T h r e e

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- T h r e e -

Entrei na sala enquanto olhava os meus ténis, dirigi-me ao meu lugar situado na terceira fila, nas mesas do meio.

Eu queria sentar-me nas mesas do fundo, mas no primeiro dia de aulas, quando o tentei fazer fui expulsa ao pontapé pelos vários alunos que se dizem como populares.

Afinal que é isso de ser popular? Um bando de gente rica, que se veste com a roupa mais cara que encontra numa loja e por isso diz ter muito estilo, ou como eles dizem Swag.

É completamente absurdo a forma como eles rebaixam as pessoas, achando que são os donos do mundo, que o mundo lhes gira em torno do umbigo. Revolta-me o facto de eles olharem com repugnância para algumas pessoas que passam por eles, para dizer a verdade eles olham para a toda a gente dessa maneira, tirando aqueles seus amiguinhos populares.

 O professor entrou na sala, e rapidamente o silêncio se instalou, enquanto ele se sentava e ditava o que seria o sumário de hoje.

Rapidamente um papelinho voou para cima da minha mesa, revirei os olhos e peguei nele abrindo-o.

"Sabes o que disse Deus quando criou o primeiro preto? Bolas! Queimei um!"

Bufei atirando o papel para dentro do meu estojo florido, e pousei os cotovelos em cima da mesa apoiando a minha cabeça nas minhas mãos, enquanto tentava perceber a matéria que o meu querido professor de filosofia balbuciava.

- É ridículo como em pleno século vinte e um, as mulheres continuam a ser discriminadas. — Falou coçando a sua barba enquanto se encostava a secretária. — Como todos sabem a mulher tem vários direitos, e um deles é direito a não ser submetida a torturas e mal tratos. Então, porque acham que isto acontece? Qual será a razão?

Vários dedos se levantaram, mas eu apenas olhei a minha mesa de cor bege, e pensei sobre isso, quer dizer as mulheres têm um monte de direitos, mas ainda assim muitas delas continuam a não ser respeitadas como merecem.

Realmente, eu não entendo o mundo de hoje, e para ser sincera, duvido que venha entender algum dia.

***

Após aquela aula secante, saí da escola a passo apressado, não queria continuar ali dentro, eu queria apenas ir para casa, fechar-me no meu quarto, pegar no meu maço de tabaco e no meu isqueiro e sentar-me na pequena varanda, observar as pessoas e tentar, de alguma maneira, imaginar a vida de cada uma apenas pelo seu rosto.

Era um trabalho difícil, visto que quando passas por alguém na rua nunca sabes o que é a vida dessa pessoa, poderia ser um mar de rosas, ou poderia ser a tempestade mais tenebrosa que possas imaginar, mas pelo seu rosto tu não consegues percebe-lo. Existem pessoas que têm o mais bonito sorriso no rosto, aos teus olhos pode parecer o mais verdadeiro que já viste, mas se olhares nos seus olhos, vais ver toda a sua tristeza, todos os seus demónios. 

Entrei em casa, pousando as chaves no pequeno móvel do hall de entrada.

Subi as escadas de dois em dois degraus, e rapidamente cheguei ao meu quarto onde fechei a porta com tremenda força deixando-me escorregar por ela até estar sentada no chão. As lágrimas brotaram nos meus olhos, e os soluços eram frenéticos, saindo de maneira louca e descontrolada pelos meus lábios.

Tudo o que eu pensava era no dia que eu tinha tido hoje, nas lágrimas que engoli e nos falsos sorrisos que dava apenas aos professores quando me olhavam. Eu sempre fui uma miúda feliz, uma criança que tinha um monte de amigos, mas quando entrei no secundário todos eles se afastaram ao perceberem que iriam ser gozados por andarem com uma pessoa de cor.

Racism | njhWhere stories live. Discover now