T w o

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T w o — 

- Elaine! — O meu corpo foi sacudido, fazendo-me grunhir. — Elaine, tens de ir para a escola.

Abri apenas um olho, e pude observar a minha mãe com o seu cabelo atado num puxo no topo da sua cabeça.

- Oh mãe. — Grunhi. — Que horas são? — Sentei-me na cama, esfregando os olhos.

- São sete e quarenta. — Falou olhando o relógio que trazia no seu pulso direito.

Bufei e atirei os cobertores que me cobriam para trás, fazendo-me arrepiar e grunhir com a mudança de temperatura.

 A minha mãe saiu do quarto, e eu rapidamente entrei na casa de banho e lavei a cara limpando-a de seguida a uma toalha branca.

Voltei para o quarto, e vesti a primeira coisa que apareceu na minha frente: Uma jeans de ganga clara, e uma sweater branca com uma frase a preto, calçando de seguida as minhas all stars pretas já um pouco gastas.

O tempo hoje, aqui em Denver, estava um pouco húmido e sentia que a qualquer momento poderia chover, mas ainda assim, o ar estava um pouco abafado dando aquele efeito de estufa de que eu tanto gostava.

Mesmo que quisesse, não iria conseguir pentear o meu cabelo, ele era comprido completamente encaracolado de um castanho-escuro que fazia lembrar o chocolate negro, chegava-me até ao fundo das costas, e continha um volume exuberante. Então apenas coloco um pouco de água, e espuma de cabelo.

Na escola, toda a gente olhava para ele, e muitas vezes me atiravam papéis só para apreciarem a minha dificuldade a tirá-los, eram em abundância as vezes que não conseguia devido ao volume e ao excesso de caracóis, e isso era só mais um motivo para me chicotearem com risos e piadas.

Saí por fim do quarto, encontrando a minha mãe na cozinha a tomar o pequeno-almoço, ela estava agora com roupa formal: Um Blazer preto que combinava perfeitamente com a camisa branca que vestia e as calças justas e pretas que cobriam as suas pernas finas. O seu cabelo estava da mesma maneira de quando me fora acordar.

A minha mãe escreve artigos para uma revista aqui da zona, uma revista cor-de-rosa daquelas que todas as adolescentes compram.

- Elaine, filha despacha-te senão vais chegar atrasada! — Falou rapidamente enquanto limpava cuidadosamente os seus lábios.

- Sim mãe. — Murmurei.

Peguei numa tigela amarela com pequenos gatinhos desenhados nela, e enchia de leite levando-a ao microondas, assim que o plim soou coloquei os meus cereais lá dentro saboreando-os encostada á bancada da cozinha.

Fui até á casa de banho onde lavei os dentes, beijando de seguida a bochecha da minha mãe, pronunciando um 'até logo'.

Agarrei a minha mochila preta, e coloquei-a no ombro saindo de casa de cabeça baixa.

Eu andava lentamente não querendo, de maneira nenhuma, chegar á escola.

Não queria ter de me esconder por ter uma cor de pele diferente, não queria ter de passar por aqueles corredores e ouvir as típicas piadas sobre mim, não queria ter de conter as lágrimas e baixar a cabeça, e especialmente não queria ser o saco de box de ninguém.

Para ser sincera, eu já me habituei a tudo isto, era uma rotina, um ciclo vicioso que nunca iria acabar.

Assim que atravessei os velhos portões de tinta gasta, fui quase esfaqueada pelos olhares que me lançavam, eles faziam-me sentir um intruso, uma pessoa deslocada, como um animal que não pertence ao habitat em que foi colocado.

Racism | njhWhere stories live. Discover now