F o u r t y - O n e

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F o u r t y – O n e

{Sugestão Musical; Nobody da Selena Gomez} 

Elaine

Encarava o céu estrelado, sentada no canto da varanda, o meu corpo encontrava-se embrulhado numa manta que continha o cheiro do meu pai. A lua iluminava a caneca de café que aquecia as minhas mãos. Foi a única coisa que ingeri depois de o ver morto. Eu perguntava-me se no meio daquelas estrelas existia uma que brilhava pelo meu pai, como se vê nos filmes, nos desenhos animados, nos livros. Perguntava-me se se eu falasse para o ar a sua alma iria estar aqui, invisivelmente a ouvir tudo o que eu dizia. Perguntava-me se ele me conseguia ver de onde quer que ele esteja.

O meu telemóvel piscava incontrolavelmente, mesmo sendo duas e trinta e três da manhã, eram tudo mensagens dos elementos do meu recente grupo. No entanto, por muito que eu quisesse falar com eles e agradecer por estarem presentes num momento como este, a realidade é que não me apetecia falar, não queria sair, queria ficar para sempre fechada no meu quarto encasulada em recordações. Eu preferia centrar-me nas recordações saborosas, aquelas que me fazem sorrir mesmo sabendo que não se repetiram. Eu não queria lembrar-me do meu pai como o homem que se afastou, pediu o divórcio e foi encontrado morto com uma faca no meio da barriga e um monte de droga sobre a secretária. Era doloroso pensar nele assim, era doloroso pensar nele.

Eu não conseguia cair em mim, eu não conseguia acreditar que o meu pai realmente tinha partido. É algo tão ridículo. Porque é que temos de perder as pessoas que amamos? Porque é que não existe uma poção anti envelhecimento? Melhor, porque é que as pessoas que amamos são as que perdemos com mais facilidade? O ser humano deveria poder eternizar um limite de pessoas, marcando-as de alguma maneira mesmo que isso causasse desastrosos problemas no ecossistema, e na vida da terra. Assim eu poderia eternizar a minha família, e os meus amigos. Ninguém iria sofrer, ninguém teria de sentir este aperto no peito. Por outro lado, é sempre necessário chuva para aparecer um arco-íris, ninguém sabe do que a felicidade se trata se não tiver sentido a tristeza, porque só sabemos que somos felizes quando a tristeza bate na nossa porta.

Limpei as lágrimas teimosas que escorriam pelo meu rosto, dei o último golo na minha caneca de café e pousei-a no chão. Levantei-me segurando tremulamente a manta rosa que me cobria e acabei por entrar dentro do quarto. Sentei-me sobre a cama e agarrei no telemóvel guardado no bolso do roube. Desbloqueei o mesmo, existiam trinta e sete mensagens por ler, metade delas eram do Niall.

Eu sentia imensas saudades dele, mesmo que não tenha passado muito tempo desde a última vez que o vi. Foi tempo o suficiente para sentir falta dos seus braços em torno do meu corpo, e dos seus beijos carinhosos. Mesmo sabendo que ele não queria o meu amor, eu queria amá-lo e ser amada por ele. Neste momento mais do que qualquer coisa, era exatamente o que queria. Queria que ele me abraçasse e me dissesse que tudo iria ficar bem, mesmo que fosse uma mentira, apenas por ter sido dita por ele seria algo em que acreditaria.

Saltei de susto ao ouvir pequenos gemidos de dor vindos da varanda, agarrei o meu ténis – foi a primeira coisa que me apareceu na frente – e dirigi-me até às cortinas. Com lágrimas nas bochechas, respiração ofegante e mãos trémulas abri a cortina de uma vez, respirei de alívio quando vi o loiro de olhos azuis empoleirado nas grades da minha varanda enquanto tentava controlar a sua respiração acelerada.

- Laine. – Sussurrou encarando-me penoso.

Eu conhecia aquele olhar, eu sabia que ele estava com imensa pena de mim. Mas eu não queria saber, eu apenas queria que ele me abraçasse. Eu queria tanto que ele me abraçasse e me dissesse que tudo ficaria bem.

Racism | njhWhere stories live. Discover now