T h i r t y - E i g h t

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T h i r t y – E i g h t

{Sugestão Musical: High Hopes dos Kodaline}

Elaine

Era gelado, um frio horrível que penetrava a minha pele e me deixava paralisada por dentro. Um vento forte arrepiava o meu corpo, fazia-me cambalear e lutar para manter os meus olhos abertos. Com o vento sentia pingas frescas na minha pele, escorriam e começavam a queimar o meu corpo pois a sua temperatura alterava de um momento para o outro. Chegava a ser inútil lutar contra o vendaval, a cada passo que conseguia dar em frente ele empurrava-me dois passos para trás.
Pequenos murmúrios lembravam-me da minha fraqueza, gritavam todos os meus defeitos, sem nunca referir uma única qualidade. Pintavam-me de imperfeição, uma tinta negra de impossível lavagem. Era esgotante, eu estava esgotada.

Travei os meus movimentos, deixando que o vento me empurrasse a uma velocidade sobrenatural. Acabei dentro de um paralelepípedo gigante, paredes translucidas que me deixavam vislumbrar sombras negras que subiam e desciam enquanto rodopiavam em meu redor numa dança que me parecia um ritual sagrado. O meu corpo tremelicava de medo, e tudo ficou pior quando água de uma cor negra começou a encher o recipiente onde me encontrava. Era extremamente turva, então mesmo que existisse algo mau de baixo de todo aquele negro, eu não iria saber. A água começou a subir a uma velocidade perigosa, e acabei por tentar trepar aquelas paredes escorregadias. Era uma tarefa árdua, árdua ao ponto de ser impossível.

- Não, não, não, não. – Pedinchei em sussurros quando a água alcançou o meu peito.

Uma corrente dolorosa atravessou o meu corpo, começava a sentir o meu ar escassear enquanto o mesmo era consumido pela água. Comecei a entrar em pânico quando a água alcançou o meu pescoço, e nesse momento comecei aos pulos tentando evitar que água me tocasse no nariz. Tentei encontrar algum modo de parar a água, mas não existia nada. Tentei bater nas paredes mas pareciam feitas de algum material indestrutível, comecei a perder força nos membros inferiores por conta da água. O líquido escuro alcançava agora o meu nariz e coloquei-me nas pontas dos meus pés evitando o pior. Mas não podes fugir para sempre, e foi com esse pensamento que enchi os meus pulmões de ar e me deixei entrar dentro da água turva.

Em poucos segundos fiquei sem respiração, e abri a boca sentindo a água a entrar dentro de mim, os meus pulmões doíam pela falta de ar e pela entrada de água. O meu corpo estava dormente, e no momento a seguir, simplesmente caí num sono eterno, não vi nada, não ouvi nada, não senti mais nada.

Estava morta.

Acordei sobressaltada, o som do despertador misturava-se com o som ofegante da minha respiração. Eu tinha um grito preso na garganta que não saía por falta de ar, era apenas um pequeno sussurro. O meu corpo tremelicante, quase como gelatina, encontrava-se dormente. E os meus olhos pareciam não distinguir coisa nenhuma. As minhas mãos apertavam com força os lençóis enquanto o meu cérebro gelava deixando-me totalmente perdida. Acabei por tentar mexer-me, mas era como se estivesse paralisada, não tinha controlo no meu corpo. Estava dormente, uma dor de cabeça impossível, e uma falta de ar que me levava a perdição. A minha visão estava turva, e acredito que seja porque estava a chorar, mesmo que não conseguisse sentir as lágrimas na minha cara. Comecei a ouvir o meu nome ser chamado num tom alto, uma voz forte masculina.

- Elaine! – Gritou.

Eu não distinguia a voz, estava demasiado perturbada para o fazer, tinha assistido á minha morte. Uma morte dolorosa, afinal, eu morri em desespero total. E o pior é que não era a primeira vez que em pesadelos extremamente reais eu me via a mim mesma a ser morta.

Racism | njhWhere stories live. Discover now