linda. Vai ter um filho. Trabalha com o que gosta, tu tem uma vida linda, mano. Lembra... lembra quando nós tinha 14 anos, que eu falava que ia ser bombeiro e você falava que ia ser lutador de boxe. Esse sonho já era seu. É todo seu. Eu não me importo com essa merda toda, eu só entrei nisso pra poder me encontrar contigo novamente. Tu continua sendo meu irmão, Edu. Meu irmão que salvava das brigas na rua, que não deixava os moleques bater em mim, que dava o seu lanche pra mim na escola porque em casa só tinha almoço e janta. Tu sempre foi a pessoa mais importante da minha vida. Meu anjo da guarda, foi meu pai e minha mãe quando o pai e a mãe não tava, que era na maioria das vezes. Tu é o único amor verdadeiro que eu tenho na vida e eu não podia deixar isso morrer, eu não posso perder você. Não de novo.

Fico em silêncio fitando o chão.

Pedro: Somos crescidos já, Edu. Tá na hora de deixar isso pra trás. Nós não precisamos mais disso, meu irmão. Não precisa mais disso—ele segura meu rosto olhando nos meus olhos.— tá me entendendo? chega disso, cara! eu preciso de você.—vejo as lágrimas rolando de seus olhos e meu olho arde pesando também.

Ele me solta e soluça chorando, em seguida senta no sofá. Abaixo a cabeça e involuntariamente uma lágrima escorre do meu olho esquerdo, e eu logo limpo.

Ouço a porta abrindo. Juliana. Permanecemos em silêncio.

[...]

Ju: Bom, eu trouxe pizza. Vamos comer.

Pedro: Não precisa, Ju. Eu já tô indo nessa.—se levanta do sofá.

Cadu: Nós vamos comer.—falo rouco.

Ele me olha sem dizer nada.

Ju: Que bom! Vem, Pedro. Me ajuda a por a mesa.—ri e pega no braço dele.

Vou pro banheiro e apoio às mãos na pia com vontade de gritar. Espero um pouco, respiro, lavo o rosto e saio do banheiro.

Os dois estavam na mesa já comendo. Me sento e coloco dois pedaços de pizza no meu prato.

Ju: Ele estava vestido de coelhinho. Aí ele falou a parte que ele tinha que falar e disse no microfone "beijo mamãe"—ri.— foi uma gracinha.—conta do Fabinho.

Ju: Gente, eu não como azeitona, acaba com isso aí.—fala colocando as azeitonas de lado.

Ela estava tentando quebrar o clima, mas na verdade só ela conversava na mesa, com ela mesma, porque eu não falava nada e o Pedro só ria leve e concordava.

Terminamos a janta em silêncio. Aquilo estava embaraçoso e eu não aguentava mais.

Ju: Amor, me ajuda a tirar o pratos.

Afirmo com a cabeça e vou tirando os pratos da mesa.

Pedro: Ju, quer que eu vá lavando a louça?

Ju: Ah, não precisa mas...

Largo os pratos na pia e saio da cozinha. Pego a chave da moto e vou saindo da casa dela.

Pedro: Edu.—me chama vindo atrás de mim.

Ju: Calma—segura ele.— deixa. Deixa ele.

Subo na moto e sumo dali, dirigindo sem direção indo pra fora da favela.

Eu não sabia o que pensar, eu não sabia como lidar com isso, eu queria fugir mesmo sabendo que não podia, mesmo sabendo que não é assim que homem resolve as coisas.

𝐉𝐔𝐋𝐈𝐀𝐍𝐀Where stories live. Discover now