Racism | njh

T w e n t y - N i n e

T w e n t y - N i n e

{Sugestão musical; The scientist dos Coldplay}

Elaine

Seria impensável negar que era uma pessoa que sofria por conta do nervosismo, no entanto, não poderia considerar-me alguém tão nervoso ao ponto de não conseguir formar uma frase com pés e cabeça. Todavia, agora, ao olhar-me no espelho eu sentia-me extremamente ansiosa e mal conseguia sequer dizer o meu próprio nome. Encarava a minha roupa desleixada no espelho á mais de dez minutos; As calças de ganga clara, a camisola de lã preta que me cobria as minhas coxas e deixava o meu ombro esquerdo ligeiramente á mostra, e as botas negras que chegavam até meio das minhas canelas.

- Elaine, já podemos ir? Tens aulas em trinta minutos. – Harry reclamou sentado na poltrona bege existente no canto do meu quarto.

- Eu estou nervosa. – Sussurrei.

A verdade é que depois de duas garrafas de água bebidas, e umas quantas caminhadas até á casa de banho tinha finalmente decidido falar com o Niall. O único problema era o medo de ele não me querer ouvir, ou de ele, eventualmente, me ouvir e no fim virar costas e nunca mais olhar para mim na vida. Agora que tinha admitido para mim mesma que me encontrava perdida de amores pelo loiro, tudo o que mais queria era que tudo voltasse atrás. Queria poder voltar ao momento daquele beijo e impedir todas aquelas barbaridades de saírem pela minha boca. Queria tê-lo agarrado com todas as minhas forças e não o deixar partir para a fortaleza da tristeza. Queria, queria, queria. Afinal do que me vale agora lamentar pelo passado? Exatamente, nada.

- Elaine, ou tu paras de olhar para esse espelho ou eu juro que vou pegar em ti e levo-te para o porta-bagagens do meu carro. – Harry resmungou levantando-se e aproximando-se de mim.

- Tudo bem, desculpa. – Murmurei, vestindo o casaco de cabedal preto que se encontrava relapsamente deixado sobre a cama feita.

Ao entrar no seu carro, um cheiro intenso a hortelã-pimenta chegou ao meu nariz, e quem não soubesse do vício estranho do rapaz dos caracóis por pastilhas elásticas, iria certamente pensar que ele escovava ali os seus dentes. Quase que automaticamente, a minha memória correu para o cheiro profundo que habita o carro de Niall, o doce aroma do seu perfume. A paixão por ele fazia com que tudo á minha volta me recordasse dele, sentia-me uma maníaca com algum tipo de transtorno obsessivo.

- Ugh, eu conheço esse olhar. – Harry interrompeu o nosso silêncio.

Olhei para ele desentendida prendendo, inutilmente, uma mecha de cabelo atrás da minha orelha. Ele arqueou uma sobrancelha e revirou os olhos de seguida, suspirando.

- Esse olhar todo derretido e lamechas. – Continuou. – Esse olhar é sempre de alguém apaixonado. A sério, troca de olhos estás a enjoar-me com tanto amor.

- Oh claro, eu vou ali á loja da esquina e vejo sem têm uns olhos a mais. O que achas? – Perguntei ironicamente fazendo-o revirar os olhos.

O carro começou a abrandar até Harry o parar mesmo ao lado do portão gasto da velha escola em que estudava. Suspirei e agarrei nos livros pousados no meu colo bem como na mala castanha que repousava sobre eles. Encarei Harry que me sorriu piscando-me o olho logo a seguir.

- Vai correr bem, Elaine. – Harry tentou reconfortar-me com as suas palavras. – Ele gosta de ti.

Mordi o lábio, e virei-me para ele abraçando o seu pescoço, enquanto sentia o cheiro agradável da sua água-de-colónia. Harry tinha feito imenso por mim, se não fosse as suas palavras estranhamente sábias eu ainda estaria metida no quarto a culpabilizar-me pela tristeza do loiro. E nem tão pouco teria percebido o quão gostava de Niall.