F i f t e e n

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 F i f t e e n

O vento empurrava os meus cabelos para a frente dos meus olhos, e enquanto Niall ria, eu tentava atrapalhadamente tirá-los da minha visão. Após ter confiado o meu maior segredo ao loiro, ele convidou-me para tomar o pequeno-almoço com ele, visto que nenhum de nós o tinha feito ainda.

Eu apreciava verdadeiramente o seu esforço em ser meu amigo, e em ajudar-me com os meus problemas. Existia um íman imaginário que me puxava para ele, e me dizia que esta era uma boa oportunidade de recomeçar. Todavia, existia uma outra força muito maior que gritava bem no fundo de mim para me afastar dele, guinchava bem alto que eu o iria magoar e pior que isso, eu iria sair magoada, como sempre saio.

- Elaine, eu não quero que fiques desconfortável. – Olhou na minha direção. – Eu gosto bastante de ti, e quero ajudar-te.

Suspirei pelo tema do assunto.

Eu já havia dito que ajudar-me era uma árdua caminhada de onde poderia nem sequer sair vitorioso. Tirar os demónios obscuros que remoíam o meu interior parece-me algo impossível. Eles foram ficando mais fortes a cada insulto e terror que assombrava os meus dias. Afogá-los seria impossível, eles sabiam como nadar, sabiam como voltar a atormentar-me. As vozes na minha cabeça eram também algo que seria difícil de calar, elas gritavam todos os dias a repetir tudo de mal que me poderiam dizer.

- Niall, já falámos sobre isto. – Murmurei olhando nos seus olhos de um azul intenso. – Por muito que eu queira ser ajudada, é complicado. – Pontapeei uma pedra com o olhar fixo no chão.

Ele parou a meio do caminho fazendo-me parar também. As suas mãos pálidas e frias agarraram as minhas, elevou-as aos seus lábios e beijou-as delicadamente.

- Não compliques. – Uma das suas mãos acariciou a minha bochecha. – Deixa-me entrar nesse teu mundo. Deixa-me tirar-te desse mundo obscuro. – Os seus olhos olhavam os meus intensamente.

- Não é tão fácil assim. – Sussurrei sentindo os meus olhos picar. – Eu estou enterrada, presa aqui. É escuro, é muito escuro. Repleto de terror e sentimentos negativos. Não quero sair magoada, não novamente. – A primeira lágrima deslizou pelo meu rosto. – Eu juro que admiro o facto de tentares entrar, e tentares tirar-me daqui, mas não é assim tão fácil.

- Deixa-me tentar, por favor. – O seu polegar limpou a minha lágrima. – Apenas deixa-me.

Os poucos raios de sol existentes, naquele dia frio, batiam na sua face deixando os seus olhos mais claros, e a sua pele mais pálida do que o normal. Mentiria se dissesse que esta miragem em frente dos meus olhos não me transmitia confiança. A sua aura límpida e fortalecida de paz acalmava o meu interior e, por um mísero segundo, todo o meu corpo vozeava para permitir a sua entrada neste mundo obscuro nas mais fundas fortalezas do meu interior.

Era a sua aura fresca e limpa de problemas que me fazia acreditar que a sua personalidade poderia mudar um pouco a minha. Fazia-me acreditar que seria possível derribar os meus problemas mesmo sendo eles indestrutíveis. Era como se eu estivesse numa rua escura sem qualquer luminosidade, sentindo-me até sufocada, e de repente ele aparece e ilumina o meu caminho apenas com um pequeno raio de esperança.

- Como queiras. – Acabei por murmurar.

Um sorriso largo iluminou o seu rosto e preencheu o meu coração com um conforto enorme. Eu realmente gostava de o ver sorrir, o seu sorriso era lindo. Quando os seus lábios se curvavam nem que fosse para um minúsculo sorriso, era como uma belíssima paisagem numa praia paradisíaca. Chegava a ser relaxante vê-lo a abrir um dos seus tão conhecidos sorrisos.

Ao chegarmos ao café no fundo da rua, entramos devido às baixas temperaturas de inverno e sentamo-nos numa das mesas disponíveis.

O café era bastante confortante; As paredes eram tingidas por uma tinta encarnada bordô, a menos de meio da parede várias tiras de madeira clara revestiam-na até chegar ao solo coberto por madeira escura. O teto era colorido por tinta preta e várias lâmpadas descansavam nele dando a devida luminosidade ao local. Á minha volta podia observar várias mesas de madeira clara envernizada, dando-lhe brilho. No fundo café existia um balcão onde um empregado moreno se movimentava apressado tentado atender os muitos clientes que faziam fila para o pagamento.

Racism | njhWhere stories live. Discover now