13. Carc'limar

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Uma dúzia de flechas foram disparadas contra o dragão, mas eram incapazes de penetrar em suas escamas, duras como pedra.

O dragão seguiu pelas ameias, derrubando e pisoteando os soldados kunes até chegar próximo ao local onde duas escadas ainda conduziam dezenas de soldados kedpirenses às ameias.

Kurdis fincou seu cajado na terra úmida e desatou os laços do cordão, liberando a foice de guerra.

Essas armas foram feitas para combater dragões, não é mesmo? Parece que sou o guldo certo para estar aqui!

Ao empunhar a arma com ambas as mãos, seu toque gelado provocou calafrios que desceram até os pés. Em seguida, apoiou a base da foice com a destra no chão e pegou o cajado com a esquerda. Um fio de energia quase transparente se formou entre o cajado e a foice. O dragão tinha o flanco direito virado para Kurdis enquanto seguia derrubando escadas com suas baforadas de fogo. O guldo atirou a foice, como se fosse um grande arpão. A ponta curva da arma atravessou a couraça, enterrando-se dois palmos para dentro do lombo do animal. O dragão se agitou elevando o longo pescoço para o alto e emitindo um urro e um forte jato de fumaça cinzenta.

Kurdis afixou os dois pés contra o aclive e inclinou-se para trás segurando o cajado com ambas as mãos. Era como se um simples pescador estivesse querendo pescar uma imensa baleia cascuda.

Vem! Cai logo, seu desgraçado!

Kurdis puxava com os braços e pernas, mas a maior parte da força vinha do próprio gancho telecinético. O dragão perdeu o equilíbrio e seu peso fez ruir uma parte das ameias. Finalmente, a foice escapou da carne, fazendo o sangue quente e escuro esguichar de forma semelhante ao sopro que sai do espiráculo de uma baleia.

Caramba!

O mago rolou duas vezes morro abaixo até se enroscar num arbusto espinhoso. O dragão bateu as asas para retomar seu equilíbrio e então esticou o pescoço na direção de Kurdis.

A foice voltou ao dono girando e por pouco não se causou um grave ferimento. Ficou-se no chão a um palmo de seu tórax. As mãos e a lateral do rosto de Kurdis ficaram cheias de espinhos fazendo seu sangue escorrer.

O dragão saltou da muralha, com os olhos amarelos vidrados na foice escura fincada na terra. Kurdis travou os dentes, agarrou a foice e rolou de lado, escapado do rasante do dragão. A dor logo foi anestesiada pelo formigamento gelado que percorreu seu corpo.

Algumas setas disparadas pelos arqueiros conseguiram atravessar as membranas das enormes asas do dragão, deixando pequenos furos que apenas irritaram a besta, sem chegar a prejudicar sua capacidade de voo.

Um grupo de arqueiros gritou ao ser envolvido pelas chamas do sopro do dragão.

O dragão pousou esmagando dos soldados sob suas patas dianteiras e com uma chicoteada da grossa cauda derrubou outros cinco. Daman ficou novamente de pé, apoiando-se no cajado e na foice.

A voz do dragão saiu como um sopro de sua garganta, enquanto sua boca ficou entreaberta e sem se articular. Os olhos, juntos, bem acima do focinho, eram expressivos e transmitiam desprezo e superioridade.

— Devolva-me o que é meu! Ou farei que se arrependa, pequeno guldo!

Dragões comuns não falam e o Deus-dragão está morto... Seria um descendente do antigo Deus? Ou apenas um...

O sopro do dragão envolveu o corpo todo de Kurdis, mas deferdeu-se das chamas. Era quase trivial para o mago se estivesse empunhando seu cajado.

— Você quer isso? — Kurdis arremessou a foice novamente como um arpão.

O Bruxo e a Foice SombriaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora