F o u r t y - S i x

363 32 19
                                    

F o u r t y - F i v e

[Sugestão Musical: Sam Smith; Writing's on the wall.]

Elaine

O armário do meu quarto parecia-me agora extremamente interessante, a madeira polida e os pequenos detalhes era algo que poderia observar para a eternidade se isso me livrasse de conversar com o Isaac. Depois de adormecer no carro do Niall, não me lembro das cenas seguintes, acabei de acordar deitada sobre a minha cama, descalça e coberta apenas com uma manta acastanhada. Agora estou aqui, a roer incansavelmente as minhas unhas enquanto tentava ganhar coragem para me levantar da cama e procurar pelo meu irmão, para assim poder questioná-lo á cerca de tudo o que se passara.

- Ouvi dizer que querias falar comigo. - Ouvi uma voz arrastada.

Olhei a porta onde Isaac espreitava com um olhar sério, ainda que esboçasse um pequeno sorriso. Ele entrou após o meu longo silêncio e fechou a porta caminhando até á cama onde se sentou. Os seus olhos claros encararam os meus escuros, e toda a coragem que poderia estar a acumular foi pelo ralo. O medo borbulhava no meu estômago, sentia um medo ridículo de o magoar com as minhas palavras, de o ofender. A Isabella poderia estar a mentir, mas vendo bem as coisas de diferentes perspectivas, ela não tinha uma boa razão para fazê-lo.

- O Niall contou-me. - Isaac murmurou enquanto puxava as mangas da sua suéter de modo a tapar as suas mãos. - E em primeiro lugar, eu preciso que me prometas que não me vais julgar, e que me vais perdoar por teres sofrido com algo que deveria ter sido eu a lidar.

A sua afirmação chegava a ofender-me, ele era uma das pessoas mais importantes da minha vida, ele poderia matar uma pessoa que eu iria amá-lo da mesma maneira. Todavia, eu sabia o que ele poderia estar a sentir, aquele nervoso miudinho, aquela ansiedade, o medo de perder alguém próximo por um erro do qual nos arrependemos de morte.

- Eu prometo, Isaac. - Sussurrei encarando os seus olhos que começavam a ficar húmidos.

Ele clareou a garganta e mordiscou o lábio enquanto brincava com as mangas longas da sua camisola azul escura. Os seus olhos fixaram-se nos meus, mas talvez por falta de coragem, voltaram a fixar-se nas suas mangas.

- Tu sabes que quando eu tinha a tua idade, eu meti-me numas corridas ilegais que me custaram uns quantos raspanetes e uns belos de uns castigos. No entanto, antes de tudo isso acontecer eu já estava enterrado até ao pescoço em coisas perigosas que se vieram a descontrolar e deram em toda esta porcaria. - Ele suspirou. - Eu era extremamente imaturo, deixava-me influenciar com facilidade. A realidade é que queria sentir-me integrado, queria ser popular, queria ser venerado pelas raparigas, e invejado pelos rapazes. A verdade é que eu consegui que isso acontecesse, mas não da melhor maneira.

As suas mãos agarraram gentilmente nas minhas, ele suspirou e finalmente encarou os meus olhos. O meu coração falhou uma batida quando uma lágrima solitária deslizou pelo seu rosto. Ele prensou os lábios, e respirou fundo.

- Foi nessa altura que eu entrei para a equipa de lacrosse da escola, e consequentemente conheci o Peter. Ele era tudo o que eu não era, mas tudo o que eu queria ser. Era popular, tinha qualquer miúda interessada nele, toda a gente o admirava, ouviam-se suspiros e comentários invejosos de todas as vezes que ele passava pelo corredor. Ele gostou de mim e convidou-me para almoçar com o grupo dele, eu fiquei completamente deslumbrado com a atenção que as pessoas começavam a dar-me, e a partir daquele dia eu comecei a pertencer ao grupo mais popular da escola, eu só não sabia que seria tão complicado manter-me nele.

Racism | njhWhere stories live. Discover now