F o u r t e e n

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F o u r t e e n 

A minha cabeça latejava a cada passo que dava, na noite passada tinha consumido demasiado álcool. Tanto ou ponto de não me lembrar de absolutamente nada. Mesmo depois de um café forte, sem qualquer adoçante, as dores da minha cabeça continuavam. O meu aspeto não deveria ser o melhor, mas não podia faltar às aulas, caso contrário a minha mãe iria chatear-se a sério comigo.

A cada lufada de ar que entrava no meu corpo, a minha culpa aumentava. Eu não me iria esquecer tão cedo que por causa da minha pessoa, o meu irmão está naquela cama de hospital rodeado de máquinas, a lutar pela vida. Mesmo que quisesse arrancar essa culpa de mim, não era possível.

Para piorar tudo isto, acordei a meio da noite com dores infernais de cabeça e o corpo todo suado, após ter pesadelos atormentadores em que o meu irmão aparecia estendido num caixão e vozes gritavam na minha cabeça que tinha sido eu a matá-lo.

- Elaine. – Ouvi o meu nome a ser chamado num grito, o que fez a minha cabeça latejar tão forte ao ponto de eu ver as coisas tremidas. – Espera aí!

Impedi os meus pés de continuarem o seu trajeto, e fiquei com o meu olhar preso nas botas castanhas que cobriam os meus pés. Eram bem mais interessantes.

- Bom dia. – Niall saudou assim que chegou junto de mim.

Não lhe disse nada e simplesmente rodei nos calcanhares continuando o meu caminho na direção oposta. Que se lixe a escola, as faltas que vou levar, ou o sermão da minha mãe. Eu não estou com cabeça para ficar o dia inteiro sentada numa cadeira a olhar para o nada. A minha cabeça parece uma bomba em contagem regressiva. Sinto a minha pulsação na têmpora esquerda, e o meu estômago está às voltas.

- Elaine, onde é que vais? – Ouvi os passos do loiro falso atrás de mim. – Tens de ir às aulas. – Tentou alcançar o meu braço, mas eu rapidamente me esquivei dele.

Eu não posso deixar que ele se aproxime de mim, eu magoo toda a gente á minha volta. O meu irmão está mal por minha culpa, os meus pais andam tristes e depressivos por esse acontecimento, e quem está no centro disto tudo? Quem é a culpada?

Eu.

- Afasta-te Niall. – Murmurei sem parar de caminhar.

- Não Elaine. – Rosnou atrás de mim conseguindo agarrar o meu braço esquerdo, o mesmo onde aquele corte fundo ainda estava. Não consegui conter um pequeno gemido quando os seus dedos fizeram pressão contra a ferida tapada pela maga grossa da camisola. – Estás bem? – Perguntou preocupado quando viu a minha cara de dor perante o seu toque.

Eu limitei-me a assentir enquanto tentava soltar o meu braço do seu. Os seus dedos apertaram mais o meu pulso e eu mordi o meu lábio para não gritar.

- Elaine, o que é que tu tens aqui? – Murmurou.

- N-nada. – Balbuciei. – Por favor, larga isso. – Pedinchei num sussurro.

Os seus olhos cravaram nos meus enquanto os seus dedos fortes apertavam com mais força o meu pulso delgado. A dor nele era terrível, como se me estivessem a arrancar o pulso do resto do braço. Eu gemi semi serrando os olhos com a dor que sentia.

- Niall. – Guinchei em tom de suplicia. – Estás a magoar-me. – Sussurrei entre pequenos gritinhos.

O seu aperto suavizou e ele deu um passo na minha direção, puxou a barra da minha camisola para si deixando os nossos corpos mais próximos. Com a mão contrária á que agarrava o meu pulso, elevou-a á altura da minha cara dando-me uma pequena caricia.

- Estou a magoar-te mais do que tu a ti própria? – Perguntou num sussurro.

Engoli em seco ou ouvir as suas palavras e os meus olhos encheram-se de lágrimas. Baixei o olhar para a sua sweater preta, e suspirei.

Racism | njhWhere stories live. Discover now