T w e n t y - F o u r

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T w e n t y – F o u r

{Sugestão musical: The house that built me, Miranda Lambert.}

O sótão de casa sempre me trouxe imensas recordações. Tudo estava arrumado lá; desde os meus vestidos floridos às medalhas e trofeus que Isaac recebia nos tempos escolares, enquanto ainda era capitão da equipa de atletismo. Desde as minhas bonequinhas de trapos aos carrinhos de brincar. Tudo era delicadamente empacotado em caixas, ou simplesmente deixado como decoração da espaçosa divisão. Era um sítio deveras nostálgico, seria impossível entrar lá e não relembrar os muitíssimos momentos passados na minha infância e depois dela.

- Pirralha, que andas a fazer aqui em cima? – Isaac pergunta assustando-me quando fecha a porta do sótão.

- Apenas, relembrando momentos. – Encolhi os ombros não sabendo o que dizer.

Ele riu levemente e chegou-se perto de mim beijando a minha têmpora enquanto abraçava o meu pequeno corpo comparado com o seu. Isaac pegou num dos vestidos floridos e começou a gargalhar.

- É bem estranho imaginar-te com isto vestido. – Falou começando a rir novamente.

Olhei para ele de braços cruzados e puxei o vestido das suas mãos elevando-o á altura dos meus olhos para assim o poder observar melhor. O vestido em si era de cor branca, no entanto depois tinha distribuído por si pequenas flores amarelas, algo como girassóis.

- É bonito. – Murmurei voltando a coloca-lo na caixa.

- Piroso. – Comentou numa tentativa de me frustrar.

- Bonito. – Insisti.

- Piroso. – Continuou.

- Bonito – Cruzei os braços fazendo beicinho enquanto o encarava e piscava os olhos diversas vezes.

Ele sorriu e abraçou-me forte inspirando o perfume do meu pescoço.

- Caramba, se tu soubesses o medo que tive de te perder. – Sussurrou. – És tão importante para mim, Laine, tão mas tão importante, eu não via a minha vida sem ti.

Ele sorriu ligeiramente para mim puxando-me para o pequeno sofá empoeirado de cor castanha, já com algumas teias nos seus braços pelo imenso tempo a que já não era devidamente limpo. Na realidade, tudo neste sótão tinha um cheiro forte a mofo e o pó era palpável.

- Naquele dia, quando eles vieram para cima de mim e me ameaçaram eu senti-me sem chão. Eu só pensava no mal que eles te poderiam fazer. E eu adoro-te tanto Laine, mas tanto que eu não poderia colocar-te em risco. E não quero que sintas culpada, porque eu não me perdoaria se eles te fizessem algo. Eu nunca me iria perdoar. – Ele sussurrou com lágrimas a escorrer pela sua cara pálida. – Eu só quero que saibas que eu entrei naquele carro para te proteger, porque não suportaria a dor de alguma vez te perder. Tu percebes?

As lágrimas corriam pelas minhas bochechas a uma velocidade extrema. Por muito que eu quisesse falar, sentia uma impotência enorme para o fazer, era como se existisse um gancho a agarrar as minhas cordas vocais não as deixando produzir o devido som. O seu pequeno discurso fez o meu estômago cambalhotar ao lembrar-me das imensas vezes em que pensei que não iria fazer falta se alguma vez eu cometesse suicídio. O que é que seria do rapaz na minha frente?

- Isaac, eu... – A minha fala foi cortada pelo soluço que saiu pelos meus lábios. – Merda. – Sussurrei antes de me atirar para os seus braços num abraço apertado.

Eu não sei o que seria a minha vida sem ele. Ele era tudo para mim; Um pequeno guardião. Podem passar anos e anos que ele estará sempre aqui para mim. Podemos ficar décadas sem nos vermos que no reencontro tudo estará igual. Eu iria agarrar as suas mãos, como tanto gosto de fazer, e ele iria beijar a minha testa. Ele iria cheirar o perfume do meu pescoço, e eu iria tocar nos fios do seu cabelo escuro. E ambos iriamos dizer o quanto gostamos um do outro. Porque a nossa relação é assim mesmo; recheada de afeto.

Racism | njhWhere stories live. Discover now