F o u r t y - F i v e

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F o u r t y - F i v e

{Sugestão Musical; In my veins do Andrew Belle.}

O tempo em colorado encontrava-se ligeiramente encoberto, nuvens cinzentas cobriam o céu que outrora estivera de um azul semelhante ao dos olhos de Niall. Por essa razão, vestia uma camisola de malha negra que era parcialmente entalada na saia rodada de cor bordô, para evitar que o frio tomasse conta dos meus membros inferiores, duas meias de lã negra cobriam as minhas canelas deixando apenas os meus joelhos descobertos. Era a primeira vez que ia á escola depois da morte do meu pai, o meu estômago encontrava-se às voltas, gelado. Os meus lábios eram freneticamente mordidos, eu estava extremamente nervosa, por esta altura já todos sabiam do que havia acontecido.

- pst. – Franzi a testa. – pst.

Parei no meio do passeio e virei o meu corpo para trás encarando o vazio, era cedo, não passava das oito da manhã e a rua estava completamente deserta. O meu braço foi bruscamente puxado e senti as minhas costas embaterem na parede dura e gélida. Arregalei os olhos vendo nada mais que dois pares de olhos castanhos-escuros que me observavam cautelosamente numa expressão fria e carrancuda.

- És a Elaine, estou certo? – Perguntou prensando-me mais contra a parede velha, humedecida pelo orvalho matinal.

- O que...o que é que quer de mim? – Questionei num sussurro que arranhou a minha garganta.

Ele soltou uma gargalhada rouca, extremamente sarcástica, abafada pela mascara que cobria todo o seu rosto, deixando apenas os seus olhos escuros descobertos. Senti os seus dedos a grossos a esmagar os meus braços, e tranquei o maxilar de modo a suprimir o gemido que queria escapulir pelos meus lábios secos. O seu rosto aproximou-se perigosamente do meu e quase pude vê-lo a sorrir malicioso por debaixo do pano negro.

- O teu pai era um homem muito pouco inteligente. – Murmurou friamente arrepiando o meu corpo.

- O-o que é que sabe s-sobre o meu pai? – Perguntei tentando, inutilmente, desenvencilhar-me dos seus apertos.

- Muito pouco, mas o suficiente. – Começou. – Sabes, ele andava extremamente stressado, pobrezinho, não pensou duas vezes antes de aceitar tudo o que lhe poderíamos oferecer. Bom, o ponto aqui é o seguinte, o teu pai foi um cabrão que não pagou o que devia.

- Ele pagou com a própria vida, isso não é suficiente? – Questionei sentindo os meus olhos picarem pelas lágrimas acumuladas.

- A vida dele não vai fazer o negócio evoluir. – Cuspiu. – Ele deve muito dinheiro, dinheiro que a tua família vai repor, caso contrário vocês vão todos ver aquele idiota mais cedo do que previsto, entendes boneca?

- Ninguém vai pagar merda nenhuma. – Sussurrei friamente encarando os seus olhos. – Entendeste idiota? Queres matar-me? Mata! Isso também não trará de volta o vosso precioso dinheiro. – Cuspi.

Os seus olhos pareciam confusos, era como se não esperasse aquela ação vinda de mim, e a verdade é que nem eu mesma esperava tal coragem vinda de mim. Todavia, não havia muito mais a perder, eu estava despedaçada emocionalmente, sentia-me um corpo sem alma. E não seria um homem encapuçado com mania, que me iria meter medo, não depois de eu ver o meu pai morto, não depois de eu lidar com o medo todos os dias da minha vida. Era a verdade nua e crua, a partir dali seria complicado fazer-me temer, eu havia lidado com tantas coisas medrosas que parecia impossível ter medo de algo tão ridículo como um homem encapuçado com meia dúzia de lengalengas baratas. No final de contas, poderia não passar de um idiota sem nada para fazer da vida.

Racism | njhWhere stories live. Discover now