32. Chirram

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— Acorde, amigo! Chegamos.

Kurdis abriu os olhos e viu a luminosidade do dia passando pela porta aberta. O navio balançava suavemente, como se estivesse ancorado. Ele pegou o cajado e se levantou

— A máscara — apontou Kravel — não se esqueça.

O sol fraco passava pelas nuvens. Já não chovia e dava para ver pedaços de céu azul, aqui e acolá. Estavam em uma baía de águas calmas, havia praias e rochedos visíveis à distância.

Jargen vestia um manto cinzento com capuz, por cima da roupa. Ele subiu na amurada e entrou no esquife que estava suspenso pelas correntes.

— Vamos! Está na hora!

Hora de quê?

Kurdis entrou no esquife com alguma dificuldade, pois o manto justo não permitia afastar as pernas demais. Se assentou e segurou firme na lateral do barco quando os marujos liberaram a roda que prendia as correntes, fazendo o esquive descer bem rápido e se chocar contra a água.

— Caramba!

Jargen riu alto.

— Calma amigo, por enquanto estamos na parte tranquila.

Ele pegou os remos no soalho do esquife, posicionou nas argolas e começou a remar.

— Aonde estamos indo?

— Espere um pouco — disse entre uma remada e outra. O esquife se afastou do navio, deslisando sobre as águas claras da enseada. Kurdis se distraiu observando os corais no fundo, e muitos cardumes nadando.

— Já estamos longe o bastante. Daqui vamos ser levados pela Chirram até o navio dos Varuingos.

— Chirram?

— Melhor eu mostrá-la a você do que explicar — Jargen ficou de pé e começou a se despir.

Socorro! Esse cara é louco! Só me falta ser um pervertido! Será que Chirram é uma outra palavra para...

Jargen terminou de se despir. Kurdis desviou o olhar, mas não precisou fazê-lo por muito tempo. Jargen mergulhou nas águas esverdeadas da enseada. Kurdis observou ele nadar até o fundo até que sumiu de sua vista. Parecia ter entrado em uma fenda entre os bancos de coral. Ele demorou muito a voltar, Kurdis se virava, inquieto, de um lado para o outro do esquife, tentando ver onde ele estava.

Aquela história do Judu sobre ele ter guelras... Só pode ser isso! Todos pensavam ser loucura dele, mas deve ser mesmo verdade!

Uma macha grande e escura se movimentou vindo do fundo. Ela cresceu na direção do esquife, fazendo Kurdis arregalar os olhos. Uma corrente de água fez o barco balançar um pouco.

— Pelos Santo Gides!

A enorme criatura irrompeu a superfície da água. Sua pele era coberta de escamas em várias tonalidades de azul e cinza, rajadas de manchas roxas.

Isso é um peixe imenso? Não pode ser! Tem membros diminutos e uma longa cauda!

A criatura era cinco vezes maior que o barco, sem contar o comprimento da cauda. Kurdis ficou atordoado observando a criatura até que notou a figura de Jargen segurando nas protuberâncias perto do pescoço curto.

— Essa é minha amiga, Chirram! Ela não é linda?

— Sem dúvida! Mas o que...

— É um dragão marinho. Vamos, jogue essa corda para mim.

— Corda?

— Enrolada no casco, perto da proa...

Kurdis se deslocou cautelosamente para frente do barco, enquanto Chirram nadou suavemente se aproximando. Ela chiou e com sua fala arrastada articulou palavras em seu idioma:

O Bruxo e a Foice SombriaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora