F o u r t y - T h r e e

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F o u r t y - T h r e e

{Sugestão Musical; Stay da Miley Cyrus.}

Elaine

O vestido negro assentava como uma luva no meu corpo de ampulheta. Era simples, sem decotes ou rendas refinadas, afinal eu não iria para nenhuma festa, não iria festejar nada. Eu não estava feliz, e não tinha vontade alguma de me preparar. Eu ia apenas para o enterro do meu pai. Passaram-se dois dias, dois dias extremamente complexos, deixando-me esgotada tanto física como psicologicamente, nestes dois dias não saí de casa. Apenas o fiz quando fui obrigada a ir á esquadra deixar o meu depoimento. Era de loucos pensar que o meu pai realmente foi morto por alguém, era de loucos pensar que o meu pai realmente se tinha metido em caminhos apertados, era simplesmente de loucos pensar que ele não estava mais aqui. Isso deixa-me a pensar no propósito da vida, como num dia temos tudo e de um dia para o outro podemos não ter absolutamente nada. Num abrir e fechar de olhos as coisas mudam e isso assustava-me, assustava-me muito.

- Elaine, já estás pronta? – Isaac entrou de fininho no quarto envergando trajes escuros. Ele estava bastante simples, envergava uma camisa completamente negra em exceção dos botões cinzentos. As suas pernas eram revestidas por umas calças jeans pretas, e nos seus pés repousavam umas botas de cano alto também pretas.

- Sim. – Sussurrei agarrando a minha mala negra e a rosa branca artificial que havia comprado de manhã cedo. Abri um pequeno sorriso para ele e abandonei o quarto em passos lentos e cuidados de maneira a não tropeçar.

Entrei no carro estacionado á porta de casa e Isaac fez o mesmo sentando-se no banco de trás, a minha mãe logo entrou e começou a conduzir até á igreja onde o corpo do meu pai estaria. O ar dentro do carro era pesado, nenhum de nós se atrevia a falar. E isso levava-me a pensar. Levava-me a pensar em tudo o que não teria novamente; Os seus beijos de boa noite, os seus abraços apertados, as suas palavras carinhosas, os seus conselhos, as suas piadas sem graça. Eu não voltaria a comer um dos seus cozinhados, não voltaria a resmungar por o ouvir cantar desafinadamente, não voltaria a gritar com ele por ele entrar no meu quarto sem bater á porta. Eu não voltaria a ver o seu rosto, os seus olhos negros, o seu sorriso branco, não sentiria novamente o seu toque quente, não ouviria a sua voz novamente. E mais do que saudade, eu sentia medo. Um medo extremo e absurdo de esquecer-me das pequenas coisas, medo de me esquecer da sensação de estar nos seus braços, medo de me esquecer do timbre da sua voz, medo de me esquecer do seu rosto. Eu queria recordá-lo para sempre, queria falar dele aos meus filhos e dizer-lhes como me orgulhava de ser sua filha.

Ao chegarmos á igreja, abandonei o carro colocando os óculos de sol no meu rosto, numa tentativa de esconder os meus olhos chorosos, numa tentativa de não mostrar como me encontrava partida, se é que isso era sequer possível. Caminhei em passo lentos e de cabeça baixa até á entrada da igreja onde várias pessoas esperavam para poder entrar e ver uma última vez o meu pai.

- Elaine. – Escutei alguém chamar-me, e girei nos meus calcanhares vendo a minha avó paterna. Mal os meus olhos pousaram nos seus as lágrimas começaram a brotar pelos meus olhos, e baixei-me levemente para abraçar o seu corpo pequeno e frágil. As suas mãos trémulas apertaram-me mais contra si, e sentia soluçar contra o meu ombro tal como eu fazia contra o seu.

A minha avó fazia-me lembrar imenso o meu pai, ambos tinham várias parecenças tanto física como psicologicamente. Os olhos negros, o sorriso largo e certo, os traços do nariz. A forma gentil e carinhosa de ser. Ambos estavam sempre dispostos a ajudar, mesmo que se tratasse do seu pior inimigo.

Racism | njhOnde as histórias ganham vida. Descobre agora