16. Recomeço

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O senhor Kravel sumiu por alguns dias, mas Kurdis seguiu realizando seu trabalho sob a supervisão de Turzo. O supervisor vomitou algumas instruções para Kurdis e foi para os fundos do armazém. Kurdis aproveitou e saiu pela frente para respirar.

Esse Turzo é um babaca. Mas ao menos esse emprego está me dando duas refeições por dia, um teto e uma rede para dormir.

— Oi, Gustapo! — Kurdis chamou o marujo ao vê-lo passando no cais.

— Kurdis! Como vai indo o trabalho?

— Vai bem... — mentiu sem muita convicção. — Tem informações do senhor Kravel?

— Ele está fora da cidade. Antes que pergunte, não sei quando ele volta e nem sobre a sua relíquia. Como lhe disse antes, ele a levou consigo no dia em que chegamos.

— Estou precisando de uma faca afiada...

— Você não está recebendo um pagamento?

— Sim, mas eu estava enjoado ainda, no primeiro dia e caí, danificando algumas mercadorias. Então, o único pagamento que estou recebendo são dois pratos de comida por dia.

— Entendo.

— Poderia ser um formão de talhar madeira, no lugar da faca.

— Quando estiver no seu intervalo, o levarei na carpintaria. A casa Tannis é dona de muitos negócios...

— Quem são seus senhores? São muito ricos e poderosos?

— São ricos, sim, quanto ao poder, fica todo concentrado nas mãos do rei. Casas comerciais como a nossa precisam se esforçar para obter favores da nobreza. E quando falo em favores, pense em algo como pagar menos impostos, ou então, conseguir ser favorecido em um contrato de vulto. Enfim, estou falando demais, a política aqui em Dera é bem mais complicada que isso.

Ao longe, puderam escutar os berros de Turzo.

— Strobo! Strobo! — ele completou em deravo — Onde está aquele imprestável-lambedor-de-frieiras?

— Como está o seu deravo?

— Um pouco melhor, mas já entendi o suficiente. — fez um gesto indicando o interior do armazém — Obrigado! Nos falamos mais tarde!

Kurdis entrou no local e deu de cara com Turzo.

— Aí está você! Onde estava, strobo?

— Eu estava mijando.

— Vou reduzir sua ração de água! Não estamos pagando para ficar por aí mijando!

— É claro, senhor.

— Os barris. Para o fundo, todos eles.

— Mas senhor, ontem me pediu para trazê-los para a frente...

— E o que um strobo-mijão-filha-duma-lula entende de administrar um armazém? Apenas faça o que mandei se quiser continuar por aqui!

— Sim senhor...

Esse maldito está fazendo isso tudo de propósito. Se diverte às minhas custas. Imbecil! Vamos ver quem ri por último quando eu estiver com uma vara de condução.

Kurdis vinha rolando um barril inclinado pelo corredor. Deixou-o de pé e abaixou para pegar a madeira da caixa que tinha guardado entre as estantes. Concentrou-se para um feitiço para tentar diminuir o peso do barril.

Mas que droga! A condução é quase nula. O esforço foi em vão!

Guardou a madeira no lugar rapidamente assim que Turzo gritou com ele à distância. Voltou a rolar o barril pesado, inclinando-o um pouco.

O Bruxo e a Foice SombriaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora