22. Ventos da mudança

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Kurdis chegou na hospedaria escoltado por quarto guardas particulares da Casa Tannis. Antes de subir até seu quarto, foi falar com Djista.

— Eu vim acertar as contas. Vou partir.

Ela apertou os lábios e crispou as mãos.

— Isso foi por causa do meu irmão? Eu conversei com ele. Ele vai pedir desculpas...

— Não é isso. Eu não pude ser sincero com você antes, e também, não posso contar tudo agora. Meu passado...

— O que é?

— Meu passado é complicado. Não vou poder ficar mais, sinto muito.

— Ainda vou vê-lo? — ela indagou com os olhos aquosos.

— Eu não sei, Djista. Acho que vou ficar longe por uns tempos. Talvez nos vejamos... Talvez não.

Ao escutar aquilo, a mulher abraçou Kurdish com força. E em seguida levou seus lábios de encontro aos dele. Se beijaram.

— Vou fazer o possível...

Lágrimas escorreram pelo rosto de Djista, mas ela manteve a expressão firme.

— Bem... Adeus! E muito obrigado. Você foi muito boa para mim.

Kurdis deixou o pagamento e todo o dinheiro que tinha (não era muito) sobre a mesa e subiu até o quarto. Ali, desfez o feitiço que prendia a madeira no assoalho, retirou a foice de guerra empacotada e deixou a hospedaria.

Os guardas o levaram de volta ao barco que o levou ao escritório central da casa comercial, não muito longe da residência de Jargen Tannis.

O senhor Kravel estava no local.

— O Rainha Lucca irá partir para Jaffe em dois dias. Você irá embarcar na nau e deixar Dera.

— Ora, mas que conversa é essa? Por acaso vocês não tem honra?

— Acalme-se, você não será deportado. É apenas um movimento necessário para enganar nossos inimigos. Assim que o navio sair da cidade, irá se encontrar com outra nau. Ela o levará para a Zanzídia. É importante que você não seja visto por algum tempo em Dera, para acreditarem que você voltou para seu reino.

— Zanzídia? Mas eu detesto navegar.

— O plano já está traçado. Irá aproveitar seu tempo na Zanzídia para estudar nosso idioma. Sabe ler bem o deravo?

— Sou quase um analfabeto...

— Você terá cerca de três meses para aprender. Vamos mandar um bom professor.

— Por que isso?

— É que em três meses, o escriba tradutor do kedpirense da biblioteca real irá se aposentar. O senhor Jargen já está fazendo os movimentos para que você possa assumir esse cargo.

— Cargo de tradutor? Eu pensei que ele queria acabar com a concorrência.

— Tudo a seu tempo, meu caro. É preciso agir com muita cautela quando o assunto é esse tipo de ilegalidade. Não podemos ser descobertos, entende?

Kurdis encolheu os ombros — Suponho que sim...

Colocaram um colchão no sótão do escritório, no meio de pilhas de antigos livros contábeis e caixas com documentos. Ele dormiu ali e no dia de zarpar, sua despedida foi cuidadosamente planejada. Os seus colegas do armazém, Turzo e Gustapo estavam presentes.

O tempo estava bom, céu aberto, sem nuvens, e a brisa empurrava o mau cheiro do porto. A nau fora carregada no dia anterior, mas todos os estivadores estavam ali para vê-lo partir.

— Adeus! Agradeço pelo que fizeram por mim.

— Ora, strobo! Como já disse, você é um desgraçado sortudo! — disse Turzo.

— Finalmente você pensou direito! — disse Gustapo. — Ouvi dizer que sua relíquia foi vendida a um bom preço ao Duque de Corbal!

— Sim, com o dinheiro, vou poder voltar a Kedpir e recomeçar os negócios da minha família.

— Adeus, Kurdish! — disse Judu. — Se voltar a Dera, venha nos ver.

Barsu subiu no convés e apertou as mãos de Kurdis com firmeza. — Vou sentir sua falta! Que a Senhora dos Mares o leve em paz!

— Entregue essa carta para Djista.

— O que é isso, hã? Um pedido de casamento?

— Não se meta na vida dos outros, Barsu! — Nimbvo gritou lá de baixo. — Faça uma boa viagem, Kurdish!

— Obrigado! Fiquem bem! Fiquem todos bem!

Tule acenou — Adeus, Kurdish!

— Vamos de uma vez, seus mexilhões-fedorentos-e-lerdos! Ao trabalho! Ninguém aqui está recebendo para ficar papeando com um strobo-escroto-e-ingrato que montou na grana e nem pagou uma rodada de bebida aos colegas de trabalho. Strobo-sovina-filho-duma-strucha-cocha!

Kurdis deu uma gargalhada e percebeu que ia sentir falta daquele bando. — Adeus! Até a vista! — acenou vigorosamente para os estivadores que iam ficando distantes no píer.

O Bruxo e a Foice SombriaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora